Aumentos da água
A Tejo Ambiente e o Camões
O título pode surpreender, mas faça favor de continuar a ler. É conhecido o soneto de Camões, que começa por "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". Mas sabe o resto? Pois então vamos lá reler o soneto na íntegra, que a cultura nunca fez mal a ninguém:
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Todo o o mundo é composto de mudança
Tomando sempre novas qualidades
Continuamente vemos novidades
Diferentes em tudo da esperança
Do mal ficam as mágoas na lembrança
E do bem, se algum houve, as saudades
O tempo cobre o chão de verde manto
Que já coberto foi de neve fria
E em mim converte em choro o doce canto
E afora este mudar-se cada dia
Outra mudança faz de mor espanto
Que não se muda já como soía"
Luís Vaz de Camões
Que tem isto a ver com a Tejo Ambiente? Então não se está mesmo a ver? "E afora este mudar-se cada dia/Outra mudança faz de mor espanto/ Que não se muda já como soía. Quer dizer "como era costume." E o costume é que, quando havia mudança de gestão ou de tarifário, mudava também a qualidade do serviço. O que deixou de acontecer, tendo passado a ocorrer o contrário. Os SMAS mudaram para a Tejo Ambiente, mas a eficácia não tem melhorado. Pelo contrário.
Com os sucessivos aumentos do tarifário, a qualidade do serviço vai piorando. De tal forma que, a cada novo aumento corresponde um incremento das roturas e dos cortes de abastecimento. É a tal "mudança de mor espanto" de que fala Camões. Porque será? No meu entender, só pode ser por causa dos materiais, ou da água. Os funcionários e os administradores, sobretudo estes, estão fora de causa. São os melhores e nunca falham.
Convém por isso que, na próxima sessão da Assembleia Municipal, quando debaterem e eventualmente aprovarem (???) o novo tarifário, os senhores eleitos municipais tenham esse aspecto em conta, sobretudo na altura de votar. Na Tejo ambiente, e por aí, o problema só pode ser ou dos materiais, da água ... ou dos consumidores. (-Dos consumidores?!?!? -Sim. dos consumidores. Ou nunca ouviu falar dos alegados elevados roubos de água da rede?) Os funcionários e os administradores são todos impecáveis. Nunca erram e nunca têm dúvidas. Por isso é que, "Não se muda já como soía", conforme escreveu Camões. Porque nesta nova era pós 74, aqui em Tomar pelo menos, quanto mais mudamos, mais estamos na mesma, ou pior. E a água continua a perder-se, e os preços a aumentarem.
"Do mal ficam as mágoas na lembrança/E do bem, se algum houve, as saudades."
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