quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

 

Política local

O íntimo desconforto 

dos apoiantes socialistas locais

Habituados à política pura e dura desde o duplo regicídio da Revolução francesa, há mais de dois séculos, os franceses, se habitassem em Tomar há alguns anos, diriam simplesmente "Il fallait s'y attendre". Que é como quem diz, em língua lusa, "já era de se esperar". Deslumbrados com a inesperada vitória que lhes caiu no colo em 2013, os costistas locais nunca perceberam, nem quiseram compreender, o que lhes aconteceu. A euforia excessiva tem dessas coisas.
Em vez de aceitarem a realidade, considerando que foi o PSD que perdeu e não propriamente eles que ganharam, preferiram a fantasia triunfalista e agiram em consequência. Enquanto foram negociando, com dinheiros públicos, o apoio da informação local, difundiram a versão segundo a qual quem os criticava eram invejosos, ressabiados, inimigos pessoais, ou estavam feitos com o PSD, os culpados de tudo.
Enquanto os social-democratas, por razões que não cabe agora analisar aqui, foram assumindo a posição de oposição colaborante, as tretas socialistas foram funcionando e intrujando o eleitorado. Tomar na rede e Tomar a dianteira 3 eram, para o núcleo duro dos costistas locais, órgãos malditos, difundindo só doutrina falsa e pecaminosa.
Pouco a pouco, insensivelmente, o ambiente mudou. Com a vitória de Montenegro no PSD, passou a haver oposição a sério na Câmara de Tomar, de que é exemplo este relato enviado à informação local pelos social-democratas tomarenses: "Na reunião do executivo de 26 de Dezembro, o vereador Tiago Carrão apontou este final de ano como um "desastre" para a governação socialista que, nas últimas semanas, foi notícia nacional pelas piores razões (Público, SIC, TVI, Correio da Manhã, Polígrafo): eventuais irregularidades na contratação pública de Tomar Natal, preços das casas a aumentar 30%, ambulâncias avariadas, poluição no rio Nabão." (PSD Tomar, informação à imprensa sobre a reunião camarária de 26/12/2022).
Todos cheios de si próprios, ao terem conseguido, sem olhar a meios, forçar quem escreve estas linhas a deixar de colaborar no Tomar na rede, alguns apoiantes PS locais, também deixaram afinal de comentar naquele blogue, mesmo sob pseudónimo, decerto envergonhados por terem usado termos e frases inqualificáveis, que os desclassificaram aos olhos dos conterrâneos. O remorso não mata, mas mói.
E agora, quatro meses mais tarde, eis que aparecem alguns, poucos,  também sob pseudónimo, "a pedir batatinhas", aqui no antes considerado covil do diabo. "Deixe-se disso, você até foi amigo do Mário Soares, escreva um livro, não gaste a sua inteligência com miudezas, parece que tem gastrite intelectual, diz mal de tudo por dá cá aquela palha", etc. etc. O que permite perceber quão grave deve ser o desconforto, entre os eleitos da maioria e os seus apoiantes mais activistas.
Usando vocabulário do camarada Costa, direi apenas habituem-se!  Passem a agir como eleitos dialogantes, se querem evitar uma tragédia em 2025. Digo isto, porque me recordo bem de um célebre debate, no primeiro canal da TV francesa, entre um membro do comité central do Partido comunista francês e o cardeal arcebispo de Paris. Também aí as posições eram fortemente antagónicas e afastadas, como se calcula.
O que mesmo assim permitiu um longo diálogo franco e fraterno, entre dois franceses cultos, separados pela política. Um representava a classe operária, o outro os crentes católicos.
Várias vezes o cardeal arcebispo aceitou serem verdadeiros os dramas relatados pelo comunista, mas acrescentou sempre: - "Estamos de acordo, é horrível tudo isso que acaba de relatar. Mas olhe para cima, para a salvação, que é o bem supremo". E o comunista (também católico praticante) anuindo: -"Pois seja! Mas porque não olha o senhor cardeal também cá para baixo, para a miséria e os dramas que por aí há?"
Neste pequeno drama tomarense que estamos vivendo, não há cardeais nem comunistas envolvidos. Apenas um velho socialista soarista, de antes do 25 de Abril, e alguns jovens socialistas costistas, naturalmente ainda com o sangue na guelra. Deve portanto ser fácil conviverem sem incidentes perniciosos, tendo sempre em conta uma atitude que Mário Soares ensinou, pelo exemplo, durante o seu exílio em Paris, após S. Tomé: "O direito à indignação exerce-se e não é negociável".


4 comentários:

  1. Professor Rebelo, nunca li um escrito seu mais descabido e revelador do seu desnorte político do que este. Leia-o lentamente, de princípio ao fim. Se Mário Soares fosse vivo e lesse este seu texto, ejetaria um tal escarro que não sei bem onde iria projetar-se.
    O professor deixou o tinto e anda agora no bagaço?

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    1. Podia ter eliminado este comentário, uma vez que tenho o controle prévio. Não o fiz para que os leitores possam apreciar o fino recorte literário, a envergadura analítica e a franqueza de quem escreve sob pseudónimo e vive tranquilamente entre os tomarenses pacatos.
      Para o próprio autor da coisa: Cada qual pode escrever os disparates que entender, como está à vista. Não deve é inventar opiniões alheias. Quem é que lhe disse que o Mário Soares, se fosse vivo, etc. etc.? Foi você que com ele conviveu e partilhou algumas vezes a mesa, ou fui eu?
      É lamentável indicar apoios que nunca existiram, para apoiar opiniões que valem o que valem, vindo de onde vêm. Se ao menos mostrasse a cara...

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  2. Só para esclarecer e que fique claro que não sou nem nunca fui apoiante desta maioria, essa da gastrite intelectual ficou, paciência, passa com renie, abraço, feliz ANO NOVO.

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    1. Se nunca foi nem é apoiante da maioria PS, então porque o incomoda o meu pretenso excesso de crítica? É contra a liberdade de opinião? Defende o regresso da santa inquisição?
      Sobre a alegada azia, a que chama gastrite, felizmente sempre comi de tudo sem problemas digestivos. Deve ser por não beber álcool.

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