sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Abrantes - Câmara municipal

Economia política

As balelas e outras asneiras 

que vão afundando Tomar

Pouco lida a crónica anterior, como já esperava. Francamente mal na fotografia, os negacionistas locais acham que o melhor é não olhar para ela. Feitios. Que há afinal de tão repelente no dito texto?  Apenas uma tentativa de descrição daquilo que o autor pensa ser a realidade. Em resumo, num rol de cinco localidades, situadas numa faixa com pouco mais de 50 quilómetros de largura, há três que vêm crescendo bastante desde 1976 (Alcobaça, Batalha, Caldas Rainha) e duas outras que definham a olhos vistos (Abrantes e Tomar). 
Embora convenha aos instalados que a triste situação passe o mais despercebida possível, a gritante crise aí está, a chamar cada vez mais a atenção. Desde as primeiras eleições autárquicas, em 1976, Alcobaça passou de 35.252 eleitores inscritos, para 48.583, em 2022. Durante o mesmo período, a Batalha saltou de apenas 8.312 eleitores inscritos para 13.984. O mesmo caminho das Caldas da Rainha, que cresceu de 28.506 eleitores inscritos em 1976, para 45.213, em 2023.
Aspecto nada agradável para a maioria autárquica nabantina, estes três concelhos têm sido governados por maiorias PSD, desde 1976, excepto Batalha e Caldas, liderados por independentes desde 2021. Perante isto e sem argumentos consistentes, quando confrontados com a assustadora situação abrantina e nabantina, têm o descaramento de dizer que é por estarem no interior, e os outros na faixa costeira. Quando pelo IC9 se chega de Tomar à praia da Nazaré em menos de 45 minutos, querem-me explicar onde acaba no interior a tal faixa costeira? Badajoz, por exemplo, com mais de 100 mil habitantes, a 6 quilómetros para lá de Elvas, com apenas 19 mil, também está na faixa costeira. De que costa?
Com ou sem argumentos tontos,  Abrantes e Tomar continuam a afundar-se, e de que maneira. Em 1976, Abrantes era a a cidade mais populosa do norte do distrito, com 35.886 eleitores inscritos, logo seguida por Tomar com 32.438. Em 2022, Abrantes é a última, com apenas 31.508, seguida de perto por Tomar, com 33.705. Entretanto Ourém, também governada pelo PSD, e que era a última em 1976, alcançou o primeiro lugar, com 40.778 eleitores inscritos. São factos. Não simples balelas.
Azar dos azares para a excelente maioria socialista tomarense, Abrantes tem sido gerido pelo PS desde 1976, com uma única interrupção PSD entre 1989/93, quando o eleitorado até cresceu (ver tabela na crónica anterior). Quanto a Tomar, a triste realidade é bem conhecida, embora alguns façam todos os esforços para a ignorar ou maquilhar. O PS governa desde 2013, e os eleitores inscritos baixaram de 37.310 para 33.705. Porque terá sido? Quando nos concelhos governados pelo PSD a população cresce, diminuindo nos geridos pelo PS, porque será? As pessoas não gostam de boa governação? Ou serão os eleitos em questão que não sabem governar, e nem isso querem admitir?
Comparando Abrantes com Tomar, avancei a hipótese de os nabantinos não estarem ainda pior que em Abrantes devido ao turismo. É com efeito óbvio que Tomar é uma cidade de turismo, sobretudo graças ao Convento de Cristo, enquanto Abrantes terá de procurar outros eixos de desenvolvimento, porque no turismo não têm grandes hipóteses, com ou sem museu ibérico.
Para fundamentar essa hipótese, buscou-se uma maneira de mostrar graficamente que há mesmo uma grande diferença entre Abrantes e Tomar na área turística. Temos é certo o método clássico do centro de interesse, que consiste em perguntar porque se vai a tal terra. Exemplos: Vai-se à Nazaré para quê? Pela praia e pelo Sítio. Vai-se a Santarém para quê? Para ir às Portas do Sol, ou para ver as corridas de toiros. Vai-se a Coimbra para quê? Para ir à Universidade e à Quinta das Lágrimas. Vai-se a Tomar para quê? Para visitar o Convento e ver a Janela do capítulo. Vai-se a Abrantes para quê? Boa pergunta.
Desfazendo eventuais dúvidas que restem, a capacidade hoteleira instalada aí está, para mostrar as coisas como elas são. Porque se trata de capital privado que, ou cria valor acrescentado, ou vai à falência e fecha. Na consulta ao site mundial de reservas hoteleiras BOOKING.com obtiveram-se os seguintes resultados, quanto a unidades hoteleiras disponíveis na altura da consulta: Alcobaça 34, Batalha 15, Caldas 18,  Fátima 54, Abrantes 17 e Tomar 47.
Perceberam agora onde é que está o busilis da questão? Aceitam finalmente que Tomar só está a definhar por não haver quem saiba gerir capazmente o turismo local, e dele sacar mais valor acrescentado? Ou preferem insistir nas balelas do costume, enquanto a cidade e o concelho se vão afundando? Milagres era em Fátima, no século passado. Agora há que trabalhar com saber e eficácia.
Conforme pergunta o economista e analista político Sérgio Martins, na sua mais recente crónica, "O que será da excelência do Hotel Vila Galé, em Tomar, quando o hotel estiver cercado pela Feira de Santa Iria e por eventos turísticos sem qualidade?"


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