terça-feira, 3 de janeiro de 2023

 

Organização administrativa

A nova NUT II 

Lezíria do Tejo - Médio Tejo - Oeste

Os políticos portugueses, sobretudo os autarcas, gostam muito de brincar às divisões territoriais. Como se fossem um sucedâneo do infantil jogo de "brincar às casinhas". Ultimamente tem sido um fartote, com a separação de freguesias que, mesmo juntas, não se justificavam em termos populacionais. Mas em Portugal tudo é possível nessa área, enquanto durarem os fundos de Bruxelas. Depois, logo se vê, que os recursos nacionais são escassos para tanta brincadeira.
O sucesso mais recente ocorreu porém num nível bastante superior -o das CIM- Comunidades Inter Municipais. A Assembleia da República aprovou de uma assentada a agregação de três CIM (Lezíria do Tejo, Médio Tejo e Oeste) e a desagregação da Península de Setúbal da Região de Lisboa. Por enquanto, agregação 1, desagregação 1. Um empate. Até quando? Logo veremos.
Triunfalista como sempre, a representação tomarense vai decerto apresentar a nova entidade como um imenso sucesso. Temo que estejam enganados, e passo a explicar porquê. A separação entre o velho Ribatejo e o novo Médio Tejo, genericamente entre Santarém e Tomar, era uma velha aspiração das populações mais preparadas do norte do distrito. Santarém sempre foi um empecilho tipo eucalipto, que seca tudo à sua volta. Tem 60 mil habitantes, quando os outros municípios da Leziria não conseguem ter nem metade, cada um deles.
Já no Médio Tejo, não sendo a maravilha apregoada, há maior equilíbrio demográfico, com Ourém a encabeçar  (45 mil habitantes), seguindo-se Tomar (39 mil), Abrantes (34 mil) e Torres Novas (33 mil). O grande problema é a acentuada perda de população, com destaque para Abrantes e Tomar, escapando apenas Ourém.
A CIM Oeste, que agora se junta à Lezíria e ao Médio Tejo, é outra gente e outra coisa. Em termos populacionais têm quatro cidades (Alcobaça, Alenquer, Caldas e Torres Vedras) com mais de 50 mil habitantes cada, o que contrasta fortemente com as novas parceiras. Assim, Tomar que até agora era, em termos populacionais, a 2ª do Médio Tejo e a 3ª contando com a Lezíria, passa agora para o 7º lugar na nova entidade, o que não é pouca coisa. O suposto protagonismo da representação tomarense vai estar seriamente em causa. Das 6 cidades com mais população que Tomar (e nestas coisas tem mais peso quem tem mais população),  3 são lideradas pela PSD (Alcobaça, Ourém e Santarém) e uma (Caldas da Raínha) por independentes, com o PSD em 2º.
Se ao que antecede juntarmos dois modos de vida diferentes, com o Oeste a produzir riqueza e pagar impostos, enquanto a Lezíria e o Médio Tejo pagam impostos, mas comparativamente  produzem pouca riqueza, porque a sua população é cada vez mais de funcionários públicos e de idosos, temos um quadro complexo e algo sombrio. Oxalá a nova agregação dure muitos anos, mas não acredito. Como diz o povo, são 7 galos (pelo menos) na mesma capoeira e dificilmente haverá galinhas que aguentem. Quanto a uma galinha nabantina na liderança, também pode vir a acontecer, mas é assaz problemático.
Olhando à volta da nova entidade regional, temos a CIM de Leiria, a CIM de Coimbra, a CIM da Beira Baixa e a CIM do Alto Alentejo. Esta nova agregação é de quê? Da antiga Estremadura do século XVIII? Quanto mais mudamos, mais vamos ficando na mesma. Triste sina.

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