Açude fixo do Mouchão
Depois são capazes de dizer
e jurar que ninguém avisou
A imagem é do Tomar na rede, a quem agradecemos. Mostra bem a situação muito perigosa existente entre o Mouchão e a Várzea Pequena. Durante centenas de anos, centenas de tomarenses experientes montaram e desmontaram anualmente açudes tradicionais no rio Nabão, respeitando a tradição.
Apesar dos custos anuais da desmontagem, sempre a mesma foi feita, em conformidade com a lei e os costumes. Visava-se assim evitar, na medida do possível, que o Nabão galgasse a margem, invadindo no caso o Bairro das Flores e mais a sul, a partir do fundo da rua do Camarão.
Chegou o pessoal da maioria PS local e concluiu que os outros, os que gastavam dinheiro e tempo para desmontar o açude no outono, assim respeitando a lei a e a tradição ancestral, afinal eram todos uns trouxas, ignorantes das coisas do Mundo e adversários do progresso e da modernidade.
Vá de montar um açude com estrutura de madeira, mas muito mais pesada, fixada no fundo do leito, com poucas ou nenhumas possibilidades de remoção, salvo cortando à serra mecânica. E assim o açude vem ficando durante todo o ano, contrariando a tradição e a lei antiga, que se calhar também já foi revogada. Normalmente, tudo o que incomoda os eleitos, ou os funcionários superiores, é revogado.
Situação muito mais cómoda para o pessoal braçal da autarquia, que assim deixou de andar anualmente, dentro da barca camarária, a bater estacas com maço de madeira, e depois a remover tudo aquilo, para deixar livre o leito do rio. O pior são as cheias periódicas. A imagem mostra bem o perigo da solução encontrada pelos cérebros ao serviço da maioria socialista.
Se, com uma pequena subida -pois apesar de ter chovido muito, as terras estavam demasiado secas e beberam muita água- a corrente ficou a praticamente um palmo do jardim, a montante do açude, imagina-se com facilidade o que vai acontecer, quando ocorrer uma cheia a sério. Daquelas que já atingiram meio metro, bem marcado na cantaria da esquerda da porta da Farmácia Torres Pinheiro, à entrada da Corredoura.
Podem dizer os fanáticos da asneira que, de qualquer modo, se e quando houver uma cheia dessas, o Nabão invadirá a parte baixa da cidade, com ou sem açude permanente no Mouchão. É verdade, porém com um detalhe que pode vir a fazer toda a diferença. Como bem mostra a imagem, há um desnivel de cerca de meio metro entre os dois lados do açude, a montante e a juzante.
Agora imagine quem lê, a diferença que pode haver entre uma inundação com mais meio metro de altura, e outra normal, digamos assim. Por favor pensem nisso e procedam em conformidade, pois se ocorrer uma desgraça grave, os mesmos que aconselharam o açude permanente para evitar despesa e trabalho -sobretudo trabalho- são bem capazes de vir dizer que nunca ninguém os alertou para o perigo do açude fixo.
Fica esta nota, para memória futura. Oxalá nunca mais venha a ser necessário escrever sobre o assunto, para lamentar desgraças graves.
Bastante lido, estranha-se que nem um único leitor tenha considerado útil comentar. Deve ser devido à chuva e às inundações, pois segundo me constou há vários comentários no Facebook que, como todos sabemos, é outro nível. Mais elevado, claro. E assim não se molham nem molham os sapatos. Boa saúde e boa disposição, é o que se deseja a todos. Mesmo aos autores do perigoso açude fixo.
ResponderEliminarDou-lhe duas respostas, até:
EliminarA primeira, a do açude, para concordar com os riscos, que não sei se foram avaliados, da estrutura inamovível: subida do nível das águas a montante e aumento da velocidade a jusante. Além disso cria-se uma zona de retenção de detritos que não me parece conveniente. Ao todo, são riscos evidentes de inundação, estragos nas margens e também da poluição passar por Tomar mais depressa. Talvez tenha sido esse o efeito desejado, mas pouco eficaz.
A segunda resposta, é mesmo sobre a poluição.
A sociedade civil tenta mobilizar-se mas só consegue evidenciar a sua incapacidade de tratar do problema.
E acima de tudo a incapacidade de lidar com aldrabões da pior espécie.
Deixo uma cronologia improvisada:
Política ao minuto, 3 de fevereiro de 2017
https://www.noticiasaominuto.com/politica/735189/psd-estranha-que-ministerio-nao-tenha-detetado-poluicao-no-rio-nabao
Pergunta a 23 de dezembro de 2016, questionando o Ministério do Ambiente sobre a "informação que dispunha sobre a situação e qualidade ambiental do rio Nabão"
Ministro do Ambiente respondeu desmentindo a existência de poluição no rio Nabão
mediotejo.net, 6 de março de 2018
https://mediotejo.net/tomar-presidente-da-camara-vai-reunir-com-ministro-do-ambiente-por-causa-da-poluicao-no-nabao/?amp=1
A presidente da Câmara de Tomar anunciou que vai reunir com ministro de ambiente por causa da poluição do Rio Nabão.
Cidade de Tomar, 16 de abril de 2021
https://www.cidadetomar.pt/2021/04/16/destaque/hoje-em-tomar-ministro-do-ambiente-afirmou-que-obras-para-resolver-poluicao-no-nabao-vao-ser-financiadas-atraves-do-proximo-quando-comunitario/
Ministro do Ambiente afirmou que obras para resolver poluição no Nabão vão ser financiadas.
mediotejo.net, 17 de abril de 2021
https://mediotejo.net/tomar-projeto-de-22-me-para-intervencao-no-nabao-vai-ter-financiamento-comunitario-ministro-c-audio/
Projeto de 22 milhões de euros para intervenção no Nabão. Há todas as condições para que, ainda este ano, se possam iniciar os processos conducentes à resolução do problema.
As eleições autárquicas portuguesas de 2021 foram realizadas em 26 de setembro de 2021.
O Mirante de 8 de dezembro de 2022, pg. 27
Tejo Ambiente investiu 25,5 milhões de euros. 4% na reabilitação da ETAR de Seiça (1,02 milhões de euros).
Está previsto investirem mais 949 mil euros.
Pois é. Desde negar a existência do problema, a prometer dinheiro com fartura antes das eleições, até fazer umas cócegas na ETAR que não resolvem nada, por si só, quem manda anda a gozar com os nabantinos.
A presidente mostra-se completamente desorientada.
Temos que nos habituar a viver com o esgoto (em sentido figurado e literal), por muito mais tempo.