quinta-feira, 30 de setembro de 2021

 


Politica local - Hábitos eleitorais

Quem diria
Que ser muito conservador
Não provoca azia
Mas pode criar bolor

Na terceira fase da sua obra, entre 1516 e 1536, Gil Vicente denunciou os costumes da época, numa alegoria localizada em Tomar. Foi a Farsa de Inês Pereira, levada à cena num dos claustros do Convento de Cristo, por volta dos anos 20 do século XVI, ainda no reinado de D. Manuel, que viria a falecer em 1521.
Como base de trabalho, Gil Vicente usou um anexim bem conhecido na época: "mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube". Dar primazia à prudência e à segurança, em detrimento de outras vantagens.
Neste caso, ir devagar mas em segurança, montado em cima de um burro, em vez de ir mais depressa cavalgando, mas correndo o risco de ser derrubado durante um inopinado galope.
Para grande surpresa minha, e julgo que de muitos tomarenses, cinco séculos após o espectáculo da farsa, como divertimento para o rei e a corte, que por essa altura ainda vinham morar em Tomar durante largos períodos, a história repetiu-se nas recentes eleições.
Havia sete candidatos, divididos em dois grupos: os conservadores e os atirados para a frente. Contados os votos, o povo repetiu praticamente a votação de 2017, apesar de serem do domínio público os numerosos erros da maioria socialista, bem como a notória fraqueza da lista social-democrata, com uma líder que nem lembra ao careca.
Temos assim uma nova versão do velho provérbio popular do tempo de Gil Vicente. Em vez de "mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube", temos, com o devido respeito, "mais quero burra que me leve, que égua que me derrube". Tanto rosa como laranja...
Só com o passar dos anos viremos a saber se estamos ou não perante um caso como aquele do velho carroceiro, quando a tracção animal ainda era dominante, que dizia para a alimária: "Arre macho!!! Olha o raio do animal a fazer-se mula!!!"
Desconfia-se, aqui no Tomar a dianteira 3, que anda por aí muita gente, mesmo entre os eleitos, a fazer-se mula, quando afinal são algo muito diferente. Mas isso são já outras contas.

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