O amigo FERROMA, que também assina TEMPLÁRIO é um honrado político tomarense a residir alhures. Sabe muito destas coisas, pois até foi um dos fundadores do MRPP, nos idos de 60, e teve a bondade de enviar um comentário para Tomar a dianteira, que pode ser lido aqui, o qual termina com estas considerações: "Lamento sinceramente a não eleição do eng. Bruno Graça. É injusto.Um paradoxo. Decididamente não cai no goto dos tomarenses -vá-se lá saber porquê."
Antes de mais, algo do foro íntimo: Conforta porque faz bem à alma, constatar que um outrora acérrimo adversário político de Bruno Graça, que era então da UDP - OCMLP, lamenta agora uma derrota da formação do ex-inimigo político. É a prova de que o tempo sara todas as feridas. E ainda bem.
Indo à substância do escrito, tem razão o comentador. Também Tomar a dianteira, que em tempo oportuno aventou essa hipótese, lamenta o malogro eleitoral da CDU em Tomar, que igualmente considera injusto e paradoxal. Não por mera simpatia pessoal ou sequer política. Tão só por constatar que o vereador Bruno Graça trabalhou muito e bem, sem quaisquer proventos pessoais, em prol da cidade e do concelho. É sobretudo a ele que se deve a resolução de alguns dos magnos problemas do mandato que agora vai terminar. Mercado, espaços verdes, ParqT, ADSE, chefe de gabinete... Não é pouca coisa. Porquê então o evidente desastre eleitoral?
No entender de Tomar a dianteira, por três motivos principais, a saber: A - O feitio difícil do vereador, B - A política da CDU C - A demagogia tomarense. Vamos ao detalhe.
A - Cada qual tem o seu feitio, a sua idiossincrasia, as suas "pancadas". Calmo, educado e cordato, o vereador da CDU é contudo pouco empático, frio, nada expansivo, hirto, por vezes algo ríspido no seu relacionamento, sobretudo com dependentes hierárquicos. Em parte, talvez herança da docência e do serviço militar.
B - Na óptica de Tomar a dianteira, ao integrar a geringonça, o PCP não terá pesado devidamente todas as vantagens e inconvenientes. É extremamente raro, mas aconteceu. Considerado desde sempre pelos seus eleitores como um partido honrado, de palavra, de luta e de protesto, ao aceitar apoiar um governo PS, mesmo sem nele participar, para muitos sujou a sua reputação. Afrouxou a luta, esqueceu o passado e deixou de ser naturalmente um partido de protesto, conforme tem vindo a ser demonstrado. Para muitos eleitores isso é imperdoável. E custou milhares de votos, bem como 10 câmaras a menos.
C - Em Tomar a coisa foi ainda mais complexa, devido a um terceiro factor, exclusivamente local. Desde há muito que, nos meios bem informados, se conhece a situação real na autarquia. Quem lá manda na prática são algumas chefias e regra geral os funcionários não são propriamente escravos do trabalho. Abundam os feudos. Ao tentar alterar esta relação de forças, que ao longo de vários mandatos tem sido alimentada por atitudes demasiado demagógicas dos executivos, cujos membros têm primado nesta área pela pusilanimidade, Bruno Graça meteu a mão num vespeiro. Pretendeu extinguir, ou pelo menos limitar, a usual política das palmadinhas nas costas, dos subsídios, festas, papas e bolos para enganar os tolos. Já os latinos diziam que audaces fortuna juvat -a sorte ajuda os audazes. Neste caso não ajudou. Problema de conjuntura.
É pena. Porque agora somos nós, contribuintes tomarenses, que vamos ter de pagar as festas, os subsídios, as papas e os bolos. Mesmo não sendo tolos, O Bruno não perdeu grande coisa. Só terá de arranjar outra sarna para se coçar. E terá deixado pelo menos uma frase lapidar para a história política local: "Não é com festas que se resolvem os problemas da cidade e do concelho."