sexta-feira, 16 de dezembro de 2022



Mesmo na política não vale tudo

Falta de dignidade e de respeito pela verdade

Sempre pensei que toda a gente sabia a diferença entre uma peixeira e uma presidente de Câmara. Estava enganado. Há quem ainda confunda as duas funções. Na sessão de ontem da Assembleia Municipal, que aprovou o Orçamento e Plano para 2023, por 14 votos a favor, 13 contra e 4 abstenções,  na minha modesta opinião, a senhora presidente não esteve à altura do cargo para que foi eleita, pelo menos durante uma longa resposta mentirosa.

Alguém abordou o problema do açude do Mouchão, que de desmontável anualmente passou a fixo, por decisão de Anabela Freitas, assim aumentando os riscos de inundação e quebrando uma tradição centenária. Como sempre, convencida de que não erra, pelo que não aceita críticas, a resposta presidencial foi de uma indignidade chocante: Nem sequer se preocupou em respeitar a verdade factual. Foi tipo carga de cavalaria.

Disparou que o açude é fixo, o que só acontece desde há poucos anos. Antes, era montado e desmontado anualmente, como bem sabem todos os conhecedores das tradições tomarenses. Primeira mentira. E como uma desgraça raramente vem só, apareceu logo a segunda. Referiu os livros de Nini Ferreira, para apoiar o seu ponto de vista. Uma trafulhice. O Nini, que conheci bem e com quem tive a honra de privar, era um defensor do Nabão e um bom conhecedor das tradições locais. Nunca escreveria semelhante bacorada. Desafio a senhora a indicar o título da crónica ou do livro, a página e o parágrafo em que Fernando Nini Ferreira tenha escrito que o açude do Mouchão era fixo, antes desta  maioria autárquica.

Terceira indignidade, afirmou a distinta senhora que o açude fixo não representa qualquer perigo adicional de  inundação, até porque a autarquia mandou limpar todo o curso do rio, que por isso não saltou as margens desta vez, apesar de a enchente ter atingido os 3 metros no Agroal.

Embora compreendendo que a Câmara queira valorizar o trabalho de limpeza efectuado, que foi útil, faço votos para que, em futuras chuvadas intensas, o Nabão não venha a ultrapassar os três metros e oitenta no Agroal. Porque quando isso acontecer, a corrente vai mesmo galgar a margem, a começar pelo obstáculo do açude do Mouchão, e não vai ser nada bonito.

Este crónica só foi escrita por se tratar de um blogue para memória futura, pelo que convém haver registo. Caso contrário nada diria porque, sem qualquer preparação médica adequada, sempre tive tendência para me manter afastado de casos patológicos. E a obstinação é uma patologia.

Quando, no passado dia 13, preocupado com a segurança dos conterrâneos do Bairro das flores, onde habitei, intitulei a crónica "Depois são capazes de dizer e jurar que ninguém avisou", julgava saber o que a casa gasta. Estava enganado. Infelizmente, gasta muito mais e muito pior. Resta aturar até 2025, se ainda por cá estiver.

2 comentários:

  1. Parece não haver dados (públicos) que possam dizer se o açude fixo do Mouchão possa potenciar cheias mais gravosas, mas é óbvio que é um obstáculo no leito do rio.
    Para tirar teimas (afinal são pessoas e bens que podem estar em risco..) é fazer estudos de dinâmica fluvial e logo se verá se ajuda, ou pelo contrário agrava.. galgamento do açude real, velocidades de escoamento mais elevada, erosão das margens e fundações de construções junto ao rio, etc etc
    Aparentemente em 2016 foi iniciado um estudo desse tipo…..:
    https://protegetomar.wordpress.com/2016/05/16/quatro-anos-e-meio-depois-de-inciados-os-contactos-monitorizacao-da-bacia-do-nabao-avanca/ por esta altura já deveria haver algumas conclusões/recomendações..

    Por outro lado o Regulamento do PDM diz que nas zonas inundáveis não é admitida a realização de operações urbanísticas suscetíveis de alterarem o relevo natural ou constituírem obstrução à livre passagem das águas.. E tenho ideia que a "negociação" com a APA sobre a delimitação das zonas ameaças por cheias (ZAC) apenas incidiu a jusante da ponte nova.. (no PP Flecheiro está lá essa planta- que fundamentou a suspensão parcial do mesmo), mas lá está não existe muita informação.. as pessoas acabam sempre por querer mais sacos de areia do que uma resma de papel

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  2. Nestes dias, fui passando os olhos por umas fotos e videos do rio, nada de extraordinário (já nem a poluição se estranha..). Mas depois surgem declarações/opiniões que estranhei, até porque:
    1. A montante de Tomar só existe uma estação de monitorização da APA (no Agroal) mas que aparentemente está avariada há anos (https://snirh.apambiente.pt/snirh/_dadosbase/tempo_real/pagina.php?cod_est=15G/02H), por isso se em Tomar quiserem dormir descansados.. têm que ir fazer passeio ao Agroal
    Nota: a bacia do Nabão tem 1000km2 na sua foz e no Agroal 600km2.

    2.Não havendo monitorização automática, Tomar tem que empenhar recursos da Proteção Civil para aferir visualmente o caudal do rio no Agroal.. Informações essas que nem sequer são disponibilizadas online. Inenarrável
    https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=pfbid035uLdvyaUfLpV8C9C7x8iFRQ1HEaqZqZuLoQyxZUaW3hAxKoktSgXKbt8axRgtqRul&id=100063665616351

    3.Mesmo que a estação da APA não funcione (e não é só a higrométrica, também é a de qualidade da água..) porque razão não instalam uma da proteção civil ou uma webcam (e não digam que RGPD não permite Meo BeachCam tem em todo o lado incluindo rios)

    4.Segundo Proteção Civil Tomar, o nível máximo histórico registado no Agroal ocorreu em 2013, com 5,4m (e já com o perfil do leito de rio atual, após as obras na praia pluvial promovidas pela Câmara Municipal de Ourém).
    Ainda assim, nessa altura o rio não extravasou o seu curso no centro da cidade de Tomar (tendo sido colocadas proteções junto à Levada) , mas com inundação a jusante entre a Ponte da Marianaia e o Açude da Matrena)
    https://protegetomar.wordpress.com/2013/04/01/tomar-resistiu-a-che-ia/

    5.pelo que li, o nível registado no Agroal na semana passada (13/Dez/2022) foi de 3m, o que até é inferior ao nível de alerta estipulado pela Proteção Civil Tomar em 2011 (3,3m, já com o conhecimento do comportamento do rio após as obras do Polis)

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