quinta-feira, 30 de setembro de 2021

 


Problemas locais - Ensino

Enganar não é adequado
para combater a crise local

Lê-se na  Rádio Hertz online, citando uma nota de imprensa do Instituto Politécnico de Tomar, que este estabelecimento tomarense de ensino superior "preencheu 46% das 512 vagas a concurso para alunos em primeira matrícula, o que representa um aumento de 10% em relação ao ano anterior". Essas 512 vagas são o total dos 15 cursos existentes no IPT, em Tomar e Abrantes. Pelo menos dois desses cursos não averbaram qualquer inscrição, acrescentamos nós.
A referência a "um aumento de 10% em relação ao ano anterior", é manifestamente uma habilidade enganadora. Dado que as candidaturas ao ensino superior aumentaram cerca de 18% em relação a 2020, contrariando assim a crise demográfica do país, o tal aumento de 10% fica 8% aquém do que seria a estabilidade em relação ao ano anterior. Representa portanto uma regressão. Os responsáveis do IPT não ponderaram devidamente o assunto? Escapou-lhes esse detalhe? Ou foi deliberado?
Há, também, outra vertente importante. 14 mil candidatos não encontraram sapato para o seu pé nesta primeira fase. Aguardam melhores oportunidades. Quando tal ocorre, com estabelecimentos de ensino superior a preencher apenas 46% das vagas na primeira fase, como é o caso do Politécnico de Tomar, e de alguns outros do interior profundo, algo está errado, a carecer de revisão urgente e adequada.
https://radiohertz.pt/tomar-numeros-relativos-a-primeira-fase-politecnico-preencheu-46-das-512-vagas-disponiveis/
Na mesma área noticiosa, O Mirante, também no seu site, adianta que o "Politécnico de Leiria colocou na primeira fase 1.796 novos estudantes nas suas licenciaturas, o que representa 88,2% das 2.036 vagas iniciais". Acrescenta o mesmo semanário regional que "das 45 licenciaturas existentes no IPL, 35 preencheram todas as vagas nesta primeira fase."
https://omirante.pt/sociedade/2021-09-28-Politecnico-de-Leiria-com-35-das-45-licenciaturas-com-todas-as-vagas-ocupadas-297ce9c0
Sabendo-se que Leiria e Tomar estão separadas geograficamente por apenas 40 quilómetros, torna-se evidente haver -aqui também- um enorme fosso entre a cidade do Lis e a do Nabão na área do ensino superior, cujas causas e eventuais consequências merecem séria reflexão. Ou mereceriam, se os tomarenses, tanto eleitores como eleitos e  funcionários superiores, fossem praticantes usuais do pensamento estruturado. Infelizmente, ainda não é o caso, o que se nota e faz muita falta. Mas lá teremos de chegar, mais cedo ou mais tarde. Porque a crise tomarense não é compaginável com preguiças, lapsos, enganos, habilidades, improvisos e outras atitudes confortáveis, porém nefastas. Desculpar-se por sistema, alegando que é má-língua tudo aquilo que não cai bem na área da crítica, acaba por revelar-se uma infantilidade, que só pode desqualificar quem a usa. Numa democracia viva, "cuspir na sopa" é mais estimulante para quem governa, do que fingir-se morto, porque alerta para perigos eventuais. Depois não se lastimem.

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