quarta-feira, 10 de maio de 2017

A sorte de ter nascido em Tomar e o azar de ser tomarense

É melhor começar por pedir que não se arreliem com o título. Há muitos anos que consta ser Tomar madrinha para os de fora e madrasta para os seus filhos. Sendo assim, só consideram ter tido sorte aqueles que, como eu, adoram a cidade e o concelho, mas não tanto os seus concidadãos. Quer dizer: Também gostam das pessoas, mas não tanto como da terra. Vem a propósito relembrar aqui o conhecido axioma filosófico segundo o qual "o ódio é uma forma de amor", para acrescentar que nunca odiei nem odeio ninguém.

Sucessivamente, Luis Bonet, PS, antes funcionário público em Angola; Amândio Murta, AD, antes delegado de saúde; Jerónimo Graça, PSD, antes funcionário público em Angola; Pedro Marques, PS, antes empregado de Fábricas Mendes Godinho.


Esta curta introdução para dizer que, no meu entender, caso Macron, o campeão do momento, fosse tomarense, nem sequer conseguiria ganhar as autárquicas. Baseio-me naquilo que fez durante a renhida campanha eleitoral. Disse sempre a verdade aos franceses. Frontalmente afirmou que é europeu, que defende a união europeia, que é liberal, que pretende reduzir o peso do estado na economia, simplificar o código laboral, baixar os impostos das empresas, etc. etc. Teve até a coragem que nenhum outro candidato tivera até então. Aceitou debater com a líder da Frente Nacional e dizer-lhe frontalmente que as suas ideias são afinal imbecilidades. Por isso venceu e convenceu. Mesmo sem o apoio dos Insubmissos de Mélenchon, que se proclama anti-fascista mas recusou apelar ao voto em Macron. O pessoal de extrema-esquerda geralmente é assim. A teoria é muito linda. Mas enganadora.

Da esquerda para a direita: António Paiva, PSD, antes docente no Politécnico de Tomar; Corvêlo de Sousa, PSD, antes advogado síndico da Câmara; Carlos Carrão, PSD, antes chefe de redacção de Cidade de Tomar; Anabela Freitas, PS, antes funcionária pública - técnica de emprego.
Nesta altura do campeonato, o PSD vence o PS por 5 presidentes a 3. Bons ou maus, isso já é outra questão.

Caso tivesse agido assim em Tomar, Macron teria sido imediatamente excomungado, porque os tomarenses não gostam mesmo nada que lhes digam a verdade, conforme vêm demonstrando desde o 25 de Abril. Preferem de longe o manto diáfano da fantasia à nudez forte da verdade.
Julgo saber do que falo porquanto muitos dos meus conterrâneos não gostam nada de mim, apenas porque têm uma tendência doentia para confundir o teor das mensagens que escrevo com o mensageiro. Como se fosse eu o culpado pelas asneiras cometidas pelos sucessivos autarcas, que agora vão produzindo aquilo que antes foram semeando, porventura sem disso sequer se darem conta.
Vamos então à tal realidade política, que tanto desagrada a muitos tomarenses. Entre 2013 e 2016, de acordo com os dados oficiais do Ministério da Administração Interna, a evolução do total de eleitores inscritos nos concelhos da zona, foi a seguinte, por ordem decrescente de perdas:
                              2013                 2016

Tomar..................37.310..............36.266........menos 1.044  eleitores inscritos
Abrantes.............35.075...............34.064........menos 1.011       "            "
Torres Novas......32.546...............31.959........menos    587       "            "
Ourém................43.331...............42.863........menos    468       "            "
F. do Zêzere.......  7.933...............  7.575........menos    358       "            "
Leiria.................113.378.............113.189........menos    189       "            "
Entronc..............17.263...............17.267..........mais         4        "            "

Aí está a triste realidade actual, sem tirar nem pôr. Lideramos a zona em termos de perda de população. Pior ainda: Leiria, com os seus mais de 100 mil eleitores inscritos, apenas perdeu 189 eleitores inscritos em 3 anos. Outro tanto sucede com Ourém. Com uma população superior à de Tomar, apenas perdeu 468 eleitores inscritos, contra  mais do dobro em Tomar.
Qual ou quais as causas? Não constando que em Tomar haja mais óbitos que noutras terras. Tão pouco constando que as pessoas fujam de onde se sentem bem, julgo que tem havido sobretudo falta de clareza e falta de condições para acreditar no futuro. Desde o 25 de Abril, não me recordo de algum candidato ter dito que era de extrema esquerda, de esquerda, do centro, de direita ou de extrema direita. Excepto os das CDU e do Bloco de Esquerda. Os outros têm sido todos gente séria, mas do que calha ou dá mais jeito.. Nem de direita, nem de centro, nem de esquerda, antes pelo contrário. Eleitos por isso praticamente sem programa que se leia, nem sequer sabem ao que vão. Os resultados aí estão. Cabe agora aos tomarenses decidir se desta vez convém continuar pelo mesmo caminho.

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