sábado, 7 de janeiro de 2023

Turismo e prevenção

A morte do surfista, a prevenção e a informação

 https://radiohertz.pt/nazare-homem-morre-afogado-na-praia-do-norte/

Se calhar, a notícia supra até lhe passou despercebida. Sendo o caso, por favor leia-a antes de prosseguir, pois é essencial para perceber toda a história. Tive a sorte de estar no local adequado, na hora certa. Ontem, ao abrir o computador, apareceu-me logo a notícia de última hora, na página inicial: O surfista brasileiro Márcio Freire, 48 anos, campeão das grandes ondas, morreu em Nazaré - Portugal. Foi trazido para terra numa moto de água, já em paragem cárdio-respiratória. Foram feitas manobras de reanimação por pessoal de uma ambulância do INEM entretanto chamada ao local, porém sem resultado. O corpo foi levado para o serviço médico-legal do Hospital de Leiria.
Reparou na grande diferença entre as duas versões da notícia? Embora na mesma língua, na publicada em Portugal ficaram os leitores sem saber que era um brasileiro campeão, que terá tido uma paragem cardíaca, enquanto praticava o seu desporto. Também foi omitido que o acidentado foi trazido para terra numa moto de água, após o que se aguardou a chegada da ambulância do INEM, para as falhadas manobras de reanimação. Assim estamos, quanto a informação, que neste caso não é da responsabilidade da Rádio Hertz, mas de quem lha forneceu. Sem bons ovos, não é possível fazer boas omeletes.
Vem a propósito referir que, eventualmente, a morte do surfista brasileiro e a notícia deficiente padecem da mesma doença -uma mentalidade que não se recomenda, bem resumida na frase popular "Pró quié bacalhau basta!" 


Nas recentes festas de Ano novo em Fortaleza, na Praia de Iracema, a duzentos metros aqui de casa, a Prefeitura (Câmara) mandou montar dois palcos monumentais na beira-mar, (ver imagem), um no aterro, outro no aterrinho, separados por cerca de quatrocentos metros.
Instalaram também centenas de sanitários químicos, milhares da cadeiras de plástico, tendas de recepção e acreditação de autoridades e convidados, e dois postos avançados médicos, de cem metros quadrados cada um, devidamente equipados e climatizados, com médicos urgentistas e enfermeiros, um destinado aos artistas e convidados, outro para a assistência em geral. Junto a cada um deles havia várias ambulâncias de suporte de vida. Mais abaixo, em plena avenida, vários autotanques dos bombeiros militares, com barcos de motor fora de borda e motos de água.
Tudo isto para duas noites, 30-31 e 31-01, com muitos artistas de renome, muita música e fogo de artifício silencioso (para proteger os autistas e os cães), lançado a partir dos palcos. Na manhã do primeiro dia do ano, ainda com o cheiro de vomitado, começou a remoção das toneladas de detritos de toda a ordem, com destaque para as latinhas em alumínio. Havia dezenas de "garis" (nome popular dos operadores de limpeza urbana), com chapéus de pano que cobrem o pescoço. (Para os autoproclamados defensores dos trabalhadores, que julgam que é sempre a somar, e que a Europa paga tudo, estes operacionais da limpeza urbana, ganham em Fortaleza cerca de 1.400 reais mensais (280 euros ao câmbio actual), por 44 horas semanais.


Na manhã do dia 2 de Janeiro, vieram também os trabalhadores das empresas privadas, que forneceram todo o material, e começaram a gigantesca tarefa da desmontagem. No próximo Carnaval tudo vai recomeçar.
Como bem julgam saber os portugueses básicos, o Brasil é um país do 3º mundo, sobretudo na parte norte e nordeste, onde ficam Fortaleza, Manaus, Natal, S.Luís do Maranhão,  Belém do Pará... e Santarém com 280 mil habitantes, quando a portuguesa, bem mais antiga, tem cerca de 60 mil.
Mesmo nos bairros ricos de qualquer destas grandes cidades, com milhões de habitantes qualquer uma delas, (excepto Santarém), a paisagem urbana é algo desoladora, quando comparada com a Europa. Os passeios das ruas são mal cuidados,  a limpeza deixa a desejar, há postes eléctricos com fios pendurados e transformadores por toda a parte. Mas quanto a prevenção não transigem, como já vimos.
Inversamente, em Tomar, está tudo muito bem arranjadinho, não há postes eléctricos fora do sítio, nem fios eléctricos ou transformadores pendurados, e os passeios são bons, mas quanto a prevenção... Até uma eleita, muito querida do eleitorado, veio garantir que a "prestação de socorro à população nunca esteve em perigo", apesar de as 4 ambulâncias da cidade terem estado avariadas durante uma semana. É a chamada fase pós, quando a verdade é igual à mentira.
Nas duas noites da beira-mar em Fortaleza, estiveram cerca de um milhão de pessoas, metade em cada noite, e foi montada toda aquela parafernália. Na próxima Festa dos Tabuleiros, que dizem trazer a Tomar mais de um milhão de pessoas (o que é obviamente falso, mas nem vale a pena desmentir, porque a mentira vale o mesmo que a verdade, na nova linguagem do poder), não se esqueça de verificar, se puder, quais são os meios de acolhimento e prevenção instalados antes e só para a festa. Com um pouco de sorte, vai ser como no infeliz acidente da Nazaré: quando acontece alguma desgraça chamam-se os bombeiros ou o INEM. É o mesmo 112.



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