sábado, 14 de janeiro de 2023

Acessibilidades - Trânsito na cidade

A maldição das rotundas

https://radiohertz.pt/tomar-houve-mais-um-acidente-na-ratoeira-criada-no-cruzamento-das-avenidas-d-nuno-alvares-pereira-com-a-luis-bonet/

Começa-se por Paris. Não para exibição, ou por vaidade. Apenas porque o pessoal nabantino pouco sai da cova, e quando o faz pouco vê, porque nunca aprendeu a ver. Desculpem se sou injusto, (há naturalmente bastantes excepções), mas é assim que vejo a situação. Se acham que estou enganado, estas colunas estão à disposição para publicar a vossa prosa, desde que educada e legível. Ou preferem o verso, como o Camões?
Começando então por Paris, a Place de l'Étoile tem uma rotunda, no centro da qual está o Arco do Triunfo. (ver imagem). Para entrar ou sair da Praça ao volante de um veículo, há 12 vias de acesso, algumas de quatro vias. Apesar disso, muito raramente se ouve falar que houve "um toque" entre dois veículos na Étoile.
Em Tomar, apesar do pouco trânsito, quando comparado com Paris, é praticamente o inverso (ver link supra). Não há nenhuma praça ou cruzamento com 6 acessos, quanto mais agora com 12, como na Étoile. O que não obsta a acidentes e enrascanços de vária ordem, tipo 3º mundo pouco evoluído, com manias de modernidade. Como escreveu Fernando Pessoa, "a nossa crise provém essencialmente de um excesso de civilização dos incivilizáveis".
No cruzamento da ARAL houve obras ornamentais recentes, mas os cérebros municipais arranjaram uma narrativa hábil para não se fazer uma rotunda de apenas 4 acessos. Ao que se diz, os representantes de uma velha família tomarense opõem-se à cedência de uma tira de terreno, alegando o valor patrimonial do mesmo, que é praticamente nulo. E vamos continuar a ter acidentes, é verdade que de pouca monta.
No lado oposto da cidade, na Várzea pequena, apesar de não haver falta de espaço nem alguém a opor-se à cedência de terrenos, temos uma micro-rotunda, com 3 acessos apenas. Aquilo é ridículo, fazendo rir quem nos visita e entende algo de urbanismo, além de incómodo. Um camião articulado que venha da Rua de Leiria, simplesmente não consegue fazer a curva para a Estrada do Prado. Durante anos, os camiões carregados de papelão usado para a Fábrica do Prado, que vinham do lado de Carregueiros, seguiam até à rotunda da Ponte Nova, e daí refaziam o trajecto até à Estrada do Prado. Foi você que pensou em poluição escusada? Pois nunca ninguém deu por nada, e a micro-rotunda lá continua. 
Quem vem da Estrada de Paialvo, e quer ir para o parque de estacionamento, pela Rua do Pé da Costa, tem de apontar bem. Caso contrário, ou vai parar ao Convento ou à rotunda da Ponte Nova. Há apenas 4 acessos e 5 saídas possíveis, mas como não são em cruz, desorientaram os projectistas. Quem não conheça a cidade, ou conduza um autocarro, vê-se aflito com aquilo que lá está. Porque será que não fizeram uma rotunda? Para proteger o património? Para não irritar o Infante D. Henrique, que não sabe porque ali está, uma vez que nunca foi guarda florestal?
Na Rua de Coimbra, a inépcia brada aos céus. Houve obras milionárias há pouco tempo, mas decerto devido à tal maldição das rotundas, faltam pelo menos duas, nos cruzamentos imediatamente antes e logo a seguir à Praça de Toiros, como quem vai para Coimbra. Porquê? Falta de espaço? Falta de verbas? Falta de habilidade prática?
Com tais carências, bem patentes desde há anos, a Câmara vai-se entretendo com obras para enfeitar, e a Assembleia Municipal vai reunir no próximo dia 20, na Linhaceira, para debater a "Estratégia 2020/2030 para Tomar". Em 2023, criaturas que nem sabem sequer se vão continuar no poder após 2025, vão discutir estratégia até 2030. Sem documentação de apoio, e apenas com uma intervenção prévia do executivo de 20 minutos, após o que cada eleito terá 5 minutos + a grelha de tempos do costume.
Felizmente, ou infelizmente, dependerá dos pontos de vista, o ridículo não mata. É o que nos vai valendo. Se assim não fora, o parlamento municipal já estaria seriamente desfalcado.


1 comentário:

  1. Pois, isso é o problema de muitas cidades com matriz medieval e que não têm um anel exterior
    No caso de Tomar, é preciso ver que o centro da cidade já não é na zona velha, ou mesmo Alameda.. atualmente o geóide (o centro) já está no inicio da estrada da Serra e irá continuar a deslocar-se em direção às Avessadas, apesar de em termos de equipamentos públicos (praças, parques, etc) a cidade não acompanhar essa mudança
    Como diz, as rotundas, vias, sentidos são os mesmos desde.. que nos lembramos
    Estacionar e circular no centro "antigo" se já era difícil mais ficará - a tendência para a mobilidade suave vai acentuar-se , e não havendo boas acessibilidades.. o comércio tradicional, mercado, feiras etc vão continuar a definhar (terão que se focar no turismo) e não é só na margem direita, vai alastrando

    Coimbra noutra escala aconteceu-lhe parecido, foi obrigada a crescer em direção a sul/rio, também está completamente diferente do que era há 30 anos

    Para ter real noção do problema só com estudos de tráfego, inquéritos - é preciso saber o que as pessoas fazem, a procura, a oferta (a capacidade real dos parques/avenças, etc) a demografia (o concelho tem 40k, mas os habitantes na zona urbana serão menos de 10k)

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