quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Imagem Rádio Hertz (modificada)

Autarquia, população e urbanismo

"Zangam-se as comadres 

descobrem-se as verdades" 

https://radiohertz.pt/tomar-provedor-antonio-alexandre-acusa-camara-de-estar-a-inviabilizar-a-criacao-de-uma-unidade-de-cuidados-continuados/

Ao que consta, a senhora e os seus próximos terão ficado excitados com aquela notícia da especulação imobiliária em Tomar, com o consequente aumento de preços. Devem ter pensado que, sendo assim, já não havia crise  demográfica, tendo os tomarenses abandonado a ideia de emigrar, graças às abundantes benesses da autarquia. Nada mais longe da verdade.

Antes de mais, convém esclarecer que estrangeiros e portugueses procuram coisas diferentes em Tomar. Os compatriotas buscam emprego e condições de alojamento dignas, perto de centro e quanto mais barato melhor. Já os estrangeiros vêm em busca de calma, pacatez e estabilidade social, não querem emprego e pouco lhes importa o preço, porque a diferença de nível de vida com o norte da Europa, torna os nossos preços altos baratos para eles.

Por conseguinte, o afluxo relativo de estrangeiros não vai resolver os problemas económicos de Tomar, nem estancar, ou sequer reduzir, a emigração. Pelo contrário. A partir de certa altura, vai mesmo provocar a saída da população tradicional do centro histórico, por não poderem pagar as rendas, como já acontece nomeadamente em Lisboa ou no Porto. Que fazer então?

Os preços por metro quadrado em Tomar não aumentaram isoladamente, nem sobretudo, por causa do apetite estrangeiro. Resultam do marasmo local, por sua vez provocado pela incapacidade da actual maioria autárquica para controlar alguns funcionários superiores da autarquia, que desde há muitos anos se consideram donos do Município e agem como tal. Exagero meu?

Então expliquem-me lá a utilidade de enfiadas de Planos de pormenor e Unidades de planeamento, que nunca mais estão concluídas, acabando por ser revogadas para dar lugar a outras? Exactamente para que não haja em Tomar aquilo que os investidores procuram - estabilidade, clareza e previsibilidade, na área do urbanismo. A situação é tão grave e tão estranha que, por um lado, durante os últimos dez anos devem ter sido construídos em Tomar menos de 5 prédios de apartamentos, ou seja menos de 50  alojamentos novos, excluindo os destinados pela autarquia a ciganos e outros casos sociais. Por outro lado, no sector comercial e industrial, uma das novas superfícies que se instalou -a BurgerKing- até já teve de recorrer a um "facilitador de negócios" para conseguir ultrapassar a espessa e onerosa burocracia local, o que sendo legítimo, nunca foi bom sinal.

Estava-se nisto, quando rebentou a bomba. "Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades," diz o povo. O provedor da Misericórdia, António Alexandre, conhecido socialista local, que já foi vereador durante dois mandatos, veio a público queixar-se. E desabafou: a Câmara está a inviabilizar um grande investimento da Santa Casa, nas Avessadas, com aquela história dos planos de pormenor e de urbanização que nunca mais acabam, acrescentando que desde o 25 de Abril a Câmara nunca andou bem. E se ele o diz... aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.

(Usar o link inicial para ouvir as declarações de António Alexandre).


1 comentário:

  1. "...em Braga entre 2011 e 2021 a população cresceu 6,5 %..."
    Caderno de Economia do Expresso 9/12/2022

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