quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A longa agonia da velha senhora politécnica

JÁ  VOTOU ???

Era uma vez duas jovens instituições, criadas no mesmo dia durante o Marcelismo, graças à influência de um prestigiado catedrático, que por acaso nasceu e cresceu em Tomar, Fraústo da Silva de sua graça. Uma das jovens foi para a Covilhã, a outra, sabe-se agora, teve a desdita de vir para Tomar.
A jovem da Covilhã, devidamente amparada pelas instâncias locais, soube seguir as normas do tempo e da ética, sempre virada para o futuro daquela comunidade serrana. Cresceu saudável, desenvolveu-se cultural e administrativamente, de tal forma que é agora, quase meio século volvido, a conceituada e respeitada Universidade da Beira Interior. Tão considerada que até já engloba o ensino da medicina.
A outra jovem, a que veio para Tomar, começou logo mal. Ao que constou na época, o ilustre catedrático nabantino que esteve na sua origem, quando convidado recusou assumir a sua liderança. A partir daí seguiram-se as negas, de tal forma que o primeiro dirigente máximo foi um respeitável catedrático de extrema-direita já na idade da reforma, com todas as consequências daí resultantes.
Ao contrário do sucedido na Covilhã, por estes lados foi um fartar vilanagem em termos de contratações. Todas as famílias locais ditas ilustres lá colocaram os seus protegidos. Tanto na liderança, como na docência, como na administração. Seguiu-se o que era previsível. Com um corpo docente que, nos novos tempos entretanto nascidos, até numa secundária seria de segunda ou terceira água, bem como uma oferta de cursos bastante específica pela negativa, o declínio que dura até hoje foi aí que teve origem.

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Foto O Mirante
O resto é bem conhecido, apesar dos dependentes da gamela fingirem que não percebem. Em 2017, terminada a primeira vaga de colocações no ensino superior, a jovem de outros tempos, que é agora uma  senhora precocemente envelhecida e cheia de mazelas, apenas logrou preencher 39% das vagas que oferecia, já de si poucas, quando comparadas com Leiria, por exemplo. Recebeu como habitualmente apenas o refugo do refugo. Aqueles candidatos que vêm para Tomar unicamente porque não conseguiram lugar em mais lado nenhum. Triste consolação. A única utilidade da velha senhora politécnica tomarense é a de carro vassoura, que recolhe os deixados pelo caminho nas outras candidaturas.
Perante isto, os que dirigem aquela casa, e muitos dos que comem àquela mesa, evitam qualquer mudança, decerto por pensarem que, mal ou bem, a barca continuará a navegar e os seus tripulantes a viver sem grandes sobressaltos. Há questões de ética, mas isso... O pior é se ocorre alguma tempestade. Não há bem que sempre dure, nem mal que não se acabe, diz o povo. Em 24 de Abril de 74, bem poucos eram os que  sabiam da tempestade que ocorreu no dia seguinte.
Se fosse uma instituição privada, a anquilosada senhora politécnica tomarense já teria sido declarada insolvente e internada compulsivamente. Longe do Nabão, por causa do clima demasiado húmido no inverno. Que puxa demasiado para as bebidas fortes. Para aquecer e para esquecer. Com lugar cativo no orçamento de Estado, pensam os bem instalados que a coisa vai durar. Que quando muito, acabarão dependentes de Leiria ou de Santarém. Oxalá não se enganem!
Porque, segundo por aí consta, nos meios geralmente bem informados, nem o IPL nem o IPS desejam aceitar tal "encomenda", tantas são as suas maleitas conhecidas. Algumas já incuráveis porque crónicas. E nenhum dos mencionados e hipotéticos poisos estaria disposto a assumir uma demasiado longa terapêutica simplesmente paliativa.
De forma que, sendo verdade que as instituições públicas não desaparecem, apesar da manifesta falência, a verdade é que o Messe de oficiais, o Hospital militar, o Quartel general, o Tribunal de círculo e o Tribunal da comarca desapareceram desta pobre terra. E nunca mais voltaram. Por isso, talvez não seja má ideia ir considerando todas as hipóteses.
Num país em que o futebol é rei, fica sempre bem ter em conta a conhecida resposta de um conhecido jogador: Prognósticos só no fim do jogo!
Pobre terra! Pobre gente!

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