domingo, 23 de maio de 2021





Autarquia

FEIRA DAS PASSAS ?
MOSTRA DE FRUTOS SECOS ?  
CORTEJO ANUAL DE CESTOS  
ENFEITADOS COM PÃO E FLORES DE PAPEL?

António Rebelo

A intenção de salvar o essencial da Feira de Santa Iria apesar da pandemia é louvável, mas o resultado anunciado é condenável. Após duas anulações seguidas, duas mostras de substituição, ditas de frutos secos e tasquinhas. Tudo por causa da pandemia, que já serve  até para justificar erros crassos.
Durante séculos, houve em Tomar, imediatamente antes da Feira de Santa Iria, a tradicional Feira das passas. Primeiro na Praça D. Manuel I, mais tarde na Rua dos Arcos, depois onde calhou. Era uma marca bem tomarense de excelentes produtos artesanais, com reputação nacional. Um símbolo também. De um concelho de boa produção frutícula. Onde isso já vai!
A degradação que se seguiu infelizmente ao 25 de Abril, por manifesta inépcia dos eleitos, abriu uma avenida aos nossos vizinhos, que não tardaram a aproveitar. 
Apesar da tremenda crise do figueiral de Torres Novas, provocada pela proibição da aguardente de figo, os torrejanos souberam fazer frente e logo montaram uma "Feira nacional de frutos secos". Uma vez que deixavam de poder destilar os figos, iam passar a vendê-los secos, como produto artesanal. Copiar o que sempre se fez no vizinho concelho de Tomar.
Toma lá que é para aprenderes! Tivemos o pássaro na mão durante séculos e eis que outros o apanharam. Em vez de produtos artesanais autênticos, produtos industriais à mistura, que o que conta é o marketing. Em Vez de Feira nacional das passas, em Tomar, Feira nacional de frutos secos em Torres Novas. São só vinte e poucos quilómetros ao lado. E eis que agora, a própria autarquia tomarense acaba por cair na armadilha. "Mostra de frutos secos" cheira a cópia da torrejana "Feira nacional de frutos secos", e pouco tem a ver, em termos de imagem de marca, com a multicentenária e tão tomarense Feira das passas. Ainda por cima com "tasquinhas", que como se sabe são originárias de Rio Maior. Em Tomar havia outrora era as tabernas ou tascas. Maldita pandemia!
Custa assim tanto manter-se fiel à tradição, organizando em Outubro a Feira das passas, como se sempre se fez, na Praça frente à Câmara, na Rua dos Arcos ou na Várzea grande, "a nova centralidade" segundo a senhora presidenta?
Convém evitar aglomerações? Pois então faça-se na Mata dos Sete montes, ou no sacrificado Mouchão, onde se podem controlar as entradas. "Mostra de frutos secos" é que não. A nossa Feira das passas tem o peso de séculos e por isso merece respeito. Se não nos dermos ao respeito, quem nos vai respeitar? Já pensaram,  senhoras e senhores autarcas, técnicas e técnicos superiores, que por este caminho um dia desta podemos vir a ter algures, numa cidade vizinha, ou mesmo mais longe,  um cortejo de cestos, enfeitados com pão e flores de papel, a que em Tomar chamamos "Tabuleiros" há séculos? Que esse evento até pode ser anual e com entradas pagas, coisas que não queremos ou não sabemos fazer em Tomar?
Pelo andar da carruagem, parece-me que já faltou mais.

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