segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Realismo, humildade, factos, deduções e previsões

Faltam pouco mais de 24 horas. Já votou?

PONTO PRÉVIO

Ensina-se nas escolas de jornalismo e alhures, sendo também mero senso comum, que "Os factos são sagrados, a sua interpretação é livre." Tendo como único limite o respeito total pela verdade. Assim, agora que começa a segunda e última semana de campanha eleitoral, surge como importante tarefa cívica, como dever de cidadania, informar os eleitores, emitindo opinião estritamente factual. Quer isto dizer, publicar conteúdo baseado em factos verificáveis e interpretados com rigor.
Daqui resulta que, mostrando os factos o que mostram, as conclusões podem não ser aquelas que agradam a quem escreve ou lê, sendo porém inevitáveis quando se age com coerência. Importa especificar este ponto, como forma de tentar evitar mal entendidos, do tipo "o gajo quer que o partido perca porque...". Na verdade, o que o autor destas linhas deseja é sempre o melhor para Tomar e para os tomarenses. Que isso nem sempre coincida com os interesses de alguns, não passa afinal de uma contingência da história local...

Factos quimeras e atitudes

O ponto da situação sobre a campanha eleitoral no domingo 24 à noite era este: 1 - Tudo a correr dentro da normalidade; 2 - Pequenos partidos convencidos de que vão eleger pelo menos um vereador, com a CDU a falar em dois; 3 - Alguma esperança de vitória nas hostes do PSD; 4 - Optimismo excessivo entre os apoiantes do PS, persuadidos de que Anabela Freitas vai ganhar com maioria absoluta. 5 - Argumentos para justificar tal crença, A - "O Delgado é fraquito"; B - "Anabela é mulher, entre candidatos homens, o que tem muita influência"; C - "O PS local tem obra feita e vai beneficiar do "efeito geringonça".
Como votante sentimental, ex-eleito e ex-dirigente socialista, também gostaria de estar assim tão optimista. O raio dos factos é que não consentem. Vejamos:


Estes são os dados verificáveis.  O resto é música para adormecer. Que dizem eles?

I - O PS alcançou mais de sete mil votos nas três primeiras consultas eleitorais, entre 1976 e 1982.  Apesar disso perdeu para o PSD/AD em 1979 e 1982;
II - Essas duas derrotas seguidas estiveram na origem da acentuada descida posterior, para apenas pouco mais de quatro mil e quinhentos votos;
III - O meteoro Pedro Marques obteve duas vitórias seguidas, ambas com mais de nove mil votos, sendo que a segunda, em 1993, (há 24 anos!), constitui mesmo o melhor resultado de sempre dos socialistas tomarenses (12.924 votos);
IV - Com o afastamento algo agitado, conquanto justificado, de Pedro Marques, em 1997 o PS entrou manifestamente em crise, a qual se prolongou até à tangencial e inesperada vitória de 2013, com resultados na casa dos cinco mil votos, por vezes até menos;
V - Essa evidente crise do PS propiciou o longo reinado social-democrata em Tomar, que se prolongou entre 1997 e 2013, com evidentes sinais de debilidade na sua parte final.
O que ocorreu nas eleições de 2013 continua por explicar cabalmente, prejudicando a visão das coisas, no que diz respeito a alguns responsáveis socialistas. Olhando para o quadro respectivo, salta à vista que, naquela consulta eleitoral, o PS não ganhou coisa nenhuma. Teve praticamente os mesmos votos de 12 anos antes  -5.479 em 2013, 5441 em 2002. Foi o PSD que perdeu, sofrendo a 2ª maior derrota da sua história, só ultrapassada pela de 1976, (4.336 votos), quando os eleitores ainda andavam medrosos, porque íamos soit disant a caminho do socialismo...
Convém ter presente esta situação assaz singular em política: O PS Tomar obteve sucessivamente, a partir de 1993, 6.954 votos, 5.441, 4.236, 4.756 e 5.479. Ou seja, foi praticamente sempre a descer, com uma ligeira subida final, e apesar disso está agora no poder. Comparativamente, durante esse mesmo lapso de tempo, o PSD registou sucessivamente 10.916 votos, 15.163, 9.995, 7.959 e 5.198. Estes números dão bem a ideia do aparatoso colapso social-democrata em 2013. Caiu de quase oito mil para pouco mais de cinco mil votos. Mostram igualmente que a elevada taxa de abstenção bruta então registada, (abstenção + votos brancos + votos nulos), que ultrapassou os 55 em cada 100 eleitores inscritos, foi provocada por eleitores social-democratas desiludidos, uma vez que os eleitores socialistas habituais votaram todos, segundo mostram os números.
Tendo em conta o que antecede, sem fazer previsões arriscadas, não custa deduzir, baseado nos quadros supra, que:
1 - O eleitorado do concelho de Tomar é maioritariamente laranja.
2 - Não há à priori, em circunstâncias normais, razão nenhuma para o PS vencer, apesar da "obra" realizada, de Anabela ser Anabela e de dizer que tem um projecto para Tomar.
3 - Afirmar nesta altura que o PS vai vencer em Tomar com maioria absoluta não passa de um desejo recalcado. Julgo que ninguém está a ver o PS regressar ao resultado de 1993, mesmo tendo em conta o recente reforço de alguns IpT, entretanto queimados por sucessivas derrotas. E todos os resultados socialistas seguintes são insuficientes para vencer, caso o PSD também recupere, como é lógico e se detalha no ponto 4.
4 - O PSD pode ganhar em Tomar, sobretudo caso a abstenção não ultrapasse os 40%, porque quatro anos volvidos sobre a infeliz candidatura Carrão, os candidatos são outros. Junto com o ex-presidente infeliz, desapareceram de facto os motivos que determinaram o tombo de 2013. A mesma água nunca passa duas vezes debaixo da mesma ponte, pelo que os laranjas podem voltar aos oito mil eleitores e/ou mais, de 2009 e eleições anteriores.

