quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Autarquia

A tentar justificar o injustificável

É o costume. Até agora sobretudo através da Rádio Hertz, desta vez também n'O Mirante, a presidente da Câmara gasta uma parte do seu tempo e da sua paciência a tentar justificar o injustificável. Agora calhou àquela extravagância natalina instalada na Praça da República. 

Segundo a senhora, aquilo é arte e a arte paga-se, coisa de que ninguém duvidou ou duvida. O problema foi o ajuste direto, mas parece que é possível, tratando-se de obras artísticas, exemplares únicos. O carrossel parisiense, por exemplo, não pode ser também londrino. Por conseguinte, segundo Anabela Freitas, aquilo é único no país. Pois seja. A arte já serve para tanta coisa, que também pode servir para fintar a  legalidade. A arte de contornar a lei e viver feliz. 

Do que ninguém me conseguirá convencer é que gastar duzentos mil euros numas brincadeiras infantis para 20 dias de quadra natalina, é boa gestão municipal, numa cidade em acentuado declínio demográfico. Mas disso a presidente não fala, por razões que se entendem. Apenas procura manter-se no poder até 2025. Quem vier a seguir que se amanhe, se puder.

Outra questão que me preocupa é a do orçamento municipal, a discutir na AM do próximo dia 16. A presidente ainda não justificou publicamente o documento, mas não deixará decerto de o fazer. Longe do vale nabantino, fui comparando. Abrantes tem um orçamento de 43 milhões de euros para 34 mil habitantes, e um funcionário municipal para cada 67 habitantes. Tomar apresenta um orçamento de 51 milhões para 36 mil habitantes, e um funcionário municipal para cada 62 habitantes. Ourém avança um orçamento de 56 milhões e um funcionário municipal para cada 88 habitantes. Nítido excesso de funcionários camarários em Tomar. Pior só em Torres Novas: 1 funcionário municipal para cada 59 habitantes.

Fazendo uma operação elementar, que consiste em dividir o total do orçamento pelo total de habitantes, obtém-se um resultado algo surpreendente, comparando os três principais concelhos do Médio Tejo. O de Abrantes corresponde a 1.264 euros por habitante, o de Ourém a 1.272 euros por habitante, e o de Tomar  a 1.472€. Parecemos assim um concelho rico. Prevemos gastar  em 2023 mais 200 euros por habitante do que em Abrantes ou Ourém.

Com quê? Ora ora! Subsídios, ajudas, eventos e festarolas. É como dizia o Nini Ferreira: "Festa na rua, foguetes no ar, estamos em Tomar!" E viva a Filipinha! O pior é o resto. Como tenciona a Câmara arrecadar os tais 51 milhões orçamentados? Naturalmente indo aos bolsos dos contribuintes. Mas o tomarense, de mão estendida e a olhar para a gamela, está sempre convencido de que só irão aos bolsos dos outros...

Não sou deputado municipal, felizmente. Quando fui, nos idos de 80, só aguentei metade do mandato, após o que desandei, mesmo sem calçar os patins. Mas se ainda tivesse assento na AM, votaria contra este orçamento, fossem quais fossem as explicações e as implicações. Porque, numa terra com tantas carências estruturais, apresentar como obras mestras para 2023 um relvado junto ao Nabão, que só vai servir para levar os cães a urinar, e um edifício novo para os serviços administrativos da própria Câmara, é um ultraje ao bom senso. Como diria o RAP,  "Isto é gozar com quem trabalha e paga os seus impostos." E uma evidente falta de respeito por quem visita a cidade e deixa o seu dinheiro.

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