segunda-feira, 20 de setembro de 2021

 

Moais na Ilha da Páscoa, a 5 horas de avião de Santiago do Chile.

Autárquicas 2021

Candidaturas e programas

O reparo vem de onde menos esperava. No seu comentário semanal na SIC, Marques Mendes, que não é propriamente um contestatário, muito menos um revolucionário, disse o óbvio para quem tem a coragem de olhar, ver e entender. "Os senhores juízes do Tribunal constitucional sabem muito de direito, mas não têm mundo".
Ter mundo, como geralmente não se sabe, é um eufemismo para designar abertura de espírito, conhecimentos diversificados, aceitação da diferença e da mudança. Que são detalhes da experiência de quem palmilhou Seca e Meca e olivais de Santarém. Que o mesmo é dizer, quem conhece tanto o que fica próximo (Asseca e os olivais de Santarém, como longe, Meca).
Enquanto isto, na minha querida Tomar, há quase unanimidade entre os comentadores da cada vez mais urbezita: as sete candidaturas são todas medíocres. Os que estão não valem grande coisa, mas os outros não aparentam ser melhores.
Que me recorde, sempre assim tem sido desde o 25 de Abril. Uma relativa igualdade qualitativa entre os candidatos à autarquia. E nem podia ser de outra maneira, tendo em conta os antecedentes. Aquando dos críticos anos 60 do século passado, o país perdeu mais de um milhão de habitantes, que emigraram ilegalmente. Aqui à volta foi uma razia, sobretudo no concelho de Ourém.
Em Tomar nada disso aconteceu. Quase não houve emigração. Vivia-se bem, com as fábricas e sobretudo com os militares  em grande quantidade (Quartel general, Regimento de Infantária 15, Hospital militar, Tancos e Santa Margarida nas proximidades).
Décadas mais tarde, os resultados aí estão. Muitos emigrantes regressaram, com experiência e com mundo. Ourém e Leiria pulam e avançam "como bola colorida entre as mãos de uma criança", porque aceitam a diferença, porque apoiam os estrangeirados, porque facilitam as mudanças, porque sabem implementar ideias novas que são também fecundas.
Em Tomar, pelo contrário, nada disso aconteceu nem acontece. Quase não houve emigração no século passado, mas entretanto as fábricas fecharam e os militares foram-se. E nada foi feito entretanto para substituir os que se foram, de forma a compensar a falta de regressos, pois não houve emigrantes.
Daí a triste mentalidade nabantina. Apesar da diversidade de candidaturas, na prática as propostas pouco diferem, porque os candidatos pensam todos o mesmo e da mesma forma. Ninguém quer mudar, mesmo quando reconhecem que não estamos bem. Regra geral pretendem apenas roubar os lugares aos que agora os ocupam, por se julgarem mais capazes, porém sem apresentarem argumentos que convençam.
É o molde tomarense: Todos à volta da mesma gamela, com um pau na mão para espantar os estrangeirados, esses malandros que só querem acabar com a doce paz do vale nabantino.
Uma prova factual: Tomar a dianteira 3, isto que você está lendo, é o único órgão informativo do concelho assumidamente contestatário. Sempre do contra, com coragem e determinação. Apesar de ter uma audiência diária inferior a 500 cidadãos, num concelho de quase 40 mil habitantes, os poucos que admitem ser leitores de tal pasquim electrónico, usam sempre uma curiosa frase de ressalva: "Costumo ler o que ele publica, embora não concorde com muito do que diz".
Numa linguagem menos codificada, trata-se de um tomarense estrangeirado, com umas ideias demasiado avançadas, que convém ler com cuidado. Donde a atitude de forçada aceitação. Quem escreve estas linhas tem a perfeita noção de ser apenas tolerado por especial deferência, na sua própria terra. Considera-se com um estatuto semelhante ao das meninas da Rua de Pedro Dias, dos tais anos 60, que apesar de possuírem uma carteira profissional de meretriz, eram conhecidas na época de duas formas. Para o povo eram as putas. Para a sociedade fina eram as toleradas.
De forma que, meus irmãos tomarenses, façam favor de continuar assim, até que vos agrade. Mas não tarda, terão forçosamente de mudar de vida, porque como bem diz o povo "não há bem que sempre dure, nem mal que não se acabe". Ou vice-versa. Perceberam? Quero dizer que não é por ignorarem, ou fingirem ignorar, a crise que assola Tomar, que a situação vai melhorar. Pelo contrário e infelizmente.

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