sexta-feira, 2 de dezembro de 2022



Festa dos tabuleiros

Património imaterial da UNESCO?

Já aqui se abordou há semanas, a propósito da inscrição das Festas do colete encarnado, em Vila Franca de Xira, na lista do património imaterial nacional, condição indispensável para a posterior candidatura à UNESCO, o estranho caso da nossa muito querida Festa dos tabuleiros. Com uma candidatura bastante mais antiga que o Colete encarnado, pois data de 2019, a Festa grande tomarense parece continuar a marinar, uma vez que a DGPC alegadamente solicitou elementos suplementares, faltando saber quais, e assim estamos. Com a próxima edição dos Tabuleiros dentro de 8 meses.

Tomar a dianteira 3 tem-se esforçado, no sentido de obter informações mais precisas sobre os motivos que terão levado a candidatura tomarense a encalhar na DGPC. Não é fácil, como se calcula, quando se vive a 7 horas de avião de Lisboa, mas os recursos digitais facilitam muita coisa, quando aliados ao francês, língua oficial da UNESCO, cuja sede é em Paris.

Ao cabo de múltiplas tentativas, uma fonte credível, que todavia exigiu o anonimato absoluto, aceitou "abrir-se". O obstáculo que impede a aprovação pela UNESCO da candidatura dos tabuleiros, pode ser designado genericamente por "costume inaceitável à luz das mentalidades dominantes actuais". De forma mais explícita, jamais alguém terá pensado, na Europa ou alhures, candidatar o uso do hijabe, aquele lenço amplo que esconde grande parte da cabeça e pescoço das mulheres árabes, a património imaterial da UNESCO, apesar de ser também uma tradição bem antiga, que as distingue das europeias ou asiáticas, por exemplo.

Pelo contrário, em vez de candidatura a património imaterial, há uma tendência cada vez mais acentuada para acabar com o hijabe. Há até nesta altura, no teocrático Irão, um amplo e prolongado movimento popular, no sentido de liberalizar, tornando facultativo o seu uso, coisa de que os aiatolas não querem nem ouvir falar.

Da mesma forma, refere a nossa fonte, parece haver na UNESCO uma larga corrente contra tudo o que seja menorização da mulher. Sucede que, infelizmente para os tomarenses que adoram os tabuleiros, a festa é o perfeito exemplo da "mulher burra de carga", dado que durante todo o cortejo o seu par se limita a ajudar a carregar e a poisar o tabuleiro, nunca o levando ao ombro, como se fazia antigamente, assim tornando os tabuleiros uma festa "machista", pouco aceitável a nível europeu nos nossos dias, mesmo tendo em conta que todas a portadoras de tabuleiro são voluntárias.

No sentido de evitar uma rejeição da candidatura, que se perfila, fontes da UNESCO  terão aconselhado a DGPC a usar de todos os meios para protelar a inscrição na lista do património nacional, de forma a que os proponentes da candidatura (a câmara) desistam, antes do escândalo que seria a não aprovação.

Tratando-se de decisões de nível elevado, com eventuais implicações diplomáticas, referiu a fonte citada, ninguém vai confirmar nem desmentir o que seja. Mas prosseguir com a candidatura seria o mesmo que candidatar a corrida de toiros à portuguesa, uma rejeição praticamente certa.

Recorde-se que a autarquia tomarense celebrou um ajuste directo com um professor universitário, autor do processo de candidatura da Festa da Flor, em Campo Maior, no valor de 75 mil euros + IVA, para elaboração do processo de candidatura dos tabuleiros. A Festa da Flor já está inscrita na lista do património imaterial da UNESCO, mas entretanto há 6 anos que não se realiza, pois o povo campomaiorense assim tem deliberado.

2 comentários:

  1. Esta é das tais causas a que me custa aderir. Ainda ninguém me explicou as vantagens destas candidaturas. Bem, para quem as promove e anda envolvido nos processos, parece-me evidente. Daí para a frente, não sei.

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  2. Para alguns é apenas um prémio a ganhar.
    Considero que se trata de uma garantia de autenticidade e de qualidade, que obriga o governo a proteger, mas também tem obrigações. A semana passada, o comité da UNESCO reunido em Marraquexe (Marrocos), decidiu retirar a classificação de património imaterial a um determinado desfile belga multicentenário, porque incluíram um carro alegórico considerado demasiado racista. Como
    dizia o Vasco Pulido Valente, o mundo está a ficar perigoso.

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