sábado, 9 de setembro de 2017

Precatar-se contra um empecilho-mor?

Causou grande celeuma a recente decisão da presidente Anabela Freitas que, sem consulta prévia ao seu parceiro de coligação, resolveu alterar as normas de escolha do Provedor do munícipe. Só o texto de Tomar a dianteira 3 sobre o assunto já ultrapassou a 850 visualizações. Agora imagine-se o que irá pelo facebook e assim.
Convenhamos que o caso não é para menos, de tão mal gizado que foi, numa altura que não podia ser pior. Estamos a três semanas da próxima consulta eleitoral. Tanto assim que o vereador da CDU, de longe o mais experiente membro do executivo em termos políticos, resumiu numa palavra bem escolhida toda a situação. Declarou-se perplexo.
Tudo só para garantir a nomeação, sem problemas de maior, de Pedro Marques como provedor do munícipe? Conquanto também tenha embarcado nessa de que o primeiro provedor seria o líder dos IPT, pensando melhor resolvi mudar a espingarda de ombro. Parece-me que o objectivo é outro e que Pedro Marques poderá ser, isso sim, o próximo chefe de gabinete, caso o PS vença em Tomar.
No meu tosco  entendimento, o que se procurou acautelar com as alterações aprovadas, foi apenas a hipótese de uma eventual futura oposição coligada vir a impor um provedor do munícipe claramente adversário da maioria relativa. Assim uma espécie de empecilho-mor. Qual o interesse? Evitar autênticas batalhas campais quando o futuro chefe de gabinete se transformar em presidente-sombra, com a ida de Anabela Freitas para a Assembleia da República, a sua velada ambição, ficando ao mesmo tempo a governar o concelho por intermédio do chefe de gabinete, mesmo eventualmente contra a vontade de Hugo Cristóvão, o obrigatório sucessor.
Análise demasiado rebuscada? Poderei concordar, se fizerem o favor de arranjar outra explicação plausível para tão estranho comportamento de Anabela Freitas, numa altura tão pouco favorável para as suas aspirações. Conforme referiu um homólogo de Pedro Marques, dificilmente algum profissional do direito virá a aceitar aturar os munícipes várias vezes por mês, por apenas 400 euros. Logo, não será esse o futuro papel do líder IpT, o que justifica a prudência da candidata socialista. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Como dizem usualmente os gauleses, depois da hora já não é a hora. Tarde piaste, diz-se por cá. E Anabela Freitas sabe-o muito bem. Tal como está longe de ignorar que candeia que vai à frente, alumia duas vezes.

3 comentários:

  1. Vendo bem e sendo realista....
    A política é uma negociação permanente em democracia. É certo que, não raras vezes, alguns acordos deviam fazer corar de vergonha as partes. Recordemos a crise do "Irreversível" Dr. Portas que resultou, fundamentalmente, na promoção deste para o governo não cair, crise que, segundo especialistas, causou milhões de prejuízo ao erário público. A ética aqui não foi guia. O que se está a passar entre PS e IDP é normalíssimo. Havia um conflito na área política do PS e acordaram-se. Não há perplexidade nenhuma neste entendimento, como não há no acordo PSD-CDU em Loures nem no acordo que sustenta o actual governo do nosso país - a Santa Geringonça. Queiramos ou não, a negociação política é um toma-lá-dá-cá. É natural que o Dr. Pedro Marques, líder dos IDP, venha a ocupar lugar de relevo no futuro executivo se ganharem as eleições.

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    1. Totalmente de acordo. Há no entanto uma vertente tomarense nessa matéria. Os eleitos nabantinos procedem quase sempre como se os cidadãos fossem todos uns idiotas, incapazes de entender as coisas mais simples. Prova disso é que nunca explicam as suas opções de forma clara e completa. Como neste caso PS/IpT. As alterações ao regulamento para a escolha do provedor do munícipe foram feitas com que objectivo real?

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  2. Na minha opinião, todos podem ter várias leituras das coisas e até terem razão, pois só o tempo a vai dar.
    Agora quanto ao tal Provedor, que Dr. Rebelo e bem disse, fazer tanta falta, como uma mosca quando estamos a ler o jornal, ou mais ou menos, mas bem aplicada a ideia.
    Só teria interesse, se o dito fosse cidadão com vontade de exercer o cargo, com independência e disponibilidade, para se incomodar e incomodar, mas sobretudo tem de obter largo consenso das forças politicas, do momento.
    Não vejo assim qualquer utilidade agora, de levar o assunto a discussão publica, como foi, só o entendo por falta de outro assunto, mais interessante agora para ser discutido.
    Algumas vezes a razão por evidente é desvalorizada.

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