sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Vista aérea parcial de Santarém

Tomarenses a nascerem em Santarém 

Manter a tradição...

Começando de modo clássico, ainda sou do tempo em que havia uma grande rivalidade entre Tomar e Santarém. Vinha do século XIX, quando Santarém foi elevada à categoria de cidade , em 1868, para ser capital de distrito, roubando a primazia a Tomar, cidade desde 1844. Lembro-me da organização da Feira do Ribatejo, mais tarde Feira nacional da agricultura, ter vindo a Tomar solicitar um subsídio para colocar a bandeira nabantina entre todas as bandeiras ribatejanas, no pórtico da feira.
O então presidente da Câmara, major Fernando de Oliveira, indagou qual era o montante do subsídio pretendido e já informado exclamou: "-Com esse dinheiro ponho os cegos do concelho todos a tocar pífaro, e ainda me sobram uns tostões." E nesse ano não houve bandeira nabantina à entrada da Feira do Ribatejo. Bons tempos! 
Pensava-se que, mais ano menos ano,  a capital do distrito seria em Tomar, a tal ponto que o engenheiro Vilas Boas e outros, congeminaram nas mesas do café Paraíso a criação de uma nova provínc -a Beira Central- com capital em Tomar, e o Templário, então semanário da oposição possível, feito por Nini Ferreira (Papa-Figo)e Alfredo Maia Pereira (Zé Bumba), até chegou a publicar uma ampla notícia sobre a nova província, com mapa e tudo. Foi o oposto que acabou por acontecer.
Nas sessões de teatro de revista, que então tinham lugar em Tomar, aparecia sempre uma cena em que uma personagem perguntava "O que é que Santarém tem?" e outra figura respondia "Inveja como ninguém!" Mudaram-se os tempos, acabaram-se essas sessões (a última, celebrada na Nabantina já depois do 25 de Abril, está na origem do Fatias de Cá que agora conhecemos), foram-se os anéis e foram-nos cortando as unhas. E sem unhas ninguém  toca viola como deve ser.
Santarém não está bem. Vai mesmo de mal a pior. Como Tomar, que entretanto perdeu quantidade de serviços públicos, com destaque para a comarca, que foi para Santarém, e a maternidade, que foi para Abrantes. 
Agora, com a crise crescente no SNS, descobriram mais uma maravilha à portuguesa: o encerramento escalonado das maternidades e serviços de ginecologia e obtetrícia. Um ultrage para os tomarenses que insistem em manter a tradição, designadamente gastando milhões com festas para promover a cidade. Agora, quando acontece virem a ser pais, com algum azar, se a maternidade de Abrantes estiver encerrada, ainda acabam por ver os filhos nascer na de Santarém. A suprema ofensa a um nabantino à antiga. Ter descendência nascida na outrora inimiga de Tomar. Agora também cidade do bispado, quando antes o bispo nabantino era o próprio Papa.
Ninguém pára o progresso. Mas será isto progresso?

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