sábado, 28 de janeiro de 2023


Cultura e património

TOMAR A PATRIMÓNIO MUNDIAL? 

PARA QUÊ?

O conceituado economista e mestre em estratégia Sérgio Martins, além de cidadão de fino trato e muita cultura, tem o extraordinário mérito de andar há décadas a malhar no ferro frio nabantino, o que denota um ânimo fora do comum, que aqui se saúda.
Desta vez resolveu dissertar sobre TOMAR  A PATRIMÓNIO MUNDIAL. Está n'O TEMPLÁRIO de 26 /1/2023, página 6. Os seus argumentos são sólidos, conquanto demasiado optimistas, e alguns até excessivamente entusiásticos. Esquecem no entanto o que está para trás, e que aqui se relembra. Em 1983, seguindo as indicações recebidas, elaborou-se e apresentou-se uma candidatura geminada Tomar / Convento de Cristo.
O ICOMOS, e depois a própria UNESCO, acabaram por aprovar unicamente a do Convento de Cristo, alegando que era quanto bastava para promover Tomar. E realmente a nossa imagem turística poderia bem ser "CONVENTO DE TOMAR - PORTUGAL - PATRIMÓNIO DA HUMANIDADDE", ou ainda "Convento de Cristo - Tomar - Portugal -Património da Humanidade". Mas quê?! Sabichões locais na matéria optaram por "Tomar cidade templária" Eles lá saberão porquê e com que intenções.
Não me oponho, mas tão pouco apoio a proposta de Sérgio Martins, simplesmente porque me parece anacrónica e supérflua. Anacrónica porque esse tempo das candidaturas já lá vai. Sei do que falo, porque perdi umas noites a fazer a candidatura aprovada em 1983, que até hoje ninguém me agradeceu, nem é preciso que o venham a fazer, pois não trabalhei com essa intenção. Basta-me estar bem com a minha consciência.
Supérflua também porque, uma vez aprovada, teríamos o quê como imagem? Tomar- Património da Humanidade e Convento de Cristo - Tomar - Património da Humanidade? Um bocado confuso, ou não?
O que faz falta a Tomar nesta altura, digo eu, não é mais um título internacional, por muito prestígio que tenha, mas uma estratégia desenvolvimentista, nomeadamente na área do turismo.
Infelizmente, 40 anos após a autorga pela UNESCO do título de Património da Humanidade, o Convento de Cristo no seu todo está bastante melhor na área da conservação e restauro, mas uma desgraça na área da gestão turística, quando até existe no IPT uma licenciatura nessa área. 
Antes de 1983, todas as visitas eram gratuitas e guiadas. Agora, custam 6 euros por pessoa e para ter um guia de competência muito variável,  só requerendo com dias de antecedência. Isto para não falar da falta de sinalética, de acessos capazes, de estacionamento e de instalações sanitárias. Ou de horários de função pública, inadequados para o turismo. E falta uma ligação rápida não poluente Convento-cidade-Convento. Tudo isto perante o alheamento total da Câmara. Até parece que o Convento não faz parte da cidade e do concelho.
Em conclusão, obrigado Sérgio Martins por continuar a batalhar, mas desta vez parece-me que visou um alvo já ultrapassado.


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