Assim sem aprofundar, quem conhece um pouco a realidade nabantina é tentado a exclamar que "Os tomarenses têm tido pouca sorte!" O que é verdade. Todavia, aprofundando um pouco, conclui-se que os únicos culpados são afinal os próprios queixosos. Isto porque, conforme já referido nestas colunas em textos anteriores, em mais de quatro décadas de poder local democrático, os eleitores de Tomar ainda nunca acertaram num presidente acima da triste mediania. Há talvez uma excepção, chamada Paiva, mas mesmo esse...
Durante todo esse tempo, o eleitorado tem contribuído para se prejudicar e prejudicar o concelho, ao adoptar uma atitude muito enraízada no vale do Nabão. Vai atrás da banda, sem procurar informar-se sobre o maestro e os músicos, ou sequer ler o programa das festas, quando existe. Mas depois do mal feito, abundam as queixas sobre falta de projectos, desemprego, saque fiscal, burocracia, arrogância, auto-suficiência, êxodo da população, falta de investimento. Tudo sempre culpa dos outros, bem entendido.
Confesso que desta vez ainda cheguei a acalentar alguma esperança numa mudança para melhor. O que até nem será difícil. Infelizmente, acumulam-se os sinais de que iremos de mal para pior. Do lado do PS, as coisas são bem conhecidas. Após as lamentáveis querelas político-sentimentais, tornou-se evidente o vazio programático e o improviso daí resultante. Apareceram, sobretudo este ano, projectos e obras sem articulação entre si, com a única justificação global de aproveitamento de fundos europeus. É pouco, muito pouco mesmo.
Sendo verdade que Tomar precisa de fundos europeus, tal como todos os outros concelhos, para ultrapassar a crise, conviria que esses fundos servissem para financiar projectos bem articulados entre si, criadores ou potenciadores de riqueza. Infelizmente não tem sido nem é caso. O exemplo mais flagrante é o da Levada, mas entretanto já está anunciado o da Várzea Grande.
Com uma câmara assim, o eleitorado começou cedo a deslocar-se, em termos de esperança, para a usual alternativa PSD. Mas também aqui as coisas não têm corrido bem. Os laranjas locais atrasaram-se na escolha do candidato, o que os levou a uma sondagem de contornos algo estranhos, que agora muitos acusam de "martelada". Escolhido enfim o desejado, verificou-se a primeira grande fractura. A ala mais liberal, mais virada para o investimento e para as empresas privadas, que apoiava Lourenço dos Santos, afastou-se em grande parte.
Seguiu-se o drama do momento, aqui revelado sem nomes por António Freitas. Quando aceitou ser candidato pelo PSD, Luís Boavida já assumira antes igual compromisso com os Independentes por Tomar. De forma que o cabeça de lista do PSD, um cidadão bem formado, bem informado e bem relacionado, é também uma pessoa que mudou de opção como quem muda de camisa, mesmo que tenha empenhado a sua palavra. E que confiança pode merecer, se eleito, um presidente assim? A mesma que Anabela Freitas e a sua primeira escolha para chefe de gabinete?
Cereja a coroar o bolo, uma fonte credível garantiu a Tomar a dianteira que os discursos e outras intervenções escritas do candidato Boavida não são escritos pelo próprio, nem sequer pelo seu cronista, mas sim pelo seu monteiro. Coisa rara esta, de um monteiro nas lides da escrita. Normalmente tratam é de caça e de caçadas. Mas também é verdade que, de certa maneira, as eleições...
Como se tudo isto não bastasse, a aderente laranja Beatriz Schulz, (que tanto tem irritado Anabela Freitas), resolveu a dada altura entregar o seu cartão partidário, ao mesmo tempo que Isabel e Luís Boavida. Por razões que a razão desconhece, os cartões do casal Boavida nunca terão feito o percurso do Nabão até à Lapa. Mas o da solidária e infeliz Beatriz Schulz chegou à sede nacional laranja e a senhora foi afastada do PSD local. A seu pedido, naturalmente. Temos assim uma aderente praticamente expulsa, um partido agitado e um candidato já ferido de asa.
Na sequência de tão tristes ocorrências, fontes fidedignas asseguram que o clima interno no microcosmo social democrata é de cortar à faca, o que não custa a acreditar. Acrescentam até que as muitas palmadas lisboetas nas costas de Ricardo Lopes, Francisco Madureira, José Delgado e João Tenreiro, todos na verdade personas non gratas na S. Caetano à Lapa, se destinam apenas a melhor escolher o sítio onde espetar a faca, logo a seguir ao previsto desastre eleitoral.
Situação corroborada por uma eminente personalidade nacional, muito ligada a Tomar, que há poucos dias me manifestou a sua tristeza e preocupação face à presente situação política na terra gualdina.
Assim vamos. E ainda faltam 5 meses.
Sem dúvida grandes verdades,infelizmente para TOMAR enfim é o que temos.
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