terça-feira, 14 de setembro de 2021

 

Política local/Autárquicas 2021/Candidaturas
Com estas candidaturas 
infelizmente Tomar não pode ir longe

O regresso transitório a Tomar permitiu-me para já, entre outras coisas, duas confirmações. A primeira é que têm razão os que afirmam que de longe se vêem melhor os conjuntos. A outra é que também estão certos os que dizem que a proximidade impõe os detalhes, e estes podem alterar a harmonia do conjunto.
Foi o que aconteceu comigo. Lá longe, a sete mil quilómetros, parecia-me uma coisa e agora aqui, na cova nabantina, parece-me outra.
Aquilo a que chamaram debate, e teve lugar na Rádio Hertz teve para mim uma dupla vertente. Foi muito penoso, mas também muito esclarecedor. Passei a entender que, sejam quais forem os resultados em 26 do corrente, Tomar não vai sair da cepa torta. Nem sequer mudar de sulco. Vai ser a evolução na continuidade, como se dizia no tempo do Marcelo Caetano. Viu-se, pouco tempo depois, no 25 de Abril.
Pelo que ouvi, e entretanto já lí, em termos de literatura partidária de circunstância, as sete candidaturas em presença, dividem-se em três grandes grupos. Começando pelos mais pequenos, mas tradicionais, temos o BE e a CDU, com as suas propostas clássicas. Seria uma enorme surpresa caso uma ou outra candidatura conseguisse, nas circunstâncias actuais, aumentar a votação. E se elegessem um vereador, seria uma vitória retumbante. Estarão portanto conformados, para não falar de conformistas, que poderia parecer mal.
O outro par é o do CDS mais o Volt. Deste sabe-se muito pouco, convindo assinalar que o que já disseram não entusiasma. Muito dificilmente conseguirão eleger alguém, mesmo para a AM.
O candidato do CDS logrou uma boa imagem, de pessoa culta, sabedora, inteligente, experiente e dialogante. Infelizmente, ninguém percebeu porque decidiu deixar de escrever no Templário, dando a ideia de não ter mais nada para dizer aos potenciais eleitores. Agravando a situação, o "debate" não lhe correu bem. Pareceu ter ficado algo inseguro na sequência dos problemas de som, logo no início.
Outra incógnita é o CHEGA. Começou com uma boa imagem, que tem vindo a perder ao longo da pré-campanha. O seu líder é talvez o único candidato que tem um desígnio. Quer mesmo mudar a situação local. O problema é que lhe faltam ideias bem arrumadas, e sobretudo recursos humanos à altura da tarefa. É bem capaz de eleger um, ou mesmo dois vereadores, mais por causa do grande descontentamento reinante, do que por mérito dos ideais que defende.
Restam-nos os dois tradicionais bonzos do templo nabantino. Uso o termo bonzos para evitar a expressão vacas sagradas, que seria deselegante para as duas candidatas.
De ambas tenho a mesma ideia. Não percebo porque se candidatam, pois não lhes conheço projectos para Tomar,  mas entendo para que se candidatam. Para beneficiarem das mordomias inerentes ao cargo e receberem uma soma interessante no final de cada mês, bastante mais que nos seus empregos respectivos. Não é pecado, mas é demasiado pouco para servir adequadamente uma população de perto de 40 mil almas, a minguar de forma acentuada.
Julgo até que o âmago do problema seja mesmo esse. Nem uma nem outra parecem perceber o que seja SERVIR, missão que hoje em dia só os militares continuam a honrar. Todos os outros empregados públicos, desde que, no rescaldo no 25 de Abril, deixaram de ser servidores públicos e passaram a funcionários do estado ou das autarquias, é o que está à vista de todos. Podendo parecer que não, foi toda uma mentalidade que mudou. Uma coisa é estar para servir os seus concidadãos. Outra é estar sobretudo para se servir, como vem sendo o caso.
Resumindo, a candidata PS fala muito bem e veste ainda melhor, mas as suas propostas são ocas. O melhor exemplo é o do infeliz slogan "No caminho certo". Que caminho? Por onde? Para onde? Quando? Com quem? Para quê? Até quando? Calculo que, tal como eu, os tomarenses mais amigos de raciocinar bem gostariam de conhecer estas e outras respostas, antes de irem votar. Mas que é delas?
O caso da outra senhora, a candidata PSD, é ainda mais bizarro. Embora também vista bem e tenha um ar desempoeirado, a verdade é que se lhe notam problemas de oralidade, sendo também consensual que tem muita dificuldade para dialogar. Candidata-se portanto sobretudo (para não escrever unicamente) por rivalidade pessoal. Por desejo mimético, a expressão usada por René Girard para caracterizar a inveja. Neste caso negativa.
A acrescentar a tais óbices, avulta a asneira inicial. A recusa de fazer uma ampla coligação à direita, com esta argumentação realmente deliciosa: "Quando nos coligamos com o CDS, o PSD perde votos, porque há muitos eleitores que deixam de votar laranja, por causa da coligação."
É preciso dormir mal, ou levantar-se demasiado cedo, para ter chegado a uma conclusão destas, em Tomar, em 2021. Esta gente vive afinal em que planeta?
Perante tudo isto, é bem provável que, no próximo dia 26, tenha de dobrar e entregar o papel sem nele fazer qualquer cruz. Ou então, para evitar posteriores tentações de terceiros, faço uma cruz que se veja bem. Daquelas que ocupam o boletim todo. O chamado voto nulo.

1 comentário:

  1. Eu não sei se ainda ocorre nos dias de hoje mas eu lembro-me aqui há uns anos o PS e o PSD irem buscar os velhos (analfabetos) a casa para irem votar. Daí eu chamar-lhes de máquinas infernais, são máquinas muito eficientes na caça ao voto.

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