terça-feira, 3 de outubro de 2017

No melhor pano cai a nódoa

"Em Amsterdão as mulheres reclamam sentinas públicas"


As holandesas organizaram uma jornada de protesto no passado sábado dia 23 de Setembro, para denunciar a falta de instalações sanitárias para mulheres. Uma resposta à multa aplicada a uma delas, por ter urinado em plena via pública.
Eram alguns milhares no Facebook, mas muito menos na rua, para reclamar em Amsterdão (Holanda) o direito de urinar com decência e de dispôr enfim de urinóis públicos femininos. Mesmo poucas, as "Dolle Minas", as rebeldes holandesas inspiradas pelo combate de Wilhelmina Bruker, îcone da luta feminina no século XIX, resolveram chamar a atenção dos seus compatriotas.
Na sexta-feira, 22 de Setembro, sob os olhares interrogadores dos residentes e dos turistas, presentes na Leidseplein, em pleno centro da cidade, algumas jovens sentadas em penicos, parcialmente tapadas por cortinas, nas quais se lia "ocupado",  protestavam contra a recente sentença de um magistrado da cidade, que achou justificada a multa aplicada em 2015 a uma jovem que, por falta de instalações sanitárias, foi levada a aliviar-se em plena via pública.

Em 35 sanitários públicos, só três acessíveis a mulheres

Retomando a tradição do movimento feminista, que no início dos anos 70 reclamava creches, aborto livre e o direito de as mulheres se matricularem em qualquer universidade, as Dolle Minas resolveram voltar à luta. O protesto dos penicos, em Amsterdão, foi completado com uma mobilização nacional no dia seguinte, e as fotos de mulheres de cócoras, fazendo as suas necessidades, enviadas à ministra da justiça.



As feministas consideram que a falta de sentinas públicas numa cidade moderna e os comentários do juiz, segundo os quais "em caso de necessidade muito urgente, uma mulher pode utilizar os urinóis reservados aos homens", são indecentes. Bebendo água ou cerveja, com balões amarelos legendados "A necessidade é mais forte que a lei" ou "A última gota", as "Minas" explicavam a quem passava que Amsterdão já contou com 200 urinóis nos anos 70, mas agora está reduzida a apenas 35, entre os quais só três acessíveis a mulheres.
A capital dos Países Baixos teve no entanto, durante muito tempo, uma comissão dos urinóis públicos. Criada em 1928, com representantes unicamente masculinos, teve bastante tempo para meditar sobre os grandes eixos da política a seguir, uma vez que só foi extinta em 1985. Apesar de tal longevidade, nunca optou entre as vantagens e os inconvenientes eventuais dos sanitários femininos. Em contrapartida, considerou que a redução do número de urinóis masculinos criaria um problema: são um local bastante procurado para rápidos encontros nocturnos de homossexuais.

O nível de civilização de uma sociedade vê-se nas suas instalações sanitárias

A solução para acabar com a discriminação das mulheres nos sanitários públicos podia ter vindo de França, com as Sanisettes para os dois sexos, descobertas já tarde pelos especialistas municipais. Aconteceu contudo que o município recusou a sua instalação, considerada demasiado cara. Entretanto, colocados perante as recentes reivindicações, os autarcas esclarecem que, salvo erro, nunca ninguém contactou o serviço de equipamento urbano reclamando instalações sanitárias para mulheres.
Explicação ridícula, considera Dunya Verwey, de 70 anos, que explica no jornal Het Parool que "o nível de civilização de uma sociedade vê-se nas suas instalações sanitárias", acrescentando que "nessa matéria os Países Baixos ficaram muito lá para trás".

Jean-Pierre Stroobants, Le Monde on line, 29/09/2017
Tradução e adaptação de António Rebelo, UParisVIII

Nota de Rodapé
Nesta questão de sentinas públicas, estamos muito pior que em Amsterdão. Mas em contrapartida somos muito mais liberais. Não consta que algum habitante do Flecheiro tenha alguma vez sido multado por se aliviar onde calha. E no entanto...



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