terça-feira, 10 de outubro de 2017

Uma bizarria eleitoral

(Este texto foi escrito na tarde de 4 de Outubro, antes de ter ido lavar a alma)

Face à teimosa arrogância de alguns socialistas mais exaltados após a magra vitória nabantina, Tomar a dianteira resolveu munir-se de paciência e consultar as fontes oficiais. Descobriu assim algumas curiosidades, que passa a partilhar.
São detalhes que deverão levar os responsáveis socialistas locais,  sobretudo Anabela Freitas, a encontrar formas de ultrapassar a frágil posição política em que se encontram, apesar da maioria absoluta. Com efeito, os 40,22% obtidos em Tomar, que garantiram maioria absoluta ao PS, são enganadores e caso único nos distritos de Castelo Branco, Leiria, Lisboa e Portalegre. Trata-se por conseguinte de um autêntico milagre do método de Hondt.
A prova desse milagre reside em dois concelhos. Em Lisboa, o PS de Fernando Medina conseguiu 42,02% dos votos expressos e mesmo assim está em minoria. Têm apenas 8 mandatos, contra 9 de toda a oposição.
Algo semelhante acontece no Crato, distrito de Portalegre. Aí, o PS venceu com 43,02%, mais quase 3% que em Tomar, e tem apenas maioria relativa. Os seus dois eleitos terão de enfrentar os 3 da aposição, uma vez que o executivo conta com 5 lugares.
Estes dois casos evidenciam que na realidade a maioria absoluta do PS em Tomar tem pés de barro mal amassado. Se a oposição soubesse e a população ajudasse, seria até bem possível que houvesse eleições intercalares. Como estamos em Tomar, a tendência geral será, como até aqui, para comer e calar, pois segundo me disse há algum tempo um conhecido autarca, agora reeleito nas listas socialistas, "não vale a pena refilar, porque quanto mais refila, pior é." Que bela democracia a nossa! Só se devem criticar os outros, nunca os da nossa cor. Quando assim não se faz, ouve-se uma outra frase nabantina muito emblemática: "Nem parece ser tomarense." Realmente curioso e sintomático que, uma vez eleitos, os candidatos se considerem os senhores da terra. Quem não pense como eles, não é tomarense. Exactamente como antes do 25 de Abril. 
Conclusão provisória: Embora tendo ganho e obtido maioria absoluta, os eleitos e outros socialistas locais, o melhor que têm a fazer é tornarem-se mais humildes, mais tolerantes, ouvirem os outros e irem procurando políticas mais adequadas ao combate à crise, que assola Tomar há mais de vinte anos. Caso assim não aconteça, vamos todos sofrer as consequências. E o futuro de alguns eleitos pode vir a revelar-se bem menos risonho do que muitos pensam. Citando Lincoln, não é possível enganar toda a gente durante muito tempo.


8 comentários:

  1. E que texto mais hábil e tortuoso!!! Estava mesmo com a veia muito cava. Se fosse outro até pensava que o Professor estava ressabiado e cheio de azia. Felizmente lavou a alma e está quase purificado! Já pode ir molhar a coxa no Agroal!!
    E a título de informação, olhe que até já houve maiorias absolutas por um voto apenas. Há uns bons pares de anos atrás em Castanheira de Pera com o então árbitro Graça Oliva (PsD 3 PS 2) e em Manteigas com o Zé Manuel Biscaia (Psd 3 Ps 2)!!! E esta, hein?!

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  2. Não vejo francamente o que tenha o texto de hábil ou tortuoso. Dele não consta, que eu saiba, que não houve já maiorias por um voto apenas.
    Ressabiado eu? Cheio de azia? Porquê? Para quê? Não será antes a sua manifesta falta de tolerância, apesar de bem disfarçada, que está em causa nesta sua análise?
    Escreva sempre, que a sua escrita tem qualidades. As suas afirmações é que às vezes me desiludem um bocado. É a vida, diria o Guterres.

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  3. Pois é, ilustre Professor mas nem sempre o podemos iludir, apenas desiludir um bocado! Mas temos de nos habituar às suas desilusões, que são constantes para quem não segue pela via que indica! Lamente-se! E antes a vida que a morte ou pior sorte!!!

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  4. É tempo perdido tentar desviar o diálogo para anexos sem importância. O essencial parece-me poder ser resumido numa frase seca: Sem planos não vamos longe e os autarcas vencedores não têm planos adequados dignos desse nome. Infelizmente.

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  5. Está na hora do Ilustre Professor Rebelo usar esta tribuna para dar a conhecer os planos (que considera) adequados para a melhor governação dos autarcas vencedores. Tomar precisa da sua avalizada e crítica voz e agradecerá com reconhecimento. E esses vencedores ficarão bem balizados na sua actuação. Fica o desafio.

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  6. Noutra terra e noutra altura, ou nesta mas com outra gente, a sua sugestão seria excelente e seguida com todo o gosto. Infelizmente, as coisas são o que são. Já me disponibilizei junto de quem pode decidir e senti que não era desejado, nem pouco mais ou menos. Assim sendo, resta-me malhar enquanto puder, tendo sempre presente o velho aforismo "água mole em pedra dura, tanto dá até fura." Só não sei se ainda será enquanto eu estiver vivo e activo.

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  7. O Ilustre Professor vai-se embora no fim deste mês de Outubro para passar o Inverno daqui nos longínquos Brasis, será um malhar através do oceano, um malhar suavizado pelas águas oceânicas atlânticas. Tanto mar! diria o poeta cantor. Mas não deixe de malhar, de apontar caminhos e de propor soluções para os problemas que detectou e vai detectando. A sua malhação certamente vai ter eco nos vencedores, que assim irão melhorando a sua governação. Pode ser que essa sua malhação permita que, daqui a quatro anos, os vencedores de agora voltem a vencer. Ou seja façam um bom trabalho e sejam depois recompensados. Força Ilustre Professor, malhe com jeito e a preceito!

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  8. Muito agradecido pelo seu apoio e pelas suas amáveis palavras. Continuarei a fazer o que puder em prol desta terra, mesmo se incompreendido.
    Fidel Castro (com quem não simpatizo em termos de prática política) terminou a sua própria defesa no caso de falhado assalto ao quartel de Moncada, com uma frase que se tornou célebre. Disse ele, com aquele ar teatral próprio dos espanhóis, decerto herdado dos pais galegos, "Condenem-me! Pouco me importa. A história absolver-me-à!." Faço minhas essas palavras, com uma ressalva -não cometi nem estou a cometer qualquer crime. Por isso a história tomarense não terá que absolver-me. Apenas que me dar razão, quando eu já cá não estiver.

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