Turismo
FUTURO MENOS RISONHO
Vou tentar reconstituir a crónica com o título supra, que se perdeu definitivamente devido a um erro de paginação, provocado pela minha evidente falta de conhecimentos em informática. Os 21 leitores que entretanto já tinham lido, farão o favor de dizer depois, caso assim o entendam, se está ou não fiel ao original, tendo em conta que é escrita "de cabeça", sem qualquer rascunho de apoio, para além do apontamento com os países referidos no LE MONDE.
Os tomarenses gostam muito de boas notícias, positivas, otimistas. Desconfio que é mesmo uma tendência regional, baseando-me na última crónica de JAE , a alma d'O Mirante e excelente conhecedor dos ribatejanos. Nesse escrito pessimista, em vez de usar o título "As notícias são más", o conceituado jornalista optou por "As notícias não são boas". Maneira airosa de dourar a pílula, na medida do possível, pois as notícias são mesmo más.
Nos mais recentes relatórios, o Comité do turismo da OCDE assinala que podem estar em curso mudanças de fundo nas tendências para os anos que aí vêm. O que significa para Portugal, e por tabela para Tomar, que pode estar a terminar a era dos sucessivos aumentos anuais, tanto de turismo interno como externo. Em que se baseiam os peritos daquela organização europeia? Nas vicissitudes deste mundo em que somos forçados a viver por não haver outro habitável.
Avultam, além da guerra na Ucrânia ainda sem fim à vista, a inflação a subir, os custos exorbitantes da energia e dos combustíveis, o receio de se ausentar para longe de casa devido à incerteza, e as preocupações com o ambiente, que conduzem a preterir o avião sempre que possível.
Durante os anos dourados anteriores à pandemia, Tomar viveu numa situação dicotómica assaz curiosa. Os privados ousaram investir, de tal forma que o concelho dispõe agora de uma excelente capacidade hoteleira, tanto clássica como de habitação. Enquanto isso, a autarquia primou pelo imobilismo e pelos erros. Durante os dez anos que já leva no poder, não resolveu nenhum dos graves problemas pendentes, designadamente na área das estruturas de acolhimento, mas encerrou o parque de campismo, acabou com o posto de turismo ao fundo da Corredoura e reduziu os lugares de estacionamento em todas as obras municipais. Caso para perguntar "que raio de política é esta?"
Além dos relatórios da OCDE, apareceu ontem um outro indício importante, a indicar que as coisas podem mesmo estar a mudar para Portugal, e não será para melhor. O conceituado jornal parisiense Le Monde, a bíblia da classe média alta (350 mil exemplares diários em papel + Internet), todos os anos por esta altura apresenta aos leitores um trabalho conjunto da sua redação, intitulado "Os vinte melhores destinos turísticos para o próximo ano". Indicam em geral dez circuitos em França, cinco viagens na Europa e outras tantas fora do nosso continente.
Nos últimos anos antes da pandemia, Portugal sempre figurou no contingente europeu, mas desta vez ficou de fora. A lista inclui só a Eslovénia, a Escócia, a Grécia, S. Tomé, Itália, México, Espanha, Canadá e Vietnam. É apenas uma lista de preferências de um grupo influente de jornalistas franceses. Mas indica que, pelo menos em Paris, Portugal deixou de ser "tendência", o que não é bom sinal. Demasiado longe para vir de carro, mas também excessivamente poluente, vindo de avião. Não me surpreenderá se vierem aí tempos menos risonhos.
No turismo como nas outras atividades humanas, quem não é bem recebido, pode não se queixar, mas não volta nem recomenda. É o que suspeito que tem vindo a acontecer em Tomar. Com dificuldades de acolhimento, de apoio e de qualidade, os visitantes não se queixam, por não valer a pena, mas tão pouco voltam ou recomendam.
Em que me baseio? Designadamente no facto de agora também já termos autoestrada, e de apesar disso Alcobaça e Batalha registarem mais entradas nos seus mosteiros do que no Convento de Cristo. E não venham os "técnicos" do costume com a argumentação da zona costeira. Sejamos sérios. Alcobaça e Batalha estão a 15 minutos do mar e a pouco mais de 30 de Tomar, pelo IC9. É tempo de em Tomar abandonarmos as fantasias, começando a encarar as coisas como elas são na realidade.
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