A divagar se vai longe (Não é uma notícia)
TOMAR - Um concelho exemplar
Ia eu ali pela ampla beira-mar, já na zona do Meireles, frente ao edifício Jacqueline, o mais antigo da avenida, quando fui interpelado. -Que andas tu aqui a fazer ?! Olhei o rosto sorridente, de olhos em bico, e reconheci-o logo. Era o meu velho amigo oriental, dos tempos da emigração em Paris, Já Li Tant de seu nome. Um reputado engenheiro vietnamita da École Centrale, com longa passagem por Macau, onde aprendeu português, e agora aposentado mas activo.
-Ainda bem que apareces por mero acaso, porque tencionava ir procurar-te um dia destes. Estava só a ganhar alento. Tenho lido com alguma regularidade o teu Tomar a dianteira 3 e desculpa lá, mas não concordo contigo minimamente.
Ao contrário daquilo que escreves com frequência, Tomar, a tua adorada terra, está mesmo "no rumo certo". Compreendo que não te convenha, porque tens outra maneira de ver as coisas, mas é a pura verdade. Estou até aqui no Brasil por causa disso.
As universidades de Cantão (China), Madrasta (Índia) e Fortaleza (Brasil) celebraram há pouco um convénio, tendo por objectivo o estudo científico do reducionismo. -Que é isso? perguntei eu. -Por enquanto parece ser a única resposta eficaz contra os grandes males que apoquentam a humanidade. A poluição, o excesso de população, a falta de água, o aquecimento global, e por aí adiante. De forma que nos chamou a atenção o exemplo tomarense, que vai ser o nosso primeiro estudo de caso.
-Tomar vai ser um estudo de caso, pilotado por três grandes universidades internacionais? Mas porquê?
-Como decerto reparaste, trata-se de universidades de países muito povoados, nos quais a grande ambição deixou de ser o crescimento, para passar a ser o reducionismo. Quanto menos melhor, eis o nosso lema.
E no "quanto menos melhor", no reducionismo, Tomar vem dando cartas. Em menos de 50 anos, os tomarenses conseguiram acabar com 4 fábricas de papel, 1 fábrica de fiação, vários bancos, uma média empresa de aglomerados, uma sociedade de transformação de resinas, um grande colégio, um hospital militar, um quartel general, uma comarca, um parque de campismo, 5 grandes oficinas de conhecidas marcas de automóveis, várias instalações sanitárias, centenas de lugares de estacionamento e até -supremo êxito- conseguiram reduzir a população em quatro mil pessoas numa década, o que corresponde a menos 10% . Menos 1% ao ano, é obra!
Tudo isso sem conflitos sociais, sem dramas, sem grandes debates e sem confrontos ideológicos. Como se fosse a coisa mais natural deste mundo. E continuam no rumo certo, agora com os sucessivos aumentos do preço da água. Quanto mais cara menos consumo, e logo menos efluentes e menos poluição. Como no turismo. Quanto menos facilidades e menos estacionamento, menos visitantes de fraca qualidade, e portanto menos problemas e menos reivindicações de gente que nem vota em Tomar.
Entretanto houve, é certo, um considerável aumento de funcionários municipais, acrescentou ele, o que, se por um lado tem provocado aumento da burocracia, bem como o concomitante êxodo da população, e portanto reducionismo, por outro lado, coloca o problema dos vencimentos no fim do mês. -Mas isso por enquanto não é problema, visto que a Europa paga tudo. Ou pelo menos, vocês estão convencidos disso. E provavelmente nunca terão formulado a pergunta básica: Se a Europa paga tudo, quem é que lhe fornece os recursos para isso? Não são os países membros?
Neste complexo mundo em que vivemos, ninguém dá nada a ninguém sem contrapartidas. Eu, se fosse funcionário público municipal, não estaria nada sossegado. Quando implodiram, a ideia dominante nos países do Leste europeu também era que "o Estado paga tudo". Viu-se.
-Depois mando-te um mail. E lá se foi todo alegre, a beber uma água de coco, com ar maroto. Confesso que, horas mais tarde, ainda estava a matutar no assunto. Nunca tinha visto as coisas nabantinas e outras sob esse prisma. Aprender até morrer.
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