sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Política municipal

Uma autarquia com feudos?

Faltando conhecer os antecedentes, para usar linguagem da casa, prosseguem as negociações para a utilização dos terrenos a poente do Convento de S. Francisco. Até à data, não adiantou nada, só irritou como é costume, lembrar que há muito espaço livre, a carecer de requalificação dentro do próprio edifício, que é gigantesco para os parâmetros locais. Tão pouco produziu qualquer efeito, que se saiba, o alerta para encontrar e ler com cuidado os documentos referentes à cedência do "Quartel de S. Francisco" à Câmara, pelo então Ministério do Exército, bem como  a posterior venda ilegal pela Câmara da parte norte do conjunto edificado recebido por doação. Assim se vai gerindo em Tomar, em finais de 2022...

Segundo as declarações da senhora presidente, os terrenos em questão, uma vez comprados ou alugados, vão servir para construir um grande edifício que albergará os serviços administrativos da autarquia. Não se vê bem quais possam ser as vantagens, tanto mais que nunca constou na urbe que haja falta de espaço para os serviços da autarquia, mas enfim. Opções são opções, mais a mais legitimadas pelo voto, pensará a senhora erradamente, uma vez que nunca submeteu essa escolha aos eleitores.

Surge agora o senhor vice-presidente a declarar que vão ser instalados, na sede da antiga cooperativa Nabância, os serviços municipais de protecção de crianças e adolescentes, e que para mais tarde está prevista igualmente a instalação dos serviços sociais da autarquia.

Em que ficamos afinal? Vão todos para S. Francisco, dentro de x anos, ou cada vereador tem o seu feudo, com instalações próprias, separadas das outras? Conhecendo um bocadinho a casa, (onde até já se edificaram gabinetes interiores precários, para isolar determinado funcionário superior, sob a alegação de odor corporal demasiado intenso), parece que a ideia peregrina do centro administrativo em S. Francisco terá vindo de quadros superiores desejosos de que as suas visitas não sejam vistas, nem pelos eleitos nem pela população. E para isso, realmente, S. Francisco é bem mais discreto que a Praça da República.

Há porém outra explicação plausível. Tanto a presidente como o seu vice sempre foram funcionários públicos "de primeira linha", o chamado "front office", o horror dos quadros superiores, sobretudo daqueles que nunca foram escolhidos por concurso público aberto. Vai daí, decidiram inculcar nos dois eleitos chefes a ideia de separar o trigo do joio de uma vez por todas. Eleitos e funcionários superiores de 2ª linha numas instalações, funcionários de 1ª linha (atendimento ao público) noutras.

Com um bocado de sorte (ou de azar, dependendo dos pontos de vista), dentro de alguns anos vamos ter a presidência da Câmara e os seus funcionários de apoio nos Paços do Concelho, a vice-presidência e os seus funcionários de apoio no mesmo edifício, mas do lado oposto, a vereadora do turismo onde já funciona, na Cândido Madureira, e dos serviços sociais na Nabância. Quanto aos cemitérios, parques e jardins, vão continuar na velha abegoaria municipal, 

Eventualmente haverá também uns gabinetes para os vereadores da oposição, com secretariado de apoio, enquanto de portarem bem, nos Paços do concelho. Caso contrário, vão para a antiga biblioteca municipal, em conjunto com a AM.

Então e o Convento de S. Francisco, perguntará a leitora ou o leitor. Boa pergunta, mas algo prematura por enquanto. Muito vai depender dos "concursos" para prover finalmente algumas chefias, há dez anos em regime de substituição. Só depois se saberá se vai para S. Francisco unicamente a DGT e agregados, ou se irão também o DOM e a DF. Os chefes nunca eleitos é que vão decidir. É pouco digno numa democracia europeia, mas quando os políticos estão dispostos a todas as cedências para se manterem no poder, é o que está à vista, para quem saiba ver.

Cita-se muito aquele "Mudam-se os tempos/Mudam-se as vontades", do Camões, mas poucos reparam no terceto final do poema, até porque o vocabulário é complexo:

"E afora este mudar-se cada dia

Outra mudança há de mor espanto

Que não se muda já como soía"

Se há cinco séculos Camões se lastimava que a mudança já não se fazia como era costume (como soía), agora imaginem em Tomar, em 2023 ou mais adiante.

ADENDA

Com esta crónica pronta para publicação, a Hertz noticiou que a antiga sede da PSP pode vir a acolher um "ninho de empresas": https://radiohertz.pt/tomar-palacio-alvim-podera-ter-finalmente-destino-a-vista-ninho-de-empresas-podera-nascer-naquele-emblematico-edificio/

Acrescenta a notícia que o executivo municipal vai debater o assunto na próxima segunda-feira, dia 26 de Dezembro, em conjunto com um auto de vistoria e a recepção final das obras do telhado.

Pra se ter uma ideia do ritmo infernal das obras camarárias, acrescente-se que neste caso do Palácio Alvim, estão concluídas há mais de cinco anos. Por este caminho, vamos ter ninho de empresas, se for essa a opção retida, lá para final do próximo mandato camarário 2025-2029. E quem lhes garante que o sucessores serão da mesma opinião?




Sem comentários:

Enviar um comentário