quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Todos amigos, todos da mesma freguesia, mas a política local torna-nos inimigos

Crónica de António Freitas

Confesso que tenho saudades dos idos de 1983, quando tomei assento pela primeira vez numa Assembleia de freguesia. Foi em Alviobeira e depois repeti sete vezes. Naquele tempo não se dava tanta importância às forças partidárias saídas do voto. O presidente escolhia o seu secretário, ou o seu tesoureiro. Falava-se, votava-se, por vezes impunha-se este ou aquele, mesmo contra a sua vontade. Olhando à aptidão para o cargo. "Olhe que este tem melhor caligrafia, sabe fazer atestados, redige bem, é bom em contas e tem vagar. Olhe que aquele é melhor para presidente da Assembleia. Sabe conduzir uma reunião, é culto, sabe de leis e lê muito..." Depois, feitas as escolhas, todos confraternizávamos no Café do Alberto, com um copo à frente.
Era a nossa querida terra e era a defesa dela que estava acima de tudo. Com o passar dos anos, a coisa começou a deteriorar-se. De Tomar, as Comissões políticas, o pior veneno para as freguesias, começaram a ditar ordens e a dar instruções. Para eles não interessam os valores. Interessa se o partido A, B ou C tem X ou Y eleitos e em que cargos estão. "Ganhámos a presidência da junta aqui, o secretário da junta alí, o presidente da assembleia acolá." Que intromissão!


Depois há uns espertos que querem "tacho" e até uns míseros 300 euros mensais na junta lhes fazem jeito, mesmo não fazendo a ponta de um corno em termos práticos. Sou do tempo em que o desempenho de funções autárquicas era gratuito. Apenas e só serviço público puro e duro. Hoje em dia, não se elege para cargos nas Assembleias de freguesia olhando aos valores, às capacidades de cada um. Olha-se para a cor do partido que representa.
Na recente tomada de posse da Assembleia de freguesia de Casais-Alviobeira, a cara dos presentes era de velório! (ver foto) Um ambiente de cortar à faca. Uma revolta. Não foi para isso que se instituiu o poder local democrático. O povo escolhe, vota, o método de Hondt dá a representatividade, mas há que olhar acima de tudo aos interesses da terra e às aptidões dos que foram eleitos. E depois dar o braço, dar a mão, dialogar, deixar a campanha eleitoral lá fora e pensar que "somos todos da mesma terra" e que aconteça o que acontecer nunca mais teremos outra.
Se eu podia formar uma equipa ainda melhor, porque tenho de me sujeitar ao ditames das concelhias, ou dos profissionais da política, que se estão marimbando para as freguesias, que até agregaram ou extinguiram?

Texto editado por Tomar a dianteira

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