Imagem TNR com os agradecimentos de TAD3
Política local
O mundo às avessas
Está-se tornando cada vez mais penoso tentar fazer análise política em Tomar. Mas não tenciono desistir. Um recente texto que se pretendia apaziguante, revelou-se o seu exacto oposto. Um pseudo Templário afirmou, em estilo catedrático, que foi o pior que eu já escrevi. Mas, à cautela, não explicou porquê, com eventuais citações. Pudera! A habilidade não lhe chegou para tanto, pelo que tentou resolver a carência com uma pirueta estilística.
Criou então, sem eventualmente disso se dar conta, uma situação caricata. Escreveu que, se Mário Soares lesse a crónica, ficaria agoniado, e mais não sei quê. O problema é que a criatura nunca conviveu com o fundador do PS, pelo que não pode sequer conjecturar hipoteticamente o que ele diria ou não, após leitura do texto. Má-fé e simples manha de comentador vesgo, uma vez que o autor destas linhas conheceu bem Mário Soares e com ele conviveu, designadamente na Universidade de Paris VIII, nessa altura CUEV, para os conhecedores. O seu a seu dono.
O dito comentário, e outros próximos, revelam que, cada vez mais, os socialistas locais e os seus apoiantes vivem num universo paralelo, ardilosamente urdido por uns poucos, no qual a maioria PS e apoiantes fazem tudo bem e têm sempre razão, enquanto quem deles discorda só pode estar errado, e até algo desiquilibrado. É o mundo às avessas. Os responsáveis são afinal inocentes, e os seus críticos culpados, portanto condenáveis. Já no tempo dos soviéticos assim acontecia, com o internamento dos dissidentes em hospitais psiquiátricos. O que não impediu, antes acelerou, a implosão do regime. Mas os respeitáveis autarcas, e os seus seguidores, são muito jovens, e lêem pouco, para saberem dessas coisas.
Um dos principais indícios da existência desse universo paralelo, ou simples bolha, são as reacções da líder da maioria, que começam a surpreender, mesmo os seus apaniguados, porque "não bate a bota com a perdigota" e a senhora está longe de ser idiota. O caso do açude do Mouchão é paradigmático.
Apareceu agora outro indício desse tal isolamento artificial, tão conveniente. Após uma série de reveses, nomeadamente na área do urbanismo, era urgente arranjar um coelho para tirar da cartola e exibir aos apoiantes, à falta de melhor. E apareceu a ideia genial de um ninho de empresas e um centro de trabalho partilhado, no edifício da antiga esquadra de PSP, na Rua Dr. Sousa. Dois coelhos em vez de um!
Por favor, senhora presidente, deixe-se de brincar com as pessoas, abusando da credulidade delas. A reputação política é como a virgindade. Uma vez perdidas... Quando a senhora se sentou pelo primeira vez no cadeirão da Câmara, já o referido edifício estava devoluto há anos. E só agora, a entrar no décimo ano à cabeça do poder municipal, é que encontrou a ideia luminosa do ninho empresarial e do centro de cotrabalho? Francamente! Há quem pense e aja um pouco mais rapidamente.
Por excelente que possa ser a ideia, peca agora por tardia e extemporânea. Conhecendo-se o usual ritmo de trabalho do pessoal camarário, na melhor das hipóteses o novo empreendimento estará pronto para inaugurar lá para o final de 2026. Se entretanto não tiver o mesmo destino do Plano de pormenor do Vale dos ovos, ou do das Avessadas. A senhora tem a certeza de que o PS vai ganhar as próximas autárquicas, em 2025? E nunca ouviu dizer que "Só se deve vender a pele do urso depois de matar o animal"? Quem lhe garante que os sucessores vão honrar estas suas opções tardias?
Para que anda a anunciar obras para o próximo mandato, se nem sequer pode concorrer? Dá a ideia que o importante nas são as obras, mas os antecedentes. Assim tipo, o importante não são as laranjas, mas o sumo.
Mesmo assim, seria bem mais conveniente, e daria menos nas vistas, preocupar-se com os problemas urgentes da cidade e do concelho, que são numerosos, em vez de perder tempo com alusões mais ou menos educadas à saúde mental de quem tem a coragem, a frontalidade e a sinceridade de criticar a sua sofrível governação. E o facto de ser praticamente o único, não me incomoda absolutamente nada. Já estou habituado. Conforme o provérbio, "Mais vale só que mal acompanhado."
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