terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

 

Imagem 1 -  googlemaps2021

Imagem 2 - Itinerários de Antonino, ou Antonino Augusto (Séc III) na Península Ibérica. Como se vê, de Sellium, nem sinais. No itinerário XIV/XVI apenas constam Olisipo, Scallabis, Conimbríga e Bracara


Alegadas ruínas do fórum de Sellium

Por favor esclareçam os leigos na matéria

Numa altura em que decorrem as obras de edificação do futuro centro de interpretação daquilo que a autora do achado chama "Ruínas do fórum de Sellium", causou algum impacto a crónica anterior. Vários leitores confessaram-se surpreendidos, o que não deixa de ser estranho, quando se sabe que a polémica sobre as alegadas ruínas dura há mais de três décadas. Ainda assim, procurando esclarecer na medida do possível, junta-se uma imagem de satélite da googlemaps, a qual permite uma ideia mais precisa da zona em causa.
Após anos e anos cobertas de vegetação, começadas as obras, a Câmara e o empreiteiro têm sido extremamente cautelosos. Está tudo vedado,  e entrar ou sequer espreitar, nem pensar. A tal ponto que, conforme também já aqui foi referido, a jornalista Isabel Miliciano, directora do Templário, já pediu publicamente à Câmara acesso às obras de S. João e às do pretenso "fórum romano de Sellium".
Enquanto tal não acontece, caso venha mesmo a acontecer, a imagem um supra mostra o que via o satélite, antes de começadas as obras. Que é afinal muito pouca coisa. Do lado esquerdo, no sentido norte sul, o que parece ser o alicerce de um longo e espesso muro, entrecortado por dois outros transversais, bastante mais pequenos.  Mais para a direita, orientado sudoeste-nordeste, um outro alicerce, semelhante a um M com a perna esquerda partida. Há também, esparsos na imagem, vários alicerces em forma de L deitado.
Na ausência de outros elementos de arquitectura (cantarias, colunas, pavimentos, paredes, mosaicos, etc.) Seria de toda a conveniência que a srª arqueóloga autora do alegado achado viesse explicar aos leigos na matéria, entre os quais o autor destas linhas, de preferência por escrito, porque palavras leva-as o vento, o que se vê realmente na imagem de satélite, e como é que a partir daí chegou à conclusão de se tratar das ruínas do fórum de Sellium.
Seria um belo contributo para a história local, uma vez que, no estado actual dos conhecimentos, ninguém sabe em bom rigor onde se situa ou situava Sellium, um opidum romano que estará mencionado num dos itinerários de Antonino, quanto mais agora o seu centro cívico. Aquilo a que a srª arqueóloga resolveu apelidar de fórum, logo desde do início, apesar de inexistirem provas factuais de existência de um tribunal, resultado de um foro = fórum em latim, no caso a competência para aplicar o direito consuetudinário.
Vamos ter finalmente direito às almejadas explicações técnicas detalhadas? Ficará para aquando ou depois da inauguração do centro de interpretação? Que tencionam mostrar ao público nesse tal centro? Imagens de realidade virtual, tipo Ben Hur, Os dez mandamentos, Quo vadis, ou A queda do império romano? 

ADENDA, às 11H19 de 16/02/2022

Para mais informação, estilo neutro, como os leitores tomarenses tanto gostam, recomenda-se esta peça da mediotejo.net, datada de 1 de Março de 2021.
 Aí se podem ler estas afirmações de Anabela Freitas: "Na primeira fase... ...vão ser criados percursos para visitação através de passadiços. Na segunda fase será tratada a fase de musealização com criação de conteúdos."
Confirma-se assim que aqueles alicerces não têm nada que valha a pena visitar. Prova disso é que vão ser "criados percursos para visitação", e depois "musealização com criação de conteúdos." Realidade virtual, em suma.
Se gosta de comparar com os vizinhos, basta digitar ruínas villa cardilio torres novas, onde não impera a megalomania nabantina
Boa leitura!.