Aqui chegado, as leitoras e  leitores gostariam de conhecer as previsões cá do escriba? Elas aqui vão:

PSD    3
PS       2
CDU   1
CDS   1

Não é o que eu gostaria. Apenas o que se pode arranjar, atendendo aos artistas em cena, aos dados disponíveis e às circunstâncias. A uma semana do desfecho.
Como usava escrever o socialista Vítor Cunha Rego "As coisas são o que são".

3 comentários:

  1. Com este resultado o avençado Gaio já pode receber o pagamento das avenças pelo seu trabalho no blogue, pode também retomar a função nos serviços da câmara (está de licença graciosa). O luis ferreira desforra-se e vinga-se da presidente e do ps e terá no horizonte um lugarzito na estrutura camarária delgada, também como paga do seu contravapor quotidiano. Estes e a rapaziada da igreja mariana e da caridade ficarão felizes da boavida. O arqueólogo vai para vereador pensar Tomar e o Américo vai ter outro alvo nos seus ataques. Como se vê tudo rapaziada fixe. E o povo que se lixe! Pobre terra! Pobre gente!!!

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  2. Senhor Zé dos Anzóis, estamos em campanha eleitoral, as pessoas posicionam-se, e isso é democracia. Focalizar as suas críticas nos interesses pessoais deste ou daquele é tempo perdido. E injusto. Quanto ao Sr.Luís Ferreira, é diferente. Um republicano desde os 11 anos, maçónico assumido, socialista da linha dura, seria caricato (para não dizer vergonhoso), que problemas de índole pessoal com uma socialista, uma camarada (a presidente) o levasse a desejar mal à esquerda política em Tomar. Isso significaria que, políticamente, é um bluff- para não dizer oportunista. Sou da esquerda, já fui muito maltratado, em disputas políticas, por pessoas da minha área, mesmo aí em Tomar e antes do 25 de Abril, e isso nunca constituiu razão para abandonar os horizontes mais gerais das minhas convicções. Temos o exemplo do professor Rebelo, bastante crítico da "classe" política democrática (também o sou), bastante recetivo a teorias de direita, como atestam alguns textos que aqui reproduz, e que escarrapachou aqui, neste blogue, o seu voto pela esquerda (no PS). Por "sentimentalismo". Uma declaração que me comoveu. No meu modo de ver, são descabidas as insinuações que faz ao Sr. Gaio (que não conheço). Como não acredito que o socialista radical Sr. Luís Ferreira esteja a desejar a derrota do PS.

    As minhas previsões para Tomar em 1 de outubro, em Tomar, são:
    PS - 3
    PSD- 2
    CDU- 2

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