quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O sagrado e o profano

A excomunhão e a moção de censura

O episódio é do primeiro quartel do século passado, mas pode vir a repetir-se, com outro objeto e outras personagens. Vale por isso a pena relembrar.

Durante a primeira República (1910-1933), eram as Misericórdias as responsáveis pelas igrejas católicas. Em Tomar, o provedor da santa casa foi a dada altura informado que havia cenas menos dignas na igreja paroquial de S. João Batista. Sossegou o informador, assegurando que ia providenciar, como era sua obrigação, e foi investigar.

Ao cabo de várias visitas à igreja, acabou por entrar na sacristia e não encontrou o padre. Chamou por ele e a resposta veio da instalação sanitária, ainda com sanita turca. Perante as circunstâncias, convencido de que o prior estava mesmo fechado com uma paroquiana (na altura ainda não se falava de homossexuais, e muito menos de pedofilia), instou o sacerdote com alguma violência verbal: -Abra já a porta, senhor prior, senão eu arrombo-a! -Se o senhor provedor arrombar a porta, eu excomungo-o! respondeu o clérigo.

Ato continuo, o provedor deu um pontapé na velha porta, que ficou escancarada, vendo-se ao fundo o padre agachado, na sanita turca. Desferiu então o provedor: -Agora excomungue-me lá, para ver como é que eu fico!

Um século mais tarde, temos de novo em Tomar uma situação semelhante, naturalmente com outras personagens e outro objeto. Os eleitos do PSD desconfiam que Anabela Freitas não quer cumprir o determinado por duas moções aprovadas na AM, em 2021 e 2022, que impõem uma auditoria externa às contas da Tejo Ambiente. Assim, convocaram uma conferência de imprensa, durante a qual deram à senhora presidente da Câmara um prazo até ao fim do ano, para promover a referida auditoria. Caso o não faça, ameaçam com uma moção de censura ao executivo municipal, lá para Janeiro ou Fevereiro.

Tendo em conta comportamentos políticos anteriores de Anabela Freitas, caso a prometida moção de censura venha a ser aprovada, já estou a ouvir a senhora clamar em voz alta: -Então agora censurem-me lá, para ver como é que eu fico!

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