quarta-feira, 14 de dezembro de 2022


Sobre fanatismo não assumido

O açude a roda e a rega

Parcialmente conhecedor da mentalidade dominante na minha amada terra, estou sempre desejando que as coisas mudem para melhor, até agora em vão. Foi com esse intuito que a dada altura resolvi publicar as minhas pobres crónicas também no Facebook, rede social que raramente frequento. Durante um tempo,  parece não ter resultado. Os fanáticos não assumidos de determinada tendência política terão passado a ler, mas fazendo de conta que não liam. Nada de contrariar as e os chefes. Mesmo quando já afastados do diabo e da sua toca infecta.

Eis senão quando, ao que me informaram, parece ter havido um disparo repentino nalgumas consciências locais. Terá sido da chuva, que lavou algumas chagas? Certo, sem qualquer dúvida, é que ilustres cidadãos de algum modo enfeudados ao poder que está, não conseguiram manter o celibato opinativo escrito em relação ao Tomar a dianteira 3, o blogue excomungado, e zás: Pecaram comentando, ou inversamente.

Era aquela crónica sobre o açude do Mouchão, que após séculos de montagem em Maio e desmontagem em Outubro, não resistiu aos  novos vândalos, para os quais não havia nada de bom neste mundo, antes de eles serem adultos. De amovível, o açude passou a permanente, com os inerentes riscos de agravamento de cheias, como mostra a foto publicada e se referiu no texto.

Pois não senhor. Mesmo lidos fora do seu suporte de origem, os textos de Tomar a  dianteira 3 continuam a ser malditos e convém fugir deles como da peste. Entretanto, enquanto tal não é possível, há que ir desacreditando o seu conteúdo. A esquerda só tem a ganhar, enquanto praticar a autocracia e o monolitismo, devem pensar alguns desses fanáticos não assumidos. Está em causa a sanidade pública local.

Chegaram ao meu conhecimento, por via indirecta, três comentários a propósito da tal crónica açudeira. Não os li, nem tenciono vir a fazê-lo, para não os infectar com algum virus incurável. Já basta o fanatismo local. Ao que me contaram, dois deles têm manifestamente o mesmo objectivo: demonstrar que os socialistas autores da proeza do açude fixo estão cheios de razão, e que o autor destas linhas errou uma vez mais. O mais cómico são as justificações avançadas.

Num deles é dito que, por experiência própria, dá muito trabalho desmontar açudes, pelo que só se justifica tal prática quando pode haver prejuízos para os vizinhos, e não por causa da tradição. Não sendo o caso, o açude fixo é uma boa solução. O risco evidente de eventual inundação do Bairro das flores que se lixe, digo eu. Ou o comentador não leu essa parte?

O segundo comentador foi ainda mais escorregadio. Para ele, o problema não está na estacaria fixa, mas no facto de não terem retirado os ramos, a erva e a areia do enchimento. Até porque, acrescenta, o problema já vem do programa Polís e das asneiras então cometidas, como o parque de estacionamento e os terrenos desportivos em zona de cheia. Não percebi a ligação, mas fiquei ciente de que, para a malta politicamente canhota, os patifes são sempre os do PSD. O costume.

O último comentário é o exacto oposto dos anteriores. Aceita a argumentação exposta e acrescenta até outra linha de raciocínio. Quando resolverem candidatar os açudes amovíveis de estacaria a património imaterial da UNESCO, como vão  ordenar o processo, se entretanto a tradição já se perdeu? É também isso, caro conterrâneo. Em conjunto com o sistema de rega tradicional do Mouchão, com água da roda, que já devia ter sido reposto, a bem da pedagogia, da educação ambiental e da tradição. Talvez um dia, quando houver de novo em Tomar um executivo municipal à altura das circunstâncias, tal seja possível. Entretanto temos de ir aturando (uns mais do que outros) uns aprendizes de ditador dos mais cambutas.

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