segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Trabalhadores temporários no turismo de inverno em França

O TURISMO, ESSE DESCONHECIDO

É uma prática muito comum em Tomar. Com o alargamento das redes sociais, multiplicaram-se os autores e os comentadores, estes últimos com uma caraterística: Tendem a falar do que não sabem, como se fossem especialistas. São os chamados "achistas", por causa do uso recorrente da expressão "Acho que..."

A atual maioria autárquica não liga de facto grande importância ao turismo, como já aqui foi dito antes, simultaneamente por ignorância e embalada pelos comentários de um apaniguado, velha pileca da política local, que nunca se cansa de atacar o turismo como uma má opção de desenvolvimento, (quando nem sequer é o caso, uma vez que a maioria PS não tem qualquer plano de desenvolvimento, muito menos com o turismo como alavanca), porque só cria empregos mal pagos e sem promoção profissional possível.

É sobretudo para esse comentador habitual do Tomar na rede, pseudónimo António Pina e que julgo conhecer bem, porque até já estivemos do mesmo lado da bancada na A.M. de Tomar, nos idos de 80, que vão estas linhas sobre turismo, em grande parte traduzidas do LE MONDE, um jornal que nunca brinca em serviço. Para mostrar como são os empregos no turismo lá para a Europa mais a norte, onde o Estado não pode dar emprego a toda a gente.

Quando se fala em turismo, a quase totalidade das pessoas julga tratar-se de uma atividade que dura todo o ano. Nada mais falso. O turismo sempre foi e continua a ser uma atividade sazonal, com duas grandes épocas -o turismo de verão e o turismo de montanha ou de desportos de inverno. Este último praticamente não existe em Portugal, uma vez que só temos a Serra da Estrela, com muito boa vontade mas pouca neve. Turismo estival ou de inverno, ambos dependem muito dos empregos temporários.

O texto seguinte é composto por excertos de uma reportagem sobre os empregos temporários gerados pelos desportos de Inverno em França, sobretudo da região dos Alpes, sendo certo que é possível transpôr algumas situações para o turismo de verão, designadamente para Portugal.

"Para continuarem a atrair e assim conseguirem empregados, os patrões dos estabelecimentos que vivem dos desportos de inverno, foram obrigados a aumentar os salários, sobretudo desde há dois anos. "Este ano há uma explosão da minha massa salarial", explica-nos Alexandre le Corre. "Entre o antes e o após covid, o salário de um empregado de mesa aumentou 25% e 30% o de um cozinheiro. Uma equação muito complicada, num ano em que também os custos das matérias primas foram por aí  acima."

Em Chatel, no departamento da Alta Sabóia, Sara Maxit, que emprega anualmente 24 trabalhadores temporários no seu restaurante de altitude, considera que paga acima da média. Este ano, empregados de mesa, lava-loiças e serventes de cozinha são pagos 1.650 euros mensais limpos, com alojamento e alimentação incluídos, trabalhando 42 horas por semana, com um dia de descanso.

Após publicar uma oferta de trabalho no Facebook, recebeu uma centena de respostas. "Mas há de tudo. Gente séria e simples brincalhões. Há menos gente com experiência. Somos obrigados a dar formação, mas é arriscado. Alguns não têm mesmo sentido profissional.  Não respeitam horários e danificam os alojamentos. O ano passado tive mesmo um empregado de mesa que resolveu ir-se embora durante o serviço, e nunca mais voltou. Nem para receber."

Do lado dos empregados temporários, as queixas são várias. "Havia falta de pessoal e tínhamos de trabalhar além do razoável, naturalmente recebendo horas extra", explica uma arrumadora de quartos, que cuidava de 26 quartos por dia, e ainda fazia umas horas na portaria.

Com alimentação e alojamento incluídos, recebia 1.500 euros limpos por mês, com um único dia de descanso semanal. Perdeu 5 quilos em 4 meses. "O problema deste emprego temporário é a confusão entre o pessoal e o profissional", declara uma empregada de mesa, temporária com experiência.

"Vivemos todos juntos, divertimo-nos juntos, mas somos mais explorados que os profissionais permanentes. É assim que chegas a fazer 70 horas semanais, declaradas como 40, por causa dos impostos."

"Num destes invernos, um patrão ofereceu-lhe cocaína, para ajudar a aguentar o ritmo, e ela aceitou. "É algo comum entre os temporários. Trabalhas bastante, ganhas bastante e consomes cocaína para aguentar. Mas a dada altura uma pessoa farta-se desta ausência de vida estável."

Jessica Gourdon, LE MONDE, 05/11/2022 (article réservé aux abonnées).

Tradução de António Rebelo - U. Paris VIII

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