domingo, 13 de fevereiro de 2022

 



Gestão autárquica - museus

Para além do bom senso e do entendimento comum


O acervo do museu municipal João de Castilho, legado João Martins de Azevedo, com muitas obras de Carlos Reis e João Reis, que o município torrejano bem gostaria de ter, por se tratar de conterrâneos seus, foi desmantelado e recolhido durante os mandatos PSD da época António Paiva. Mais de 10 anos passados, continua aparentemente a aguardar melhor local de exposição, uma vez que o  primitivo, no 1º piso do edifício do turismo municipal, continua disponível e praticamente devoluto. Entretanto as telas dormem engavetadas, algures na travessa Gil de Avô. Ou já estarão alhures?
O prometido Museu dos tabuleiros continua na cabeça dos seus mentores, que ainda não terão conseguido arranjar um local, nem estabelecer com rigor o conteúdo de tal espaço expositivo.
O Museu do brinquedo, anunciado desde há mais de 20 anos, e entretanto armazenado no ex-convento de S. Francisco, continua a aguardar melhores dias, enquanto os herdeiros do doador manifestam na Câmara a sua discordância com os termos da doação.
Neste contexto multi-museológico, digamos assim, a srª presidente tem vindo a mencionar algo que no mínimo parece pouco cauteloso. Anunciou que a autarquia subscreveu um protocolo com uma entidade privada, até agora pouco ou nada conhecida em Tomar, nos termos do qual a Câmara cede a essa entidade (gratuitamente? com aluguer mensal? renda anual? a título  definitivo? com que base legal?) o edifício "Casa dos tectos", onde ainda funciona a Escola profissional, propriedade do Município, para nele ser instalado um "museu templário".
De tão insólita decisão resultam consequências várias e graves, que importa esclarecer. Antes de mais, 1 - Qual o acervo do futuro museu templário? 2 - Alguém já garantiu ao Município o valor e a autenticidade do espólio a expor? 3 - Quem vai assegurar financeiramente o funcionamento do museu? 4 - Haverá entradas pagas?
Além de tudo isso, que não é nada pouco, antes pelo contrário, há uma outra questão. O citado protocolo implica a inevitável mudança da Escola profissional, há anos prevista para parte das instalações do antigo Colégio Nun'Álvares. Como se fosse a coisa mais natural deste mundo, Anabela Freitas, no uso das suas competências, já anunciou que o Município terá de contrair um empréstimo bancário para financiar as indispensáveis obras de requalificação, uma vez que não há financiamento europeu disponível para tal fim. Dado o comportamento costumeiro da actual maioria socialista, vai ser coisa para uns milhões de euros, em época de acentuada subida de juros.
E vem mais uma série de perguntas: Porque razão não há fundos europeus disponíveis, tratando-se de re-instalar uma escola de ensino profissional, reconhecida pelo Ministério da Educação? Ao anunciar o empréstimo como indispensável para realizar a obra, e a subsequente transferência da escola, depois de já ter  assinado um protocolo que estabelece a transferência da actuais instalações escolares, em condições ainda por conhecer, não estará a srª presidente a contar  com o ovo no oviduto da galinha? Mesmo dispondo de maioria absoluta no executivo, quem lhe garante que a Assembleia Municipal vai aprovar o empréstimo? É outra vez a chamada "técnica Tejo Ambiente", em que a srª presidente garante que seja como for a Câmara tem de pagar, porque já se comprometeu? E haverá uma maioria de deputados municipais para ir de novo nessa conversa? É só uma pergunta.
Há também uma outra dúvida. Numa autarquia que necessitou de cinco anos para requalificar uns simples sanitários públicos (os da Várzea grande); numa autarquia que já leva mais de três anos para fazer o projecto do parque empresarial da Sabacheira; vai haver tempo para contrair o empréstimo bancário, adaptar as novas instalações, equipá-las,  transferir a escola e instalar o tal museu, ainda durante este mandato? Ou a "encomenda" vai ficar para quem vier a seguir?
Pode ser que tudo isto seja agora boa política e excelente gestão municipal. Endividar-se para instalar um espólio privado que os tomarenses em geral desconhecem e nem sequer sabem de onde virá. Apenas se conseguiu apurar até agora  que o seu actual director é um tal "comendador de Sintra", de uma dessas novas ordens ditas templárias. Pode ser até que seja o almejado tesouro dos templários. Pode ser, mas a mim não me parece. Estarei a ser de novo demasiado agreste?
A fechar por agora, cabe recordar, para os mais distraídos e hipnotizados por certas falácias, que quem terá de pagar o previsto empréstimo e os respectivos juros, são os contribuintes/consumidores tomarenses, que ainda cá residirem. Para instalar um museu particular? Por alma de quem?

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