Política local
Um relance pela Assembleia municipal
Para alguma coisa serve a infelicidade. Forçado geograficamente a assistir às sessões da Assembleia municipal via internet, fiquei a saber que somos muito poucos a praticar tal desporto, que exige bastante pachorra. Meia hora após o começo, 15H30 em Fortaleza, 18H30 em Tomar, éramos 24 espectadores, segundo o Facebook. Mais tarde, quando fui jantar (19H00 em Fortaleza, 22H00 em Tomar) já só restavam 15 corajosos.
Ou seja, acrescentando talvez outros tantos no youtube e no próprio salão nobre da Cãmara, havia globalmente menos de cem cidadãos a assistir aos trabalhos do parlamento municipal, incluindo os próprios eleitos. O que de certa forma não surpreende, tendo em conta que os próprios titulares do executivo, que agem como se fossem la crème de la crème, foram afinal eleitos por cerca de 20% da população, (7 mil votos, numa população de 36 mil). Uma vergonha comparável ao que acontece da Tunísia, um país árabe.
Escrevem-se estas observações para memória futura, mas também com o intuito de levar as pessoas a pensarem um bocadinho. Até agora, porém, o que se tem obtido é sobretudo aquela amável constatação "-Lá está o gajo outra vez a dizer mal dos tomarenses". Sem querer, quem assim pensa e fala, confirma o milenar dito popular chinês, segundo o qual "Quando o dedo aponta para a lua, os idiotas olham para o dedo."
Indo agora ao anunciado relance pela Assemblei municipal, impõe-se uma primeira constatação. O conjunto dos eleitos não destoa da população que os elegeu, mas o resultado é por vezes algo surpreendente. Até há pouco, antes da eleição de Montenegro, era o PSD local que não fazia oposição, mas apenas um simulacro. E a extrema esquerda local lamentava-se, com toda a razão.
Agora, que os social-democratas se assumem finalmente como oposição com coluna vertebral, criticando e votando contra um orçamento coxo e inadequado, inesperadamente a extrema esquerda falhou. A "esquerda de confiança" falhou. Criticou, como de costume, mas na hora da verdade absteve-se, e o orçamento passou. Coisas da província. Se fosse na capital ou arredores, dava muito nas vistas. Mas em Tomar...
Num parlamento municipal assim, qual a qualidade média de cada força representada? O Chega e o CDS parecem estar bem servidos. Têm apenas um representante cada, mas de qualidade, a julgar pela sua prestação nesta sessão. Outro tanto acontece com o BE e a CDU, que estiveram bem. Contudo, ao absterem-se, saíram mais desacreditados do que tinham entrado. E a sua credibilidade local vai de mal a pior. Questão de prática política, diria o eleito CDU.
A bancada do PSD parece sólida e bem artilhada. João Tenreiro e António Lourenço dos Santos são duas enormes preocupações para os socialistas, bem secundados por um jovem, cujo nome me escapou. Pelo contrário, a bancada PS é fracota. Bem sei que o seu tenor no mandato anterior, o experiente João Simões, deixou de fazer parte. Falta saber se empurrado ou por iniciativa própria. Ainda assim, esperava-se mais, mesmo sabendo que na política ninguém gosta de facto de trabalhar sob a égide de autocratas sem lastro cultural adequado.
Excluindo o presidente da freguesia urbana, homem de trabalho mas que também sabe dizer duas palavras quando é necessário, como demonstrou nesta sessão, ao referir-se ao sítio onde mora, parece sobrar o seu colega da Asseiceira.
Ao dirigir-se aos seus adversários do PSD em tom de repreensão, por causa de pecados cometidos por outros há dez anos, o homem da terra das talhas, que até tem um ar simpático, demonstrou que nem democrata sabe ser, quanto mais agora socialista.
Resta referir as duas senhoras da bancada rosa, que usaram da palavra. Uma delas pareceu-me apavorada com a ideia de ter de haver reclassificação de funcionários camarários, alegando ser muito difícil, sobretudo tratando-se de técnicos superiores. Tiro longe do alvo. O parlamento municipal pode ser chamado a decidir se deve ou não haver reclassificação de funcionários e porquê. Não lhe cabe, todavia, pronunciar-se sobre essa mesma reclassificação.
A outra senhora, ainda com rosto de adolescente, adoptou um tom discursivo que só é aceitável num parlamento municipal como o de Tomar. Estou convencido que em qualquer outro lhe teriam dito, logo após a primeira intervenção, para recalibrar o discurso, pois os deputados municipais são adultos normais e não crianças ou jovens com dificuldades cognitivas.
Ainda há muito caminho a fazer até 2025. Mas a julgar pela tendência...
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