quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Bairro 1º de Maio, antigo Bairro Salazar

População - emigração

Números que não batem certo e uma lacuna demasiado óbvia

No documento "Estratégia local de habitação de Tomar", elaborado com o apoio técnico da Câmara, e referido na crónica anterior, podem ler-se estes dois excertos:
"Perda de população superior a 8,5% (3.400 residentes entre 2011 e 2019, mais de 25% das perdas demográficas do Médio Tejo. Apenas Abrantes registou uma perda superior." (Página 11) 
"Entre 2011 e 2019, o concelho perdeu mais de mil habitantes por via das migrações, tendo sido superado apenas por Abrantes, observando-se contudo uma recuperação em 2019, onde Tomar apresentou o quarto saldo migratório mais elevado da região." (Página 12)
Ignora-se onde foram os autores iniciais colher estes e outros dados, (fornecidos pela Câmara, no âmbito do citado apoio técnico?), o que não permite verificar se foram ou não ajeitados, vulgo "martelados".
Certo, mesmo certo, é que nos documentos de resultados eleitorais publicados pelo MAI, um dos ministérios do governo, entre 2011 e 2019 desapareceram dos cadernos eleitorais do concelho de Tomar 3.744 eleitores, e não só os 3.400 residentes mencionados. Em 2011 eram 38.070, em 2019 estavam reduzidos a 34.326. A pergunta é esta: Se desapareceram dos cadernos 3.744 eleitores, como é que o documento citado só regista menos 3.400 residentes? Os restantes 344, tendo em conta que são sempre mais os residentes que os eleitores, evaporaram-se?
Durante esse mesmo período de tempo, segundo o estudo mencionado, "o concelho perdeu mais de mil habitantes por via das migrações." Abstraindo a usual e inaceitável imprecisão de "mais de mil", que podem até ser 1.999, ignora-se também como chegaram a tal conclusão. Os outros 2.400 residentes desaparecidos morreram? Nesse caso teríamos uma média de 300 óbitos anuais.
Procurando ser mais preciso, entre 2013 e 2021, durante os mandatos do PS, foram-se do concelho 3.418 eleitores, uns por óbito, outros porque migraram. Eram 37.310 em 2013, passaram a ser só 33.892 em 2021. Mais próximo portanto dos 3.400 avançados no documentos, todavia sem envolver o anterior mandato do PSD.
Entretanto a Terra continua sempre a girar, e entre os cadernos eleitorais de 2021 e os de 2022, há uma diferença de menos 187 eleitores em Tomar (33.892 em 2021, 33.705 em 2022) ou seja menos 3.605 eleitores no concelho, desde que o PS conquistou o poder em Tomar. E a fuga continua.
Surpreende por isso, e de que maneira, a enorme lacuna do tal documento de estratégia. Conforme já vimos, ignora-se como porque não explicam, mas foram até ao detalhe dos "mais de mil habitantes por via das migrações", que o concelho terá perdido entre 2011 e 2019, a crer nos números que fornecem. E não lhes pareceu indispensável, nem mesmo útil, afinar a análise, procurando saber porque migrou essa gente? Suspeito, muito suspeito. Até porque, sendo um número redondo e não muito grande em termos estatísticos, teria sido fácil conseguir uma amostragem representativa a questionar. Terá havido indicações precisas para não irem por aí? A actual maioria teve medo de vir a ficar mal na fotografia?
Nestas coisas como em quase tudo, diz o povo que "apanha-se mais depressa um aldrabão que um coxo". Agora imagine quando os aldrabões são em simultâneo algo coxos em termos intelectuais. A verdade custa sempre muito a roer.
Poderão alguns, sobretudo os mais próximos da gamela,  alegar que se trata de minudências sem grande importância. Pode ser. Mas convém ter sempre em conta que com dados falsos, só por mero acaso se podem conseguir conclusões verdadeiras. E sobretudo na política, conclusões falsas pagam-se caro.

1 comentário:

  1. As pessoas migram porque não têm onde habitar, diz a senhora presidente!
    Que falta de atenção, Antonio Rebelo!

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