sábado, 1 de outubro de 2022

Cortejo dos Tabuleiros

NÃO HAVIA NECESSIDADE !!!

"Casais gays não entram no cortejo da Festa dos Tabuleiros", titulou o nosso estimado colega Tomar na rede. Difundia assim a decisão tomada pela "Comissão da festa", liderada por Mário Formiga, e dava início a mais uma querela nabâncio-nabantina. Veio logo um usual comentador, sob pseudónimo, (ou será comentadora?) garantir que a Festa grande tomarense "religiosa é que não é".

Porque se fosse, continua o mesmo, "seria uma festa de partilha e de integração", pelo que os casais gays poderiam participar. E podem, realmente. Sempre puderam. Nunca se ouviu falar de testes prévios para apurar o sexo, ou as inclinações sentimentais de cada qual, nem se acredita que vão começar agora. Só não convém mesmo nada que haja homens vestidos de mulher, ou vice-versa. Para não abandalhar a festa, que não é de carnaval.

Por conseguinte, homos, lésbicas, mistos, ciganos, africanos, asiáticos, índios americanos e companhia, todas as minorias residentes no concelho, cabem e podem perfeitamente desfilar no grande cortejo tomarense, desde que não sejam coxos, nem marrecos, nem manetas, nem demasiado obesos, e publicamente formem um par -um rapaz e uma rapariga, ou um homem e uma mulher. 

Ninguém lhes irá perguntar se dormem juntos, ou com quem passam as noites. Salvando as aparências, tudo está salvo, pelo que a tomada de posição da comissão era perfeitamente escusada. Não havia necessidade!!! diria o diácono Remédios. Mas tratou-se, tudo indica, de responder atempadamente à provocação artística que foi aquele tabuleiro mal enjorcado, exposto na montra da casa Vieira Guimarães, a vitrine oficial dos Tabuleiros, cuja comissão está sediada no primeiro piso.

Tudo bem portanto, com a Festa dos tabuleiros, edição de 2023? Nem tanto! Com os custos a aumentar cada vez mais, vai sendo tempo de debater novas formas de organização, naturalmente respeitando o essencial da tradição, antes que a autarquia atinja o limite. Tarefa para o próximo mandato. Outro aspeto a rever, é o próprio desfile do cortejo, tanto quanto ao percurso como ao total de tabuleiros. Em 2019 e anos anteriores, deu pena ver dezenas e dezenas de autocarros de turistas, abandonando a cidade quando o cortejo ainda desfilava nas ruas. Uma lástima. Visitantes que muito dificilmente voltarão a Tomar, para ver os tabuleiros. Publicidade negativa.

Para o próximo ano, o mordomo já informou que só aceitam um máximo de 600 tabuleiros. Mesmo assim é um exagero, tendo em conta a necessidade imperiosa de reduzir o tempo de desfile do cortejo, de quatro para duas horas e meia. Nesta altura, sendo a festa paga pelo orçamento camarário, tudo aponta no sentido de se fixar antes um limite máximo de pares por freguesia. Até para ficar mais barato. e encurtar o cortejo. Mais pequeno, leva menos tempo a percorrer o mesmo percurso.

Sendo onze, o ideal aponta para 40 tabuleiros por freguesia, podendo cada uma delas ceder depois, ou receber, lugares de outras freguesias, como compensação. Teremos assim um máximo de 440 tabuleiros a desfilar, total ideal para contentar toda a gente, excepto os aproveitadores da festa. No cortejo de 1950, que inaugurou a atual fase João dos Santos Simões, desfilaram 400 tabuleiros, num percurso bem mais pequeno, (só existia a Ponte velha) e não houve querelas nem queixas. Mas nessa altura o ambiente também era outro. Muitos tabuleiros tinham sido oferecidos pelos tomarenses, as portadoras eram operárias da Fábrica de Fiação, do próprio João dos Santos Simões, e os seus pares para a ocasião soldados do RI 15.

Só muitos anos depois é que a Câmara se transformou em patroa de fato do acontecimento. Sobretudo desde a vinda das verbas de Bruxelas... Saia mais um evento para entreter o pagode e angariar votos!

Dizia-se em tempos idos, no século passado, quando ainda havia alguma agricultura, que era a arte de empobrecer alegremente. Desde então, os tabuleiros vêm desempenhando em Tomar esse mesmo papel. Mas como a Câmara é que vai pagando, e o pessoal não enxerga que somos afinal todos pagantes, (menos os do Flecheiro e pouco mais) a festança continua nos mesmos moldes. Até quando?

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