Disse anteriormente nestas linhas estar convencido de que, por falta de informação adequada, a senhora presidente continua a insistir em duas vertentes que só podem vir a causar elevados prejuízos a Tomar. Acrescentei que essas duas vertentes são A - As obras úteis mas não prioritárias; B - As obras que não são úteis nem prioritárias, sendo que todas acarretam elevados encargos para a autarquia, sem quaisquer contrapartidas financeiras, excepto o inicial financiamento de Bruxelas. Donde resulta forçosamente que, mais tarde ou mais cedo, serão os contribuintes tomarenses a assumir esses encargos.
É do domínio público que uma das decisões da senhora presidente, logo na primeira parte do mandato, foi a adopção das 35 horas semanais para todos os funcionários municipais, medida que, tendo em conta as complicadas finanças da autarquia, poderá ter sido tudo menos prudente. Quiçá ter-lhe-à facilitado a reeleição, que os funcionários sabem agradecer a quem os protege. Mas coloca-a agora perante uma situação deveras complicada, para a qual manifestamente não dispõe de solução adequada: Há excesso de pessoal nalguns nichos, mas falta em sectores essenciais e não há disponibilidade orçamental para contratar mais funcionários.
Para quem ainda possa duvidar de que, ao contrário do proclamado durante a recente campanha eleitoral, Tomar está no rumo errado, o quadro seguinte é assaz elucidativo e até assustador:
ELEITORES INSCRITOS NOS CADERNOS ELEITORAIS
Elaborado com dados oficiais do Ministério da Administração Interna, o resumo supra permite uma série de conclusões. Eis as principais:
1 - O argumento segundo o qual Tomar perde população porque está no interior do país não passa afinal de uma balela, sem consistência alguma. Há concelhos muito mais interiores, como Ponte de Sor ou Elvas, que apesar disso perderam percentualmente menos população que Tomar, entre 2009 e 2017: -7,44% em Ponte de Sor e - 5,14% em Elvas, para -10,09% em Tomar. Porquê?
2 - A situação torna-se ainda mais preocupante se considerarmos só o último mandato, 2013 - 2017: Com uma perda de -6,68%, Tomar encabeça de longe os sete concelhos constantes do quadro e todos do interior. Só Abrantes, há vários mandatos gerido pelo PS, se aproxima, com -5,16%. Porquê?
3 - Em termos de aumento brusco da hemorragia populacional, temos o exemplo de Pombal que, com mais população que Tomar (55 mil eleitores contra 35 mil), perdeu 2.946 eleitores entre 2013 e 2017, o que contrasta com apenas -279 entre 2009 e 2013. Apesar disso, o PSD continua a governar, tal como o PS em Tomar.
Ignoro quais sejam as causas do problema demográfico em Pombal. Palpita-me contudo que serão praticamente as mesmas de Tomar: erros de gestão autárquica, provocados por deficiente informação e nítida falta de adaptação aos novos tempos.
Erros de gestão porque, ao beneficiarem sobretudo funcionários, pensionistas e outros assistidos, os autarcas responsáveis criam, sem disso porventura se darem conta, condições para que os eleitores não dependentes do erário público resolvam adoptar o velho dito popular segundo o qual, quem não está bem, muda-se. E em Tomar não se está comparativamente muito bem, porque o custo de vida nabantino é mais gravoso que nos concelhos vizinhos. Basta comparar no mercado ou no custo da água...
Antigamente, devido à carência de transportes e de informação, com a concomitante mobilidade muito reduzida, os munícipes estavam obrigados a aceitar o bom e o mau, residindo e consumindo na localidade onde exerciam profissionalmente. Actualmente tudo isso mudou. Há transporte individual, há boas estradas e há informação abundante, embora nem sempre de qualidade. Donde resulta que, ao constatar que as condições de vida são melhores noutro concelho qualquer, o cidadão não hesita e dá corda aos sapatos, indo comprar ou mesmo residir alhures.
Tendo em conta o que antecede, uma de duas: Ou a senhora presidente não conhecia estes aspectos do problema e por isso ignorava as consequências da sua gestão, pouco adequada aos tempos que correm, na hemorragia populacional; ou já sabia tudo isto, mas continua convencida de que está no rumo certo, aumentando os encargos financeiros do município, por considerar que não existe qualquer relação entre a sua gestão autárquica e o êxodo da população, que em Tomar tem vindo a acentuar-se. De tal forma que já ocupa o primeiro lugar destacado na região. No primeiro caso, ainda há esperança que as coisas mudem. Basta conseguir boa assessoria e ter a coragem de mudar para melhor. No outro, o futuro de Tomar é negro.
A continuar a tendência actual, (e tudo indica que assim vai ser), dentro de dois mandatos o concelho contará menos de 30 mil eleitores. Como não pode haver despedimentos na função pública, continuará a autarquia com 520 funcionários, Um funcionário municipal por cada 58 habitantes. Como no Alentejo profundo, onde as autarquias são os principais empregadores e o declínio da economia local é evidente. Nessa altura, se ainda por cá andar, lá terei de recorrer ao velho dito popular A cadela não pode com tanto cão.
Ao que se chegou. Pobre terra. Pobre gente.
Sei bem que o texto supra é muito desagradável para quem foi eleito para gerir capazmente o município. Sobretudo porque só diz verdades e avança factos verificáveis. É claro que não me agrada nada apontar erros a eleitos pelo partido do qual me sinto mais próximo. Mas, como escreveu o poeta e militante socialista da primeira hora:
Mesmo na noite mais triste
Em tempo de solidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não
Manuel Alegre, Trova do vento que passa (adaptado)
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