segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Dado não haver recursos para um exemplar único, com assinatura e exclusividade, Tomar a dianteira 3 teve de se contentar com este.

Política local

O inconveniente 

de contar histórias às criancinhas

Não sou desse tempo. Só muito mais tarde apareceu em Portugal essa prática de contar ou ler histórias às criancinhas, para as adormecer. É claro que os pais ou avós o fazem sem qualquer intuito de vir a importunar terceiros, dezenas e dezenas de anos mais tarde. Mas o facto é que, por vezes, esse hábito da infância leva os que dele beneficiaram a usá-lo noutras circunstâncias e com outro objectivo -o de intrujar o pessoal, de forma a manter-se no poder, por exemplo.

Longe do país, não arriscarei casos de âmbito nacional, que também os há e muitos. Tenho contudo duas ou três historinhas locais que julgo valer a pena ler. Não falarei da respectiva  autoria, pois os leitores  vão saber tirar as suas conclusões. Afinal estamos entre pessoas adultas e bem formadas, não é verdade?

1ª Historinha

Era uma vez um rio muito bonito, muito sujo e muito poluído, que passava por uma terra muito linda, mas muito parada no tempo. As autoridades locais, vendo que nada podiam fazer quanto à poluição e ao marasmo, sendo aquela provocada por uns amigos, mandaram limpar o leito do rio e depois anunciaram aos quatro ventos que o rio limpo já não voltava a sair das suas margens. A menina a quem contaram a historinha perguntou então - Mas se limparam tudo tão bem, porque ficou aquele açude de madeira no centro da cidade, que dantes era sempre retirado no inverno? - Porque não é sujidade, minha filha. Foi montado, com as devidos cuidados, para não agravar as cheias. Basta olhar para as fotografias recentes. É um açude bem educado. Era o que faltava agora, um açude municipal de madeira a agravar  as cheias. Ninguém lhe deu autorização para isso! Não tem licença para tanto! Dorme bem, meu anjo!

2ª Historinha

Era uma vez uma terra muito linda, com muitas coisas para ver, mas onde não havia estacionamento nem comodidades para todos os visitantes. Para esconder essa situação, quem governava aquela terra andava sempre a dizer que o incremento das visitas era a sua grande preocupação. Tanto assim que nas contas para o ano seguinte até mandou pôr, a seguir a "Desenvolvimento económico e incremento das visitas" -2 milhões de libras. 700 para uma grande festa de 4 em 4 anos. O restante para mais festas.  -E as comodidades e o estacionamento para os visitantes, Vó? Isso depois logo se vê. É muito caro e complicado. Dorme bem, netinho!

3ª Historinha

Era uma vez uma terra pequenita e bonita, com o inverno muito frio e chuvoso, onde quem governava resolveu instalar uns brinquedos para criancinhas, alugados por bom preço à empresa de um compadre. Como não se podia alugar assim, sem mais nem menos, explicaram esses governantes que se tratava de obras de arte, de exemplares únicos, que não podiam ser vistos nem usados noutras terras. E acrescentaram que em Novembro tinha havido a Feira nacional do cavalo, numa localidade ao lado, o que tinha trazido muitos visitantes que encheram a hotelaria local. E como em Dezembro não havia nada previsto, arranjou-se a Feira mágica da parvónia, que é uma atracção nacional. -E vieram muitos visitantes, Vó? -Muitos, netinha. Como não havia estacionamento suficiente, está tudo cheio num santuário um bocado mais longe. É assim. Somos uma família. Quando vêm à Feira nacional do cavalo, dormem aqui. Quando há a Feira mágica, vêm andar nos divertimentos infantis e vão comer e dormir ao santuário. Dorme bem, Netinha!

Fui esclarecedor? Então façam o favor de continuar a pagar os impostos, e a meter o papelinho na urna na devida altura. Com historinhas assim, quem consegue resistir?

2 comentários:

  1. O professor tem jeitinho. Tem mesmo. Já uma vez o aconselhei a escrever um livro. Gostei das 3 historinhas. Inspire-se em dezenas de tomarenses esquecidos, desprezados. Desenterre-os. Vista o fato de mineiro.

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  2. Muito obrigado pelo seu comentário e incitamento a escrever um livro. Não usarei aquela frase feita estafada "Cada um é para o que nasce", mas algo parecido: Cada um é para aquilo que gosta realmente de fazer. No meu caso, o que me move é a hipótese de contribuir para melhorar a situação económica da minha terra. Sem esse objectivo subjacente, pouco consigo escrever. Por conseguinte, escrever um livro, para quê? Mesmo escrevendo textos curtos, os leitores já não são muitos, agora imagine um calhamaço de 400 ou 500 páginas...
    Bom Natal e melhor 2023!

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