"O problema que destruiu Sócrates, e mais cedo ou mais tarde derrubará Costa, é a secular doença lusitana. Podemos chamar-lhe a «síndrome do Conde de Abranhos». Hoje, como tantas vezes no passado, larga percentagem da população vive de benesses públicas que a economia não pode pagar. Pensionistas, funcionários, câmaras, construtoras, subsídios, dominam a situação política, para conseguir garantir as suas rendas. O aparelho produtivo acaba espremido pelas exigências das classes não produtivas."
Numa excelente prosa n'O Templário desta semana o conterrâneo Mário Reis aborda o problema da Várzea Grande. Explana com clareza as intervenções de Bruno Graça e de Anabela Freitas, convidados pela Tertúlia templária a debater o assunto, e diz da sua satisfação.
Cada qual é livre nas suas opções, pelo que não se trata aqui de criticar com fins partidários as posições de Mário Reis, Bruno Graça, Anabela Freitas, ou de quem quer que seja. Apenas de salientar que, no que toca à Várzea Grande, todos parecem insistir com manifesta satisfação no mesmo erro -o importante é reabilitar já, para aproveitar os fundos europeus, faltando apenas determinar se com mais ou menos estacionamento, mais praça central ou menos praça central, mais árvores ou menos árvores. Tal e qual como aconteceu na Levada que, seis milhões de euros e vários anos mais tarde, ainda não serviu praticamente para nada, além do aspecto exterior que melhorou bastante.
Resta-me portanto recomendar-lhes a leitura atenta do texto supra, com relevo para a frase "Hoje, como tantas vezes no passado, larga percentagem da população vive de benesses públicas que a economia não pode pagar." Logo a seguir, César das Neves (que é liberal de direita, bem sei, mas não consta que seja intelectualmente limitado), inclui nessa população funcionários, câmaras e construtoras. Donde me parece resultar que, no caso tomarense, a autarquia terá forçosamente de procurar quanto antes outras maneiras de se financiar, nomeadamente com receitas próprias e/ou locais, porque a teta lisboeta já deu o que tinha a dar e a população continua a debandar.
Para não alargar inutilmente, parece-me óbvio que a única via, ou pelo menos a mais promissora, para vencer a cada vez mais evidente e grave crise nabantina, parece ser o desenvolvimento do turismo. O que implica logo à partida, se as coisas forem feitas com cabeça, tronco e membros, a elaboração e debate de um plano local de turismo, que nunca existiu nem existe. Desse plano, não vejo como não conste o problema do estacionamento de larga capacidade, com um parque à superfície na baixa da Anunciada e outro subterrâneo na Várzea Grande. Já escrevi e publiquei isto mais de uma dezena de vezes, até agora sem conseguir convencer os responsáveis locais. Mas a realidade é teimosa e estou persuadido que acabará por se impôr. Resta saber se ainda a tempo de evitar mais erros.
Entretanto, os eleitos locais continuam a tentar avançar com o arranjo da Várzea Grande, ignorando (?) que, inevitavelmente, dentro de menos de dez anos, tudo o que agora for feito terá de ser em grande parte demolido, para construir o indispensável estacionamento subterrâneo. Acresce que o estudo prévio já conhecido enferma de erros graves, que também já aqui referi . Revelo agora outra asneira de todo o tamanho. Havendo no próprio Convento de S. Francisco e nas antigas garagens do RI15, a oeste do previsto parque para 9 autocarros (!!!) que se pretende instalar, muitos espaços livres, para quê construir de raiz e em separado um edifício para sanitários e posto de informação? Não será melhor reabilitar e adaptar o já existente? A paisagem urbana agradece.
Que esta e outras questões sejam discutidas numa tertúlia sediada no Hotel dos Templários, na presença de pelo menos um dos administradores daquela prestigiada unidade hoteleira, que obviamente só vive do turismo, e ninguém tenha visto ainda estes aspectos, dá que pensar.
Adenda
Denotando saber bem mais do que aquilo que já disse, a senhora presidente da Câmara mencionou, segundo refere Mário Reis, negociações com um organismo governamental, tendo em vista "adquirir os terrenos e bens existentes ao lado do antigo quartel militar", para aí edificar depois "um grande e funcional parque de estacionamento". Infelizmente, conforme já vem sendo hábito em Tomar, também neste assunto parece ter havido alguma falta de clareza e de atenção. Porque afinal, trata-se de qual dos dois quartéis militares? O do ex-regimento de infantaria 15? Ou o do ex-quartel general? É que ambos têm instalações devolutas à ilharga. Mas ninguém solicitou esclarecimentos. Paciência. Ficará para a próxima.
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