quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Renunciar à arrogância, adoptar a humildade

O primeiro ministro António Costa acaba de sofrer uma das piores humilhações da sua vida política, na sequência do discurso excepcionalmente duro, mas justo, do presidente da República. Disse que não demitia a MAI, mas aceitou a sua demissão. Eximia-se a pedir desculpa, mas acabou por pedir. Falava como se tudo tivesse corrido normalmente, mas acabou por reconhecer que houve falhas graves. Alardeava sobranceria, mas tornou-se mais humilde, pelo menos por agora e na aparência. Poder, a quanto obrigas! É uma evidente mudança de estilo.
Em Tomar, felizmente não houve até agora catástrofes com mortos, e oxalá nunca tal aconteça. Há contudo duas vertentes que convirá ter em conta. A principal, a evidente tendência autoritária da senhora presidente da câmara que, tal como António Costa até ontem, alardeia sobranceria satisfeita e auto-suficiência, mas denota também uma pouco cómoda susceptibilidade exacerbada. Prova disso é  um aspecto que me parece condenável em qualquer político, sobretudo na área do poder local. A sra. Dª Anabela Freitas confunde crítica exclusivamente política com ataques, ou até com ofensas pessoais. Óbvia carência de capacidade de encaixe. Tem todo o direito, bem entendido. Mas dificilmente irá longe na política por tal caminho.

Uma foto do escriba destas linhas na Ilha da Páscoa, em pleno Oceano Pacífico, a cinco horas e meia de avião de Santiago do Chile, a qual permite perceber melhor como consegue ele ver a situação nacional e tomarense de longe. É tudo afinal uma questão de distância e de treino.

A outra vertente é a triste situação em que se encontra o concelho. Apesar da senhora presidente alardear optimismo, garantindo que o primeiro mandato "foi para arrumar  a casa", o concelho e a cidade é que estão a ficar cada vez mais arrumados, no pior sentido do termo. Para disso se convencer, basta ter presente que, entre 2005 e 2009, no tempo do malvado do Paiva, (para usar a linguagem PS), o eleitorado concelhio cresceu 206 inscritos. Entre 2009 e 2013, em plena crise e com os malandros do PSD (novamente linguagem PS), na pior gestão camarária dos últimos tempos, o mesmo eleitorado diminuiu 1.414 inscritos. Finalmente, ultrapassada a crise, no excelente mandato da sra. Dª Anabela Freitas, entre 2013 e 2017, que segundo a própria correu muito bem e serviu "para arrumar a casa", desapareceram 2.496 eleitores. Há portanto qualquer coisa que não bate certo na argumentação da senhora presidente, agora reeleita com maioria absoluta de circunstância. (O que não surpreende, uma vez que Isaltino Morais também venceu em Oeiras. Com maioria absoluta, apesar de tudo.) Ultrapassada a confusão do último mandato do PSD, graças à vitória PS e à subsequente coligação com a CDU, como explicar que durante um mandato que correu bem e já sem crise a nível nacional, tenham desaparecido 2.500 eleitores em Tomar, praticamente o dobro do mandato anterior?
Agora cheia de optimismo e de satisfação, por ter conseguido inesperadamente uma curiosa maioria absoluta, porém sem planos consistentes, nem vontade de os encomendar, como tenciona a sra. Dª Anabela Freitas vir a dar conta do recado? Insistindo no império da palavra? Na conversa fiada para mobilar? A tomada de posse num cine-teatro, não augura nada de bom.
Diz o povo, na sua infinita sabedoria, que "Quando vires as barbas do vizinho a arder..." António Costa não usa barba, bem sei, mas mesmo assim sai bastante chamuscado da catástrofe dos incêndios. E a política da imagem parece ter os dias contados.
Os acólitos da senhora, cuja principal qualidade não parece ser a capacidade analítica objectiva, vão decerto, como é usual, tentar minimizar a questão da perda dos 2.500 eleitores durante o mandato passado. Estarão no seu papel. Bajular dá sempre dividendos. Mas olhem que a coisa é grave. Querem ver?
Considerem, como mera hipótese de trabalho intelectual, que cada um dos 308 concelhos do país, uns muito maiores, mas outros muito mais pequenos que Tomar, perdia em cada mandato autárquico 2.500 eleitores. Dava o bonito total de menos 770 mil eleitores ao fim dos quatro anos. O que implicaria que, 13 mandatos decorridos, não restariam mais eleitores no país (770.000 x 13 = 10 milhões e 10 mil eleitores, um pouco mais que a população do país.). Bela perspectiva, não é? E o concelho de Tomar fica muito bem na fotografia, não fica?
Para aqueles defensores socialistas mais empedernidos, que não conseguem tirar os óculos partidários para passar a ver as coisas como elas são na realidade, publica-se um quadro comparativo de cinco municípios da região, todos geridos por eleitos PS entre 2013 e 2017:


Em Leiria, que pertence a outra categoria, aumentaram os eleitores, porque fica na faixa costeira. Em Ourém, a perda de eleitores (1.197) foi menos de metade de Tomar, porque têm Fátima. 
Nos casos de Abrantes e sobretudo de Torres Novas, ficam onde? Têm o quê?

Tal como no caso dos sanitários, da sinalização turística, da limpeza do Nabão, do saneamento, do custo da água, da ligação ao Convento,  da ausência de planos convincentes,  e por aí adiante, deve ser Tomar a dianteira que está a ver mal. Tal como nas tragédias deste verão, os eleitores tomarenses se calhar dão corda aos sapatos apenas por causa do clima.
É o caso de quem escreve estas linhas, todavia com duas ressalvas importantes: A - Continua a pagar impostos e taxas em Tomar; B - Continua a votar  em Tomar. 

3 comentários:

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  2. Sejamos rigorosos! Foi a ministra que se demitiu. Fez bem. O primeiro-ministro tem denotado um equilíbrio notável perante a miríade de "abutres e hienas na TV (e não só) a fossarem nos cadáveres e incêndios".
    Quanto à perca de eleitores em Tomar, sejamos francos: Tomar, nos últimos 40 anos sofreu uma razia no seu tecido económico que não pode ser ignorada. Deixei Tomar ainda antes de Abril 74 (1971) com a perceção clara de que a situação por aí era aterradora no que dizia respeito a empregos, já que todas as indústrias viviam uma crise sem remédio - e sem retorno. Como se veio a provar.

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    1. Também já foste um quadro político de relevo. Por isso não podes ignorar que foi o PM a dizer à MAI para apresentar o seu pedido de demissão no Conselho de ministros de sábado. Ela apenas se antecipou, talvez por despeito.
      Sobre a situação tomarense, o que se pretende é mostrar que estamos a definhar mais rapidamente que os concelhos limítrofes, devido a manifesta incapacidade dos sucessivos executivos.
      Entendamo-nos! Que executivos PSD ou CDS sejam arrogantes, sobranceiros, auto-suficientes, manifestando desdém por quem não pense como eles, não me surpreende. Está na sua natureza, sendo tempo perdido tentar que um porco deixe de roncar.
      Tratando-se de uma câmara PS, ainda acalento alguma esperança numa mudança de atitude, embora não ignore que alguns eleitos locais em listas PS têm tanto de socialistas como eu de cardeal.

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