segunda-feira, 26 de dezembro de 2022


Política local

-Elementar, meu caro Dr. Watson!

Já lá vai o tempo em que se liam os policiais do inglês Conan Doyle, com Sherlock Holmes e o Dr. Watson como personagens principais. Agora só se for nalguma série TV, com episódios calibrados de 50 minutos, e dois intervalos para publicidade. Os tempos não estão para grandes leituras. É pena, porque o método indutivo-dedutivo daquele detective britânico permite compreender melhor a política, mesmo em Tomar, quando correctamente aplicado.

Em que consistia esse método? Em considerar todos os factos e indícios, para daí deduzir a solução do crime, do mistério ou do enigma. É à vontade do freguês, neste caso de quem lê. Ficou célebre a interrogação dedutiva "Elementar, meu caro Watson: Quem beneficiou com o crime?"

Usando o mesmo raciocínio em relação às tranquibérnias locais, conseguem-se conclusões nem sempre esperadas, porém indesmentíveis. Vejamos. O mais recente escândalo, (modesto porque em Tomar é tudo modesto, excepto o Convento de Cristo e a arrogância de alguns camaristas), foi aquele estranho caso das quatro ambulâncias avariadas ao mesmo tempo. Quem beneficiou com a triste ocorrência? Indiscutivelmente dois grupos -os que pretendem melhor equipamento rolante para os bombeiros e os opositores à actual maioria. Um deles difundiu a notícia. De certeza.

No caso do açude de madeira do Mouchão, que de amovível anualmente passou a fixo, quem beneficiou? Segundo a senhora presidente, foi a Câmara, que passou a poupar cerca de oito mil euros anuais (!). Vendo contudo com mais atenção, induzindo mais elementos, lá aparecem dois .grupos: quem forneceu e instalou o açude fixo, por um lado, e por outro lado os funcionários municipais, que deixaram de ter a chatice anual da montagem e da desmontagem, ambas a exigir bastante esforço físico, o que vai contra as normas tomarenses. Tudo pelos funcionários municipais, nada contra os funcionários municipais. Os votos deles e das famílias dão muito jeito, num eleitorado cada vez mais encolhido.

O que contribui para esclarecer outra situação assaz complexa, que já vem de há anos e promete estar para durar. Trata-se das Unidades de planeamento, Planos de pormenor e Planos de urbanização, constantemente em evolução, com alterações em cadeia, culminando em geral na revogação e substituição. (Ver crónica anterior, do vereador Tiago Carrão)

Quem beneficia com tais situações abstrusas? O município certamente que não. Tão pouco os cidadãos potenciais investidores, que querem é clareza, justamente aquilo que falta quase sempre em Tomar. Restam portanto os próprios autores e intervenientes, que além de andarem entretidos, aproveitam para endrominar quem calha, segundo as suas conveniências, e daí extrair benefícios substanciais. Não é só na política que aquilo que parece é. Acontece também nas obras, no urbanismo e na gestão do território. -Elementar, meu caro Dr. Watson!  Uma sacanice dá sempre nas vistas.

Tudo pelos funcionários, nada contra os funcionários, também tem os seus custos, forçosamente. Ninguém dá nada a ninguém. Havendo algo na mesa para repartir, todos se fazem convidados. Só se de todo não puderem. Ainda hoje, mais de quinze anos volvidos, António Paiva é considerado maldito em Tomar, por ter resolvido mudar de cardápio na autarquia, para o que começou por providenciar a saída da então cozinheira chefe, que até cozinhava na cama.

Camões nem sempre viu bem, decerto por ser zarolho. Em Tomar, Mudam-se os tempos, mantêm-se as vontades/ Todo o mundo é feito de mudança mas ficam sempre as maldades.

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