sábado, 14 de janeiro de 2023





Cartaz da Festa dos tabuleiros

Cada vez estamos pior

https://tomarnarede.pt/cultura/ai-esta-o-cartaz-da-festa-dos-tabuleiros/
https://radiohertz.pt/tomar-esta-apresentada-a-identidade-visual-da-festa-dos-tabuleiros-2023-e-ate-os-novos-tut-sao-veiculo-promocional-c-video/

Acaba de ser apresentado o cartaz da Festa dos tabuleiros, edição 2023, na Casa Vieira Guimarães, sede da comissão organizadora. Tendo antes assumido livremente o compromisso de não polemicar sobre a Festa grande até 11 de Julho, não vou dizer o que penso sobre a qualidade, a estética ou a autoria do referido cartaz. Não posso contudo deixar de lembrar como as coisas se passavam antes do 25 de Abril. Quando não havia eleições livres. Mas já havia gente honrada. Salazar foi um tirano. Mas após 48 anos de poder absoluto, morreu pobre.
Nessa altura, em que os autarcas não eram eleitos, mas indicados pelo governo, havia uma Comissão municipal de turismo,  presidida por um vereador. Em Janeiro do ano em que se realizava a festa, a Comissão de Turismo publicava na imprensa local e nacional um edital, anunciando a realização de um concurso público para a elaboração do respectivo cartaz. Especificavam-se as condições, e revelava-se o montante do prémio a atribuir ao primeiro classificado. Das duas vezes em que assisti, havia cerca de dez propostas numeradas a concurso, com os nomes dos autores em envelopes lacrados, tendo cada um o número do respectivo cartaz, a abrir só depois de feita a selecção, para evitar escolha por compadrio. No tempo da ditadura.
Lembro-me de ter assistido a pelo menos duas reuniões do júri, liderado pelo presidente da Comissão de Turismo, porque na altura era funcionário municipal. Em ambas houve debate acalorado entre os vários participantes, apesar de estarmos então num regime autoritário, sem eleições livres, nem partidos políticos. Mas como estavam em causa dinheiros públicos, tudo era feito de acordo com as normas muito rígidas da época. 
Sete décadas mais tarde,  só pode chocar que, num evento de grande envergadura, custeado quase integralmente pela autarquia, se tenha encomendado o cartaz sem qualquer concurso público, ou outra forma de escolha prévia, equitativa e escrutinável. Estamos de novo no tempo da monarquia absoluta, quando bastava o despacho "É vontade de sua majestade. Faça-se."?
Após a escolha do mordomo por braço no ar e aclamação, e agora do cartaz porque sim, tudo parece indicar que, se ainda não se chegou a tanto, tão pouco  vamos na boa direcção. Ou seja, estamos cada vez pior em termos de procedimentos justos e transparentes, quando estão em causa dinheiros públicos. Porque será?
As boas almas do costume, vão talvez alegar que não há nada de mal em simplificar o processo. Não duvido, mas o que me preocupa é que estavam presentes vários dirigentes eleitos locais, entre os quais a srª presidente da Câmara e o sr. provedor da Santa casa, sendo que a nenhum deles pareceu estranho gastar assim dinheiros públicos, sem concurso prévio nem ajuste directo transparente. Lembrei-me então que a Festa dos Tabuleiros se realiza "para promover Tomar e cumprir a tradição". Infelizmente, no que se refere ao cartaz, "a tradição já não é o que era".  Como clamava a saudosa Ivone Silva, que era ali de Ferreira: -Isto é que vai uma crise!!!

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