Imagem Rádio Hertz, com os agradecimento de Tomar a dianteira

Política local/ Debates/Autárquicas 2021

O bálsamo apaziguador de Rogério

O recente encontro geral de candidaturas, organizado pela Hertz, foi aquilo que todos sabemos. Correspondeu sem brilho, -que não podia ter, devido ao figurino adoptado-, ao que dele se esperava. Algo agastada com uma inesperada contestação, a que não estava habituada, tal como os outros órgãos informativos locais, a direcção da Hertz procura, como é lógico, salvar a honra do convento, alinhando apoios explícitos. E fazem muito bem. Da discussão pode nascer a luz.

O meu prezado conterrâneo José Rogério, com quem ainda recentemente tive o prazer de trocar muito proveitosa correspondência privada, foi o primeiro a dar o peito às balas. Pois elas aí vão. Com respeito, consideração e a moderação possível.

Em inicial argumentação, Rogério parte do conhecido dito popular, segundo o qual "o óptimo é inimigo do bom", para justificar o evento levado à cena. É, a meu ver, um bocadinho forçado. Sugere que o "debate" foi bom, quando todos sabemos que não foi. Não só devido ao modelo, mas também à deficiente escolha dos temas, e sobretudo aos recursos das diversas candidaturas. Quem não concordar, ganhará em fazer duas coisas.

Primeiro, conseguir uma justificação plausível para o tempo perdido a falar de saúde ou educação, matérias sobre as quais os municípios não detêm quaisquer competências substantivas. E sendo assim, para quê abordar temas que outros terão de solucionar, se assim o entenderem? Visivelmente, só para entreter e entediar o auditório.

Em segundo lugar, nada melhor do que seguir outras realizações, com o mesmo figurino, noutros concelhos com a mesma dimensão, para ficar esclarecido. Na parte que me toca, já assisti aos "debates" da Figueira, de Coimbra e do Porto, cidades maiores, é bem verdade. Confesso que fiquei esclarecido, mas também estarrecido, tal o abismo cultural que nos separa daquelas paragens. Mas adiante, que até fico incomodado ao ter de escrever isto que, bem sei, vai incomodar todos os candidatos e leitores, cuja envergadura intelectual lhes não permite enxergar-se na plenitude. O grande problema tomarense, embora possa não parecer.

O outro argumento, do estimado conterrâneo Rogério, é que os debates cara a cara obrigariam à realização de 21 edições. Essa é boa! E por alma de que santo? A lei eleitoral estipula que as candidaturas não podem ser discriminadas. Mas não diz em lado algum, nem poderia dizer, que todos tenham de ter igual tratamento, quando visivelmente não são iguais.

No caso tomarense, por exemplo, que igualdade pode haver entre a candidatura PS e a do Volt? Ou entre os socialistas, que ocupam o poder, e todas os outros candidatos, simples pretendentes?

Já vai sendo tempo de nos deixarmos de balelas, encarando as coisas como elas são. Cada órgão de informação tem todo o direito de promover um verdadeiro debate entre os dois concorrentes que considere  mais fortes, tendo em conta os resultados eleitorais anteriores (em Tomar o PS e o PSD, quer nos agrade ou não), seguido de mais dois ou três confrontos a dois, mediante sorteio prévio de ambos os contendores, para respeitar a tal desejada equidade.

A não ser assim, estaremos a insistir numa prática condenável -a de repetir erros, esperando que passem a ser grandes sucessos. Infelizmente, acontece com o erro o mesmo que com a mentira. Por mais que se repitam não mudam de natureza.