Coitado do turismo em Tomar!
Talvez confundindo-me com um exilado, porque também tem um pouco disso, uma alma caridosa mandou-me o "Plano e orçamento municipal para 2023", já aprovado pelo executivo e aguardando debate na A.M. Agradeço penhoradamente, pedindo contudo licença para lembrar que aqui em Fortaleza não há inverno. A temperatura é sempre a mesma, durante todo o ano. Oscila entre os 25 e os 30 graus celsius.
Digo isto, porque o referido documento é o que se pode chamar um pequeno calhamaço. Tem 218 páginas, algo que já só se usa para romances e pouco mais, sobretudo onde não há dias frios, nem lareiras apagadas (por causa da poupança de energia) para se estar a ler com a manta nos joelhos. Tratando-se, ainda por cima, de política e economia, dá logo vontade de passar a outra coisa, mais alegre e excitante.
Estas "grandes opções do plano e orçamento" (é assim que se diz) para 2023 são formalmente, importa reconhecer e louvar, uma bela peça, bem articulada, com uma escrita impecável, coisa cada vez menos corrente pelas margens nabantinas. Infelizmente, quanto ao conteúdo...
Tomar acolhe anualmente, em média, cerca de 500 mil turistas, apesar de não dispor de boas condições para os receber. Faltam adequadas estruturas de acolhimento e uma ideia de futuro, que nos possa colocar ao lado dos melhores (Toledo, Granada, Veneza...). O facto de o Convento estar afastado do centro urbano, esconde a vergonha que é a falta de estacionamento nas proximidades. Sobretudo aos fins de semana, e durante a "alta estação" (Junho, Julho, Agosto, Setembro), os visitantes invadem terrenos privados, ocupam as bermas todas onde é possível, e mesmo assim os autocarros chegam a ir estacionar junto aos Pegões.
Perante tão triste situação, esperava-se que desta vez a maioria PS tivesse tido a coragem de começar a planear as inevitáveis e urgentes estruturas de acolhimento turístico, que além de financiáveis com fundos europeus, até serão rentáveis. Qual quê!
Na página 49 do documento antes citado, pode ler-se apenas isto:
"Objetivo 3 -Desenvolvimento económico
TURISMO
No desenvolvimento económico destaca-se a importância dada ao turismo, à Festa dos tabuleiros de 2023 e ao conjunto de eventos, cujo montante alocado é expressivo em termos orçamentais."
Turismo 2.090.000€"
Valha-nos Deus! Então e os planos? E as ideias novas? E as estruturas? E as obras? Julgam que o turismo é só conversa, como a política? Pretendem iludir os deputados municipais com o "montante alocado, expressivo em termos orçamentais". Talvez seja, para quem não tenciona fazer nada de novo nem de grande, pois cerca de metade vai para os tabuleiros. E o restante será para as festarolas da Filipinha. De resto, algumas linhas mais abaixo, fica-se até a saber que "Educação cultura e desporto" arrecadam 5.872.295, mais do dobro do "montante expressivo" alocado ao turismo. Com boa parte para mais eventos gratuitos.
Com opções destas, que até incluem uma desnecessária nova ponte entre o Mouchão e a Várzea pequena, (a quarta!) continuamos no rumo certo, a caminho do marasmo total e da irrelevância. Pobre terra, que merecia e merece melhores ideias, melhores planos e melhores autarcas!
Na falta de ideias, lanço uma ao calhas - existe um território que não se governa nem se deixa governar - o Convento, a Cerca, o Aqueduto, A Ermida NS Conceição, o antigo Hospital Militar (ala gigantesca do Convento), a FAI, o Convento de S. Francisco.. enfim um conjunto monumental com 50ha que CMT, ICNF, DGTF, DGPC não querem saber - é a terra de ninguém e de todos..
ResponderEliminarSe tudo fosse agregado numa entidade de capitais públicos e com gestão autónoma, acesso a novas fontes de receita: eventos, uma concessão hotel no antigo hospital (ver H MOntebelo Alcobaça), um auto-silo na encosta/logradouro do convento S.Francisco, com acesso direto à Mata Nacional, com elevadores..
E que tipo de entidade poderia ser - em Sintra era o mesmo banzé e criaram a PSML.. se é perfeita? claro que não, mas vai funcionando..
A Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A. (PSML) é uma empresa de capitais exclusivamente públicos, criada em 2000, no seguimento da classificação pela UNESCO da Paisagem Cultural de Sintra como Património da Humanidade (1995). A sua criação teve como objetivo reunir as instituições com responsabilidade na salvaguarda e valorização dessa Paisagem, tendo o Estado Português entregado a esta sociedade a gestão das suas principais propriedades na zona. Não recorre ao Orçamento do Estado, pelo que a recuperação e manutenção do património que gere são asseguradas pelas receitas de bilheteiras, lojas, cafetarias e aluguer de espaços para eventos.
São acionistas da PSML:
a Direção-Geral do Tesouro e Finanças (35%),
o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (35%),
o Turismo de Portugal (15%)
e a Câmara Municipal de Sintra (15%).
Seria uma excelente plataforma inicial de discussão. Já ficaria contente com uma empresa de capitais públicos para gerir o Convento, a Cerca e os Pegões, ainda sob a égide do Estado, enquanto o quartel de S. Francisco foi doado ao Município de Tomar nos anos 80 do século passado, sendo portanto mais fácil a sua integração.
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