Futuro Parque Empresarial de Vale dos Ovos

NÃO PERCEBI E NÃO DEVO SER O ÚNICO

A notícia é da Rádio Hertz online: 

TOMAR – Câmara avança para novo procedimento de elaboração do Plano de Pormenor de Vale dos Ovos | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

Fica-se assim a saber que a maioria socialista, eleita desde 2013 para tratar dos assuntos do concelho, resolveu revogar uma anterior deliberação para a elaboração do plano de pormenor de Vale dos Ovos, datada de 7 de Janeiro de 2019 -há quase 4 anos!!!- e vai agora deliberar a elaboração de um novo plano de pormenor para a mesma zona, só que desta vez "com caráter de reclassificação do solo". A duração prevista do novo procedimento é de três anos, prorrogável por outros tantos.

Não percebi quase nada. E não devo ser o único no concelho. Li aqui há tempos, já não me recordo onde, que o novo parque empresarial da Estação de Fátima, o tal Vale dos Ovos, estava apenas a aguardar a promulgação do novo PDM, para começar a receber empresas. E agora esta? Que andaram a fazer durante os quase 4 anos do procedimento agora revogado? Porquê? Para quê? Com que vantagens? Para quem?

Infelizmente, a notícia não esclarece essas e outras questões, apesar de nitidamente proveniente dos serviços de comunicação da autarquia. No século passado, quando frequentei algumas cadeiras de jornalismo por simples amor à  causa, ensinaram-me que as notícias em estilo americano devem ter um lead, ou frase mestra, que responda às seguintes perguntas: Quem? (ou o quê?) Quando? Onde? Como? Porquê?

Bem sei que os tempos mudaram e de que maneira. Mas mesmo assim, com 589 funcionários, é suposto que a Câmara de Tomar tenha nos seus serviços de comunicação pelo menos um funcionário, ou funcionária, que saiba essas normas jornalísticas elementares. Porque motivo a citada notícia não seguiu as regras da arte? Ao cabo de quase quatro anos de trabalhos, com os respetivos custos, a autarquia decidiu revogar a anterior deliberação baseada em quê? Quais são as causas? Que vantagens espera vir a obter com o novo estudo, que mesmo na melhor das hipóteses só virá a estar concluído no futuro mandato a iniciar em 2025? Já estão certos da vitória em 2025? Olhem que nunca convém vender a pele do urso, antes de matar o animal...

Os jornalistas da Hertz saberão porque se calaram, decerto não à falta de perguntas. Os outros órgãos de informação locais estão  numa situação conhecida de todos. Mas os partidos políticos da oposição, a começar pelo PSD, têm o dever perante os eleitores de tudo fazer para esclarecer aquilo que, no estado atual das coisas, parece ser um escândalo de grandes dimensões.

Se nem o autor destas linhas, que não é propriamente dos mais analfabetos do concelho, conseguiu perceber o problema a partir da notícia da Hertz, calcula-se que a esmagadora maioria da população estará na mesma situação. É o que se chama uma gestão tipo sanzala africana. O soba mandou afixar a notícia e está tudo esclarecido. Siga  a dança ritual.

ADENDA ÀS 13 HORAS DE 10/12/2022, HORA DE LISBOA

Este filme não é inteiramente original. Já houve pelo menos uma anterior edição, com o título AVESSADAS. Também aí, a autarquia decidiu anular o Plano de pormenor após alguns anos de trabalho, com o argumento de que o território abrangido era demasiado vasto, pelo que se considerava ser mais adequado optar por um Plano de urbanização.

Neste imbróglio do Vale dos Ovos, nem justificação apareceu até agora. Resolveram mudar os ovos de galinha, se calhar baseados no velho conceito segundo o qual "nunca convém pôr todos os ovos debaixo da mesma galinha", mas esqueceram-se até hoje de indicar as justificações à população que lhes paga.

Talvez se publicassem, ou enviassem a Tomar a dianteira 3, cópia da informação 18.381/2022, da DGT e respetivos anexos, a coisa ficasse mais clara. Mas deve ser pedir demasiado. Afinal, na ótica dos senhores eleitos e funcionários superiores, são os cidadãos que estão ao serviço da autarquia, e não o inverso, como nos tempos da democracia republicana. 

Mudam-se os tempos/ Mudam-se as vontades/Todo o mundo é feito de mudança/Tomando sempre novas qualidades, escreveu Camões há cinco séculos. Como era zarolho, devido a um ferimento em combate pela Pátria, só lhe restava o olho que via as qualidades. O dos defeitos foi-se em Marrocos.