sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Política na cova nabantina

A rainha morta

É um dos grandes problemas dos países e das terras em que a cultura geral é pouca. Quando se usam ou citam referenciais, muitos leitores ignoram do que se trata. Foi o que sucedeu com a ilustração da crónica de ontem. Vários leitores ficaram confusos, e tiveram a amabilidade de perguntar o que é aquilo.

Trata-se de uma representação do beija-mão à raínha morta, em pleno mosteiro de Alcobaça, onde está o seu túmulo. Na sequência do casamento com Dª Mécia Lourenço, D. Pedro, primogénito de D. Afonso IV, apaixonou-se por Dª Inês de Castro, uma fidalga galega do séquito de Dª Mécia. D. Afonso IV cedo se manifestou contra essa paixão do filho, porque Dª Inês era de uma poderosa família galega, os Castro, muito perigosa para a monarquia portuguesa.

A ligação ilegítima durou anos e deu descendência. D. Afonso IV nunca conseguiu demover o filho e herdeiro, pelo que mandou matar Dª Inês, o que aconteceu na agora quinta das Lágrimas, em Coimbra. Quando sucedeu ao pai, como D. Pedro I, o justiceiro, o amante de Dª Inês mandou procurar os assassinos, entretanto refugiados em Espanha, e fez justiça pelas próprias mãos, de forma bárbara.

Os restos mortais de Dª Inês foram trasladados de Coimbra para Alcobaça, numa gigantesca procissão à luz de archotes. Já no mosteiro, Dª Inês foi sentada no trono e coroada rainha. Depois, o rei ordenou que todos os nobres da corte viessem beijar a mão da sua rainha. Foi uma cena que deu brado por essa Europa fora. De tal forma que, séculos mais tarde, em 1942 o dramaturgo francês Henry de Montherland escreveu uma peça de teatro intitulada La reine morte, que veio a subir à cena na prestigiada Comédie Française.

A ilustração de ontem  estabelece um paralelismo com a presente situação nabantina. Também agora temos uma rainha morta, mas só politicamente, (e ainda bem), como mostra à saciedade o cada vez maior protagonismo do pretendente Cristóvão. Já conscientes de que o longo reinado agora a aproximar-se inevitavelmente do fim, não vai deixar grande obra, nem grandes saudades, os seus defensores são poucos e cada vez menos. Mesmo alguns que têm comido à custa, já se vão afastando.

De tal forma que até a arte de sacudir a água do capote começa a falhar. Até há pouco, o PS nabantino conseguia andar à chuva praticamente sem se molhar. Passava por entre os pingos da dita, pensavam os camaradas. Como o António Costa. Vai-se a ver, assim que o PSD resolveu fechar o usual chapéu de chuva protector, tem sido cada molha que mete dó.

Fora do inner circle nabantino, praticamente só um ferrenho resiste. Largamente beneficiado com concessões e ajustes directos, compreende-se que esteja interessado em prolongar o maná. Sabe-se lá o que virá a seguir. Por isso, vai escrevendo comentários de apoio directo ou indirecto à maioria rosa, uns mais conseguidos que outros, mas todos no estilo lambe-botas, antigamente conhecido por "engraxador". É dele a frase "Grande trabalho socialista", que dispensa comentários.

Foi isso que se pretendeu denunciar na crónica anterior. Não por ser ilegal, mas apenas muito peculiar no presente contexto tomarense. Olhando com atenção, a rainha da ilustração está com os olhos fechados, dado ser já cadáver. Felizmente, a actual continua de boa saúde e com eles bem abertos, mas mesmo assim não consegue ver tudo, que é como quem diz entender tudo. É pena.

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