6 comentários:

  1. Com mais qualidade existe este video com drone, antes das obras:
    https://youtu.be/oYu3RJapmQs

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  2. Boa noite. Espero que esteja tudo bem. A via romana atravessava Tomar, a Sellium de outrora. A esse respeito entre outros consulte-se o link http://sweet.ua.pt/lsl/h/OArqueologoPortugues-p313-346-sobrePtolomeu.pdf

    No período da Reconquista e a acreditar na existência do "Infortunium" de Tomar de 1137, a via XVI que atravessa Sellium estava impedida, pelo que a solução passava pelos caminhos secundários que, vindos de norte, vão para o que é hoje Óbidos. Daí inflete-se para Santarém (Scallabis) e para Lisboa (Olisipo). Também gostava de ver tanto o forum como as obras em S. João Baptista. Quanto mais não seja, a curiosidade é um defeito que tenho. Obrigado

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    1. Ninguém põe em causa que a via romana passava na zona onde hoje é Tomar. Há mesmo uma ponte romana -a das Ferrarias, em S. Lourenço. Quanto a saber onde é que passava essa via, isso já é outra história. Os próprios especialistas concordam que as XXXII milhas romanas, indicadas por Antonino entre Conimbriga e Seilium são fantasistas, pois ninguém saber a quanto corresponde uma milha romana ou "millia passum".
      Nestas condições é de uma extraordinária pontaria ter encontrado durante umas modestas escavações, com fracos recursos materiais e humanos, o centro cívico de uma civita, que se calhar nem nunca passou de opidium. Em todo o caso, não há notícia escrita de ter tido uma mansão, como havia em Scallabis ou em Braccara. E até em Anmaia (Marvão).

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    2. Bom dia. O artigo cujo link enviei faz uma tentativa de verificação de distâncias entre as povoações o que o torna desde logo interessante. Obrigado. Cumprimentos.

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    3. Sobre esse tema das vias romanas, e posterior uso medieval recomendo vivamente este artigo: https://run.unl.pt/handle/10362/10150

      ... e este https://viasromanas.pt/ , especialmente o seu mapa de vias (pedir permissão ao autor)

      Do que tenho lido, não existem certezas sobre o traçado da via XVI , mas os autores mais recentes inclinam-se para um traçado a ocidente de Tomar (Beselga/Sabacheira), mas claro com poucas evidências

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    4. Todas as achegas são úteis e todas as hipóteses mais ou menos plausíveis. Mantém-se contudo a dúvida inicial: Onde era realmente Sellium?
      Onde agora estão a enfeitar as ruinas assim chamadas? Em Cardais?
      Ponte e Mantas, que mais escreveram sobre o assunto, sugerem que a actual ponte velha pode ter origem romana. É um absurdo.
      Até às obras do tempo do infante D. Henrique, como os próprios nomes indicam, os terrenos onde agora está a parte velha da cidade eram um pântano com duas zonas. A mais estreita, a norte era a Várzea pequena. A outra, a sul, a Várzea grande. Não estou a ver os romanos lançarem uma ponte com saída para uma zona inundada, um charco, durante boa parte do ano. De resto as ruínas da ponte romana, dita das ferrarias, em S. Lourenço, aí estão para provar isso mesmo. A travessia do rio era portanto mais a sul e as ruinas romanas referidas por Vieira Guimarães, mais tarde citado por Mantas, eram afinal as da Nabância, em Cardais. Monumento nacional desde 1910, foram desclassificadas a pedido desta câmara, apoiada num relatório encomendado a Batata, no qual este afirma que não conseguiu encontrar as ditas ruínas.
      Além de outras vantagens, a actual maioria socialista nabantina está ajudando a reescrever a história local, para a tornar mais consentânea com os pontos de vista de alguns dos seus integrantes. Haverá quem goste, mas não é nada limpo.

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