Vida local/Informação
Estamos outra vez como há 50 anos
Dizem os (raros) ecos aqui chegados que houve alguma incompreensão ante aquela crónica com um resumo das principais notícias dos media locais:
https://www.blogger.com/blog/post/edit/3096768341114302037/1143195284922132991
Poucos terão percebido o seu alcance, os seus objectivos. Convém por isso tentar explicar.
Ao recensear aquilo que seriam as "primeiras páginas" de todos os órgãos de informação local, caso ainda fossem só em suporte papel, pretendeu-se antes de mais alertar. Chamar a atenção para a pobreza reinante no sector, camuflada por alguma aparente variedade. Quantos leitores da peça em questão já tinham antes feito essa comparação restrita entre todos os periódicos locais?
Feito o exercício, concluiu-se que estamos praticamente como há 50 anos. Publica-se muito sobre os concelhos vizinhos e só o mínimo sobre Tomar. Tal como acontecia antes do 25 de Abril. Os jornais de então tinham abundante matéria sobre o estrangeiro, mas não tanta sobre o próprio país. Como chalaceava então o saudoso Raúl Solnado: "Sim senhor, há liberdade de informação. Cada um lê o jornal que quer. Dizem é todos o mesmo."
Situação que se entendia na época. Havia uma comissão de censura, com militares de uma comissão de exame prévio encarregados de ler, emendar ou proibir qualquer "papel" sobre o país que excedesse o permitido.. Donde a abundância de notícias da estranja, muito mais cómodas porque já antes censuradas e portanto prontas a publicar.
Raros foram nesse longo calvário os jornais que tentaram, e por vezes conseguiram, quase sempre de forma ultra-disfarçada, ultrapassar "os coronéis da censura". Fica aqui um pensamento respeitoso para todos os jornalistas e colaboradores que arriscaram a sua liberdade para informar os leitores, nas colunas do Comércio do Funchal, do Jornal do Fundão e do República. Houve também, a dada altura, O Templário, primeira fase, mas foi sol de pouca dura. Amainou com a saída do presidente da câmara Fernando de Oliveira.
Cinquenta anos volvidos não há nada disso, felizmente. Não haverá mesmo?
Oficialmente não existe qualquer comissão de censura ou de exame prévio. Basta porém, tal como no caso dos cães de Pavlov, um sinal, para que todos obedeçam, sem necessidade de verbalizar.
Nunca ouviu falar da experiência dos cães de Pavlov? Não fique triste. Está longe de ser o único. Os tomarenses em geral têm muitas qualidades, mas a participação cívica ou a cultura geral não fazem parte delas. Infelizmente. Dito isto, que pode doer a alguns, mas é a triste verdade nua e crua, vamos então à experiência dos cães de Pavlov.
O sábio Pavlov começou por mandar tocar uma campainha, enquanto dava comida a um cão, que naturalmente salivava antes de a ela aceder. Mais tarde, numa segunda fase, limitou-se a tocar a campaínha para o cão ouvir, sem lhe dar qualquer comida. Constatou então que o cão salivava, tal como se houvesse comida à vista.
Trata-se do desde então bem conhecido "reflexo condicionado" ou "reflexo de Pavlov". Exactamente o que vai ocorrendo, mutatis mutandis, com a informação tomarense.
A maioria autárquica instalada nunca fez, nem faz, nem encomenda, nem manda fazer qualquer censura, ou corte de crónicas jornalísticas. São incapazes disso. Bastou porém estabelecer umas avenças, atribuir uns subsídios, orientar a publicidade camarária de certa maneira e demonizar o jornalista José Gaio, (para não falar das opiniões excitadas sobre o Tomar a dianteira), para todos os profissionais e respectivos patrões ficarem cientes do que se pretendia e pretende. A aplicação prática da célebre tirada do já falecido e honrado socialista Jorge Coelho: "Quem se mete com o PS leva!"
É assim que estamos em Tomar. É isso que mostra a recensão das "primeiras páginas" locais. Usando uma frase do tempo do Salazar, "Reina a calma em todo o concelho". Que a maioria socialista nabantina parece interpretar como "É geral o contentamento". De tal forma que os maiorais até suputam vir a conseguir uma "maioria gorda".
As consequências visíveis estão porém longe de ser brilhantes. 10,4% da população que fugiu do concelho nos últimos dez anos, até parece uma espécie de micro-Afeganistão em câmara lenta.
Sem talibãs, bem entendido!
